Sons da Perifa https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre cultura periférica, a voz da periferia Mon, 13 Dec 2021 15:07:17 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Eliane Dias cria festival Boogie Week e expande atuação da marca com os filhos https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/30/eliane-dias-cria-festival-boogie-week-e-expande-atuacao-da-marca-com-os-filhos/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/30/eliane-dias-cria-festival-boogie-week-e-expande-atuacao-da-marca-com-os-filhos/#respond Tue, 30 Nov 2021 20:41:39 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/Eliane-Dias_-Boogie-Week-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=846 Visão de passado e futuro soa em muitos casos, para quem é negro, como uma incógnita –o apagamento da história afro e a baixa perspectiva de vida motivam isso. Pensando em mudar este cenário, o selo Boogie Naipe, que comanda a carreira do grupo de rap Racionais MC’s, criou a Boogie Week, festival programado para 2 a 5 de dezembro. 

A frente da programação, que será online, está a advogada e empresária Eliane Dias. Ao lado de seus dois filhos, Kaire Jorge e Domenica Dias, ela propõe mudanças no cenário dos grandes festivais  atuais. “Frequentei grandes eventos dentro e fora do Brasil, gratuitos e pagos, e vi que sempre faltava alguma coisa da cultura preta. Foi aí que eu juntei tudo o que eu não via e coloquei na Boogie Week”, afirma a empresária.

Dias ainda conta que o evento não será apenas de música, mas deve valorizar a cultura negra em diversos setores. “Tem que ter culinária preta, escritores pretos, cineastas negros… Tudo o que imaginarmos que tiver pessoas pretas trabalhando vamos tentar incluir.”

Outra frente do evento é dar visibilidade e oportunidade para mulheres negras. “Eu sou uma mulher preta, então desde o começo eu pensei em equidade de gênero para essa semana de cultura preta. Priorizamos ter mais mulheres profissionais que homens na equipe. Fazer esse equilíbrio de gênero é espontâneo para mim”.

Eliane Dias ao lado dos filhos Kaire Jorge e Domenica Dias (Foto: Jef Delgado/ Divulgação)

Este movimento de estar atento para incluir mulheres negras na folha de pagamento é fundamental. Segundo o Relatório Especial de Empreendedorismo Feminino no Brasil, do SEBRAE, 48% dos Microempreendedores Individuais (MEI) no Brasil são mulheres.

Porém, quando observamos os números fazendo o recorte racial, entendemos que mulheres negras estão a um abismo de oportunidades das mulheres brancas. Um desses dados mostra que somente 35% das mulheres brancas empreendem por necessidade, enquanto 51% das mulheres negras têm seu empreendimento como única renda familiar. Além disso, apenas 21% das mulheres negras são registradas com CNPJ.

Para Dias, o mercado de empreendedorismo para mulheres negras é quase impossível. “Empreendemos porque não temos outra opção. Na periferia, por exemplo, vejo mulheres abrindo um negócio, e quando pega firme o companheiro vai e toma dela”.

Ainda sobre mercado de trabalho, a empresária comenta sobre assédio e violência que muitas mulheres enfrentam. “A mulher não é como um homem que só trabalha e não tem outras obrigações em casa. Ela trabalha, cuida dos filhos, cuida da casa, cuida do pai e da mãe que são mais velhos, trabalha menstruada, enfrenta assédio e assim por diante”. 

Por outro lado, Eliane Dias mantém seu cargo à frente da Boogie Naipe, marca que surgiu em 2009 com Mano Brown, e que ao longo dos últimos 12 anos se tornou referência no mercado musical. “A empresa nasceu para cuidar única e especificamente da carreira de um dos artistas, Mano Brown, e que foi se expandindo de acordo com as necessidades. Temos editora, produzimos clipes, agenciamos shows, temos marcas de roupas, nós fazemos tudo. Chega de aceitar a coisa ‘mais ou menos’. Se podemos fazer melhor, então vamos lá e fazemos”.

Parte dos seus companheiros de trabalho são seus dois filhos, o que, para ela, é uma vantagem. “O bom de trabalhar com amigos e familiares é que eu posso confiar. Posso pegar o meu cartão do banco e dar na mão do meu filho ou da minha filha”, diz. Mas, segundo a empresária, nem tudo são flores. “A desvantagem é que às vezes a gente está tomando café e está trabalhando. E às vezes o bicho pega aqui viu? A gente briga e sai na discussão. Somos todos pessoas fortes. Eu não gosto de discutir com o Jorge nem com a Domênica, mas com o Pedro Paulo [Mano Brown] tudo bem.”

 

Boogie Week
2 a 5 de dezembro
Grátis no YouTube da Boogie Naipe

 

Programação completa

Quinta-feira (2)
Com apresentação de Aretha Sadick:
Anelis Assumpção
Performance de Kaê Guajajara
On! HUB & Samba rock cultural
Negres: o visual é ancestral, com Hanayrá Negreiro e Roger Ramos
Cia Crespos apresentando: Dois garotos que se afastaram demais do sol
NOSSO AJEUM: tabuleiros de partilha e resistência, com Sueide Kintê e Edson Leite
Encerramento com show Leci Brandão

 

Sexta-feira (3)
Com apresentação de Magá Moura:
Lys Ventura
Batekoo
Ela é Tech, Ela é Pop, Ela é Digital com Sil Bahia e Dandara Pagu
Áfricamente: o que sei me cura com João Marques e Chavoso da USP
Stand Up Comedy com Jacy Lima
Encerramento com show de Rico Dalasam

Sábado (4)
Com apresentação de Nataly Nery se apresentam:
DJ Marky
Jonathan Ferr
Larissa Luz
MC Dricka

Domingo (5)
Com apresentação de RAP Falando se apresentam:
DJ SET com Erick Jay
Budah
Performance de Afrobapho
Show de Yunk Vino + Duquesa + Danzo
Duelo de MC’s Especial com Winnit (SP) + Bixarte (PB) + Kaemy (GO) + Alice Gorete (AL) + Black (BA) + Vinícius ZN (PE) + Douglas Din (MG) + Big Mike (SP), apresentação de Max Bo e do DJ Tayan com júri de Clara Lima e Mamuti.
Encerramento

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O rap ainda é uma competição injusta para músicos nordestinos, afirma Don L https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/o-rap-ainda-e-uma-competicao-injusta-para-musicos-nordestinos-afirma-don-l/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/o-rap-ainda-e-uma-competicao-injusta-para-musicos-nordestinos-afirma-don-l/#respond Fri, 26 Nov 2021 14:19:38 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/WhatsApp-Image-2021-11-25-at-20.46.02-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=830 Há dez anos, Gabriel Linhares da Rocha, nome de batismo do rapper Don L, reunia dinheiro e motivação para ir a São Paulo, deixando para trás Fortaleza, sua terra natal. A trajetória dessa jornada é o pano de fundo do seu novo disco “Roteiro para Aïnouz, Vol.2”, segundo da trilogia anunciada pelo cantor, que foi lançado na madrugada desta sexta (26) nas plataformas de streaming de música. Nele o cantor narra as estradas em que percorreu e imagina novos caminhos para o futuro Brasil.   

Diferente do disco anterior onde o músico de 39 anos expressa a decepção ao chegar na capital paulistana, desta vez, Don L usa os acontecimentos durante seu trajeto de 3000 quilômetros entre as duas cidades como metáfora de morte e renascimento. “Quando falo de um bandido do século dezoito e a corrida do ouro, na faixa Vila Rica, o cenário pós-apocalíptico de quando morrem os grandes sonhos e a vida acaba se torna uma guerra particular. A morte, e então o renascimento, a reconstrução deles a partir das cinzas da destruição do colonialismo, esse fracasso civilizatório que permeia nossas vidas por todos os lados.” afirma o cantor.

Outro tema sempre presente nas músicas de Don L é a desigualdade feita em sua visão pela indústria do rap, que prestigia menos os músicos do nordeste do país em comparação com o cenário do mesmo ritmo no sudeste —mas confessa ter visto mudanças. “Acho que contribuí para um progresso nesse sentido, de tornar possível rappers do nordeste se colocarem como competitivos na cena nacional. Mas continua sendo uma competição injusta, desigual. A mudança real tem a ver com estruturas muito mais profundas, com projeto de país e nossa diversidade cultural. E, no momento, o que existe é o desmonte do que já era frágil”.

Don L durante gravação de clipe para seu novo álbum ‘Roteiro pra Aïnouz, vol. 2’ ( Foto: Bel Gandolfo/ Divulgação)

O disco que tem assinatura artística de André Maleronka, mesmo dos últimos três trabalhos do cantor, traz diversas participações como Tasha e Tracie, Djonga e Alt Niss e faz o cantor se unir a cena mais nova do rap. “Nesse disco eu tento propor novos caminhos a partir de elementos que essa nova escola traz”.

Don L ainda afirma que uma das propostas do disco é conversar com a geração que o tem como inspiração, e que isso o tem incentivado a estar atento a outros ritmos derivados do rap. “Sempre bebo da água dos clássicos da música brasileira e do hip-hop mundial. Vou do funk, trap e drill aos clássicos do samba”.

Outro destaque é a capa do álbum —que virou até filtro no Instagram— teve projeto gráfico de Filipe Fillipo e fotografia de Autumm Sonnichesen. A obra faz uma releitura do disco “The Chronic” do rapper Dr Dree e mistura referências de discos dos selos americanos Strata-East e Black Jazz.  

Esse enredo criado por Don L e sua equipe foi pensado em parte como uma obra cinematográfica. “O tema do disco faz referência ao diretor de cinema cearense Karim Aïnouz. A opção de fazer uma trilogia reversa tem a ver com minha trajetória, de ter demorado a ser reconhecido na cena musical brasileira. Tenho uma longa história para contar e ressignificar o passado para aí sim construir um caminho novo para um futuro que valha a pena a luta”.

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Nego Bala: A música é a única liberdade quando se está preso https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/24/nego-bala-quando-se-esta-preso-a-unica-liberdade-e-a-musica/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/24/nego-bala-quando-se-esta-preso-a-unica-liberdade-e-a-musica/#respond Wed, 24 Nov 2021 15:00:14 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/1637600465619bccd1b19be_1637600465_1x1_lg-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=814 Um provérbio africano diz: “nunca se esquecem as lições aprendidas na dor”. Foi com esse cruel sentimento que Marcelo Abdinego Justino Genero, nome de origem do funkeiro Nego Bala, aprendeu a conviver.

O músico foi criado pelo pai, que era ambulante, e sua mãe, dependente química. Ele cresceu na Boca do Lixo, como é popularmente conhecida uma região na Luz, área central de São Paulo, e passou pela Fundação Casa ainda na adolescência

Este episódio da vida do músico, hoje com 23 anos, é o que inspira seu álbum de estreia, lançado nesta quarta-feira, 24. em formato audiovisual. Intitulado “Da Boca do Lixo”, o disco é composto por nove faixas.

A obra é um breve resumo da vivência do cantor, que foi um garoto da Cracolândia, viveu intensamente a rua e acabou seguindo por caminhos mais próximos, como o crime. “Usei a arte como válvula de escape. Escrevendo, compondo e cantando”, afirma o MC.

Além do disco, um curta-metragem com voz da cantora Elza Soares, revisita os dias que o MC esteve privado da liberdade. Idealizado pela AKQA\Coala.LAB e produzido pela Stink Films —mesma produtora de Bluesman, do rapper Baco Exu do Blues, vencedor de um Grand Prix na categoria “Entertainment for Music” do Cannes Lions— o filme está disponível no canal de YouTube do Nego Bala.

“Ter a Elza é uma responsa muito grande por se tratar de uma artista completa. Ela cantando uma poesia que escrevi quando era menor, com toda atenção e carinho do mundo, foi emocionante. Eu ainda estou processando toda essa história, espero ter chegado à altura do que ela representa”, conta o funkeiro que tem a companhia da cantora também na música “Sonho”, presente em seu novo disco.

O curta de aproximadamente dez minutos de duração, dirigido por Douglas R. Bernardt, apresenta a passagem de Nego Bala pelo centro de detenção para jovens como ponto de partida de uma trajetória por novas possibilidades para além daqueles muros. “A gravação foi um flash de várias emoções e um misto de aprendizado monstro pelo qual passei”, afirma o MC.

O enredo do vídeo exibe a vasta capacidade da dança e da música de se conectar a ancestralidade do povo negro e ligar o passado com o presente. Conexão que é presente na vida de Nego Bala desde a infância. “O Rap estava no meu dia a dia sempre. Ouvia Sabotage, Racionais MCs, Consciência Humana, De Menos Crime, Facção Central e SNJ. Viver no centro histórico de São Paulo é conviver com a música.”

Nego Bala em cena do curta-metragem da música ‘Sonho’, que gravou com Elza Soares (Foto: Larissa Zaidan/Divulgação)

Por outro lado, o cantor afirma que não teve pessoas próximas que o inspirasse na carreira de músico. “Na Cracolândia, minha quebrada, eu não via muito MC’s. Na verdade, nenhum. Isso me motivou bastante também em levar o nome do Centro pro mundo, mostrar que temos voz”, diz o músico.

Esse desejo foi a motivação que teve quando ainda era interno. Nego Bala afirma que sempre foi seu sonho lançar um disco quando estivesse em liberdade. Essa meta foi fundamental para que ele se mantivesse em equilíbrio, mas também serviu de inspiração para seus parceiros de detenção.

“Quando você está preso, a única coisa que você tem para se libertar é a música”, afirma. Ele acrescenta: “boa parte do que escrevi privado da liberdade está no álbum. A atmosfera rítmica da cadeia tá toda no disco também. A música está soando como eu queria ouvir. Espero que as pessoas gostem do trabalho que fizemos”.

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Tuyo, banda curitibana indicada ao Grammy, encanta por fugir do lugar comum https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/18/tuyo-banda-curitibana-indicada-ao-grammy-encanta-por-fugir-do-lugar-comum/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/18/tuyo-banda-curitibana-indicada-ao-grammy-encanta-por-fugir-do-lugar-comum/#respond Thu, 18 Nov 2021 20:12:22 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/TUYO-CAPA-BY-VITORAUGUSTO-_-@VTORAUGSTO-2-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=797 Criar fora do lugar comum —ou do que se espera de um artista— parece ser um clichê. Mas, na verdade, não é. E principalmente quando se trata de músicos pretos. A banda Tuyo mistura folk futurista com músicas brasileiras, entre outros sons. Por andar fora da curva, foi um dos artistas indicados ao prêmio Grammy Latino de 2021, que acontece nesta quinta-feira, dia 18, em Las Vegas. Os músicos foram indicados na categoria de melhor álbum de pop contemporâneo em língua portuguesa.

Imagem de divulgação do disco ‘Chegamos Sozinho em Casa’ (Foto: Vitor Augusto)

Original de Curitiba, Tuyo é formada pelas irmãs e cantoras Lay e Lio, e pelo cantor Machado. Eles dividem palcos e fãs há quase dez anos e agora assistem a seus trabalhos serem elogiados por artistas renomados—como Lucas Fresno e Emicida— e à consolidação do trabalho do trio na indicação para o Grammy. 

A indicação em uma categoria com nome de artistas com uma longa estrada mostra o quão longe a banda chegou. Lio lembra que cantores como Fernanda Takai, Nando Reis, Vitor Kley, Duda Beat e Anavitória foram nomeados na mesma categoria. Para ela, estar ao lado de artistas com carreiras robustas na premiação é uma conquista.

Além dos fãs estrelados, a banda vem acumulando uma legião de seguidores que vem acompanhando de perto a trajetória do grupo. “A gente percebe que nossos fãs comemoram com a gente cada conquista. Isso é um fruto alcançado por conseguirmos dialogar com os nossos iguais. Eu sinto que as pessoas se sentem indicadas também naquele prêmio”, afirma Machado.

Manter um diálogo sempre foi a principal preocupação dos músicos. Lio comenta também que nunca quiseram ser tachadas como uma banda de nicho. “Sempre tivemos o cuidado para não sermos apenas uma banda experimental que toca para um certo grupo de jovens, ou em festivais específicos. Sinto que estamos sendo observados por veículos dentro e fora do Brasil e isso mostra que, no fim, conseguimos conversar com qualquer pessoa”, afirma a cantora.

Ainda sobre o Grammy, Machado comenta que a indicação para o prêmio de música latino-americano serve como um diploma. “Eu sempre quis me formar, ter o papel, sabe? Essa indicação para mim serve para isso.”

A banda aposta na diversidade musical e não se encaixa em apenas um ritmo. Lay comenta que, quando era mais nova, via as diferenças musicais no estilo das pessoas. “Antigamente tinha o pessoal do punk, do samba, do sertanejo entre outros. Hoje existe uma linha muito tênue entre os ritmos: o samba e o sertanejo, por exemplo, muitas vezes se misturam. A fronteiras entre os ritmos estão se dissolvendo, muito por conta da internet. A Tuyo é mais uma banda que consegue transitar por diversos gêneros”, analisa.

Lay ainda comenta que os temas presentes nas músicas são resultado de muita conversa entre o trio. “Geralmente começamos com um papo sobre como foi o dia, alguma fofoca e, de repente, entramos em algum assunto muito complexo sobre a vida. Como se a mente começasse a derreter.” 

A infância religiosa dos três ajudou na maneira como meditar e refletir sobre a vida. “Quando éramos pequenos, nós íamos para um lugar rodeados de pessoas cujo objetivo era falar com uma pessoa dentro da nossa cabeça, chamada Jesus. Este ser acolhia qualquer pensamento que tínhamos, bons ou ruins”, comenta Lio. Para ela,  a prática da oração é como uma meditação em que você pode confessar qualquer coisa —das vontades de morrer às alegrias proibidas.

Segundo Lay, esse exercício mental —e inevitável já que foi ensinado que Jesus enxerga e está em todos os lugares— é o que ajudou individualmente o grupo a pensar e até viajar ao escrever os versos de suas canções. 

A pausa nas apresentações presenciais durante os dias mais críticos na pandemia foi um período difícil para a banda. O disco “Chegamos Sozinho em Casa” foi produzido e gravado em 2019. A banda pretendia fazer uma turnê do álbum em 2020, mas, por conta da pandemia, não foi possível. “Fizemos esse disco pensando nos shows, no contato com as pessoas e fomos barrados por esse trágico apocalipse”, comenta Lay.

No último dia 28 de outubro, na Black Prince House, em São Paulo, a banda fez seu primeiro show permitido pelo Plano SP, que permitiu a reabertura dos espetáculos presenciais na capital. “Nesse show eu só consegui pensar o quanto se perdeu para se ter esse momento”, conta a cantora. 

Com o caminho aberto para mais apresentações presenciais e preparando uma série documental sobre o grupo, Tuyo segue encantando fãs de outros gêneros com músicas cheias de papos filosóficos e sentimentos sem encaixar seus versos em um mesmo ritmo.

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Fernando Holiday é o próximo entrevistado de Mano Brown em seu podcast https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/09/29/fernando-holiday-e-o-proximo-entrevistado-de-mano-brown-em-seu-podcast/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/09/29/fernando-holiday-e-o-proximo-entrevistado-de-mano-brown-em-seu-podcast/#respond Wed, 29 Sep 2021 15:11:04 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/WhatsApp-Image-2021-09-29-at-12.06.06-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=742 Após cinco episódios do podcast de entrevistas “Mano a Mano“, mediado por Mano Brown, líder do grupo de rap Racionais MC’s, chegou a vez do vereador Fernando Holiday, do Novo-SP, ser entrevistado. O episódio considerado “repleto de divergências” pela assessoria do cantor vai ao ar nesta quinta-feira, dia 30.

Vale lembrar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, já passou pelo programa em uma entrevista de duas horas e três minutos. O foco da entrevista com Lula foi apresentar o futuro candidato para a presidência em 2022 aos eleitores mais jovens.

Foi lembrado também durante a conversa com Lula o episódio em 2018, durante as eleições majoritárias, em que Brown discursou durante um evento do PT, no Rio de Janeiro, e foi criticado por parte da esquerda na época.

Ao todo serão 16 episódios, lançados semanalmente, disponíveis todas as quintas gratuitamente na plataforma do  Spotify.

Lançado no dia 26 de agosto, o programa tem surpreendido pela variedade de entrevistados com temas e posições políticas diferentes. Além de Lula e Fernando Holiday, já foram entrevistados por Brown a cantora e ex-BBB Karol Conká, o médico oncologista Drauzio Varela, ex-jogadores do Santos e o pastor Henrique Vieira.

 

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Lula é o próximo convidado do ‘Mano a Mano’, podcast do Mano Brown https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/09/08/lula-e-o-proximo-convidado-do-mano-a-mano-podcast-do-mano-brown/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/09/08/lula-e-o-proximo-convidado-do-mano-a-mano-podcast-do-mano-brown/#respond Wed, 08 Sep 2021 19:23:57 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/E-yO2fbWQAUy6d8-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=702 O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, é o próximo convidado do podcast “Mano a Mano” mediado por Mano Brown, líder do grupo Racionais MCs. O programa vai ao ar nesta quinta-feira, dia 9, a meia-noite.

Lançado no dia 26 de agosto, o programa tem surpreendido pela variedade de entrevistados com temas e posições políticas diferentes. Além do Lula, provável candidato as eleições majoritárias de 2022, já foram entrevistados por Brown a cantora e ex-BBB Karol Conká e o médico oncologista Drauzio Varela.

Nomes como o pastor Henrique Vieira, o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo e o político Fernando Holiday também foram anunciados como próximos convidados.

Ao todo serão 16 episódios semanais divulgados toda quinta-feira no Spotify.

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No mês da mulher negra, cinco artistas pretas para você conhecer https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/07/31/no-mes-da-mulher-negra-cinco-artistas-pretas-para-voce-conhecer/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/07/31/no-mes-da-mulher-negra-cinco-artistas-pretas-para-voce-conhecer/#respond Sat, 31 Jul 2021 18:10:33 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/WhatsApp-Image-2021-07-31-at-14.19.36-e1627752082978-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=675 Falar das alegrias em ser uma artista negra não pode ser a exceção, tem que ser a regra. Para finalizar o mês da Mulher Negra Latino-Americana reunimos cinco depoimentos de cantoras negras sobre seus trabalhos, inspirações, vivencias e como suas obras impactam na cultura preta brasileira.

Na lista, a cantora Indy Naíse comenta sobre a valorização do afeto da mulher preta e sua autoestima, já a artista Bruna Black fala sobre as compositoras negras na música.

Yasmin Olí lembra do prazer de trabalhar com uma equipe só de mulheres,  a MC Taya fala da importância que as tendências de moda feitas por mulheres pretas tem no mundo. Finalizando os depoimentos, a cantora Nina Oliveira lembra de Dandara, uma guerreira no período colonial brasileiro, e como ela acredita que toda mulher preta se sente um pouco representada por ela. Confira a seguir os depoimentos.

A cantora Indy Naíse (Foto: Vitor Manon)

Indy Naíse
Meu último trabalho, o EP visual “Esse é sobre você”, fala sobre afeto entre pessoas pretas, não só na perspectiva do romantismo, faço uma reflexão sobre os relacionamentos afetivos entre duas pessoas. Além disso, celebro a autossuficiência e a autoestima das mulheres negras. Principalmente porque nós crescemos com lacunas que não são preenchidas por conta do racismo. Então, quando trago isso é para nos olharmos enquanto mulheres pretas e nos valorizarmos. Antes de estarmos com outra pessoa, precisamos estar bem com nós mesmas. Quis trazer esse tema, para que as mulheres pretas soubessem que elas precisam estar bem com elas mesmas antes de qualquer outra coisa. Elas precisam ser o seu próprio alicerce, ser sua maior segurança e sua maior fonte de afeto.

 

Bruna Black durante show com o duo ÀVUÀ (Foto: Sergio Fernandes)

Bruna Black
Eu costumo celebrar em alguns trabalhos a existência das mulheres negras, principalmente como compositoras. É nítido o apagamento e a desvalorização das mulheres no meio musical. Basta ver os festivais! Observo que na maioria das vezes, mulheres só entram em evidência em meses temáticos, e como compositoras é ainda mais difícil. 

Antigamente, nosso espaço na música se resumia somente ao microfone –o que não é pouca coisa, já que antigamente que ser cantora não era visto como profissão, muito pelo contrário, ainda era sinônimo de vadiagem.

De uns tempos para cá, viemos nos libertando, alcançando visibilidade, e não só na figura de intérprete. E falando de mulher preta: não somos apenas “a cara do samba”. 

Podemos compor sobre nossas vivências, dores, amores, paqueras, sobre rebolar, ou seja, lá o que for. Gênero não rebaixa a potência de nenhuma obra. Celebro com a minha arte todas as mulheres negras que expressam sua verdade,  sentimento, dom e trabalho através de suas composições.

A cantora Yasmin Olí (Foto: Bruno Fragma)

Yasmin Olí
Recentemente tive o prazer de fazer alguns trabalhos com uma equipe majoritariamente feminina. O que mais me marcou, foi tocar num trio elétrico acompanhando o grupo “As Baías“, com uma banda repleta de mulheres negras –Pensa num time bonito!

É sempre incrível encontrar pretinhas nos meus trabalhos. Faço questão de garantir a presença de mulheres pretas nas minhas obras, pois mesmo com alguns avanços, sei o quanto o mercado nos deixa de escanteio. Penso que celebrar nossa existência, fazemos isso quando homenageamos, reconhecemos e apoiamos mulheres negras. Um simples gesto de ouvir e amplificar vozes de pessoas pretas, ajuda. Temos muito a dizer.

A cantora MC Taya (Foto: Divulgação )

MC Taya
Em tudo o que eu me envolvo é para enaltecer as outras mulheres, dar acesso às informações e empoderar as mulheres negras. Seja música, comunicação ou moda eu intercalo e junto tudo no meu trabalho. Meu single “Preta Patrícia”,  eu considero como a minha maior obra, ela enaltecendo a mulher negra e esse novo movimento de mulheres negras “as pretas patrícias” sendo a nova geração de ascensão das mulheres negras. E quando falo de ascensão, vem também a questão material, financeira e intelectual como o acesso à faculdade, a cargos melhores de trabalho, à informação e à ascensão estética. Isso se refere a estarmos nos cuidando da forma que somos naturalmente: nossos cabelos, pele, o tom da nossa pele, os nossos traços. Precisamos estar cada vez mais confortável com nossos fenótipos negros. 

Procuro em meus trabalhos na internet dar acesso e informar as mulheres negras sobre a origem das coisas que outras mulheres negras popularizam até virarem tendências. Elementos estéticos que mulheres negras popularizaram ou criaram e agora são inspiram o mundo. Mesmo que tenham passado pela marginalização e  criminalização essas tendencias de moda vestem mulheres de todas as raças.

Basicamente esse é meu trabalho, construir um legado na moda, na música e tirar a mulher negra de dentro de caixas e coloca-las aonde elas quiserem e, a partir disso, mostrar para elas que é possível.

A cantora Nina Oliveira em apresentação no Sofar Sounds São Paulo (Foto: Divulgação)

Nina Oliveira
De todos os meus lançamentos, Dandara é a música que mais celebra a existência de mulheres pretas. Lancei essa música em 2017, e fico muito feliz com tudo o que ela carrega: A importância de reavivar a memória da existência de Dandara, mas também o retrato que essa música faz de nossa força e sensibilidade. Penso que toda mulher preta é um pouco Dandara em algum lugar.

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Funkeiro mais ouvido do país, MC Don Juan fala da fórmula da liderança e dos quase 10 anos de carreira https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/28/funkeiro-mais-ouvido-mc-don-juan-fala-da-formula-da-lideranca-preconceito-e-os-quase-10-anos-de-carreira/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/28/funkeiro-mais-ouvido-mc-don-juan-fala-da-formula-da-lideranca-preconceito-e-os-quase-10-anos-de-carreira/#respond Mon, 28 Jun 2021 17:13:17 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/11790da535b566c8530c18baf1a2af34dab74a813579960a4aab78dd57341268_60be494ac5f23-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=659 Um romântico, mulherengo, libertino, plebeu e incrivelmente sedutor. Este foi Don Juan, personagem da literatura espanhola que seduzia as novinhas da realeza e era perseguido e criticado pelos conservadores religiosos.

Séculos depois, agora no Brasil, Don Juan é chamado de rei da putaria e o seu lema é, “Oh novinha eu quero te ver contente, não abandona o…”. Impossível não completar mentalmente este trecho da letra, caso você tenha sido apenas um jovem em 2016.

Cria da Cheba, comunidade do extremo sul de São Paulo, MC Don Juan tinha apenas 15 anos quando divulgou “Oh Novinha”, um dos seus maiores hits— hoje com 86 milhões de visualizações no YouTube e outras 44 milhões no Spotify. Números que levaram Matheus Wallace, ou Don Juan, a ser um dos embaixadores do funk em outros ritmos como sertanejo e o brega. 

Prestes a completar 10 anos de carreira, mesmo com apenas 20 anos de idade, ele viu o seu trabalho, do funk proibidão ao funk light, sempre presente no mainstream. Ele diz: “Quando me lancei no mercado, foi no funk putaria. Na época, eu tinha que cantar aquilo para dar certo, era o que as pessoas queriam ouvir”. 

Bailes, funk light e as grandes mudanças do movimento cultural que mais cresce no Brasil– e que ele foi um dos grandes responsáveis– foram alguns dos temas que conversei com o funkeiro. Dica: Ouça a playlist enquanto lê.

 

Como surgiu o Don Juan?
Quando comecei minha carreira, meu nome artístico era MC Menor, mas, na época, tinha muito moleque com nomes parecidos com esse. Aí em uma resenha com meus amigos um deles perguntou “por que você não usa MC Don Juan?”. Achei legal, era diferente. E foi o nome que me colocou no cenário do funk e que me deu fama até hoje.

E isso foi quando?
Me lancei no funk aos 12 anos de idade, na comunidade Cheba, em Interlagos, onde eu morava com a minha família. Minha primeira música foi “Le Lalaue Lalaia”, em 2014. Não foi um estouro, mas bateu forte na minha quebrada. 

Em 2017, acertei a música que foi meu divisor de águas. “Oh Novinha” foi mágico, tocou no Brasil inteiro, um sonho realizado. Liguei a televisão e vi minha música sendo tema da novela na Globo. Tá ligado? Aquela novela em que a Juliana Paz participava, “A força do Querer”. Daí em diante foi muito trabalho.

Muita coisa na sua carreira mudou nesses 10 anos, inclusive os estilos que você tem se envolvido.
Minha maior paixão na música sempre foi o funk, mas música é música. Ouço de tudo, muito rap, sertanejo e pop. Quando me lancei no mercado, foi no funk putaria. Na época, eu tinha que cantar aquilo para dar certo, era o que as pessoas queriam ouvir.

Tinha muita vontade de arriscar e cantar outros estilos. Com certeza, hoje com uma carreira sólida e bem construída, minha vontade é de me jogar e fazer músicas novas de estilos diferentes, me tira da zona de conforto. Conectar o funk com outros estilos é daora, isso cria um ritmo novo e quebra barreiras. Entendo a importância de levar a minha voz a outros estilos. E cada vez mais longe e para mais pessoas.

Pensa em mudar completamente de ritmo?
Eu nunca vou perder a minha essência, o funk me deu tudo e nunca vou abandonar esse estilo. Meu público vem das quebradas e eu sempre vou honrá-los. Hoje em dia, nosso movimento cresceu muito, nossa música conversa com todo tipo de pessoa. Conseguimos fazer músicas com palavrões e fazer as versões lights para rádios e TVs. 

Estamos evoluindo dia após dia, a música está evoluindo. Isso é muito legal porque você vê minhas músicas tocando em festas de crianças, colégios, famílias ouvindo e fazendo coreografia no TikTok e vê a rapaziada da quebrada curtindo igual. Música é energia e a galera se identifica porque a gente é de verdade.

Qual o papel do funk na sociedade?
Um papel fundamental. Funk é um movimento foda, é cultura, é linguagem, uma forma de expressão, é dança, é alegria, é festa. Hoje, se você entrar numa quebrada, a maioria das crianças quer ser MC. Eles querem viver de arte assim como, durante muitos anos, o sonho de toda criança era ser jogador de futebol.

O funk é esperança, é sonho. Ele é um movimento de extrema importância para o país hoje. Funk gera emprego, movimenta economia e salva vidas. Hoje o menor vê que é possível viver de música. Apesar de todas as dificuldades que esse país nos coloca, muitos vão conseguir realizar esse sonho por meio do funk.

O preconceito com o ritmo ainda é um problema para você?
Isso sempre existiu, mas eu sou exemplo que o funk está gigante e só vai crescer e evoluir. Essa evolução já está acontecendo e as barreiras estão sendo superadas. Quem diria que a música mais ouvida do país seria um funk? Estamos derrubando esse preconceito pouco a pouco, dia após dia. Até porque funk é o Brasil, a voz das quebradas e uma forma de expressão, não tem como invalidar essa cultura. Funk é vida.

Como foi o amadurecimento do Don Juan de 12 anos e o de 20?
Nasci na Cheba e morei por muitos anos lá com a minha família. Depois de muito trabalho, consegui comprar uma casa em Interlagos, na região da represa, para morar com minha família. Hoje estou em uma nova fase da minha vida, mais amadurecido, morando sozinho na Mooca. Deus é bom demais.

Qual a fórmula para sempre estar entre as primeiras posições no Spotify?
Hoje sou o funkeiro mais ouvido no Spotify no Brasil. Batemos mais de 9 milhões de ouvintes mensais. Trabalho desde os 12 anos com muito esforço, são noves anos de trampo pra chegar nisso. Eu sou um sonhador, sempre vou trabalhar pra me superar. Não imaginava alcançar esse número, isso só me faz trabalhar mais, escrever mais, e criar mais músicas.

Me manter nessa posição é o mais difícil. Tenho que trabalhar muito para manter a liderança. Tenho duas músicas no top 5 das mais ouvidas no Brasil: “Bipolar”, em parceria com MC Davi e MC Pedrinho  e que está a duas semanas seguidas no top 1 Brasil, e “Liberdade”, com Alok, que se mantém em quinto lugar no top Brasil, apesar de ter sido lançada há cinco meses, continuamos em alta.

Como funciona seu processo de criação?
Eu tenho facilidade para escrever, as palavras fluem de boa. É difícil de explicar esse processo, mas quando eu escuto a batida, abro meu bloco de notas e as palavras já vem surgindo. Só preciso definir a melodia e a levada que vou seguir, ou o tema. Normalmente, minhas músicas são feitas em poucos minutos e tudo na hora mesmo. Gosto de criar com os produtores, levo as referências, sons, batidas, qualquer parada que eu tenha ouvido e brisado. Acho que tudo flui por conta dessa troca de energia depositada ali na hora que a música nasce. Já gravei 8 músicas do zero em apenas algumas horas.

O que toca na sua playlist?
Eu escuto de tudo, de Caetano Veloso a MC Hariel. Tô ouvindo bastante a galera da nova geração do funk, mas, no fundo, gosto mesmo é de ouvir meus amigos. Escuto muito as músicas que o produtor Pedro Lotto produz, gosto do som do meu mano Klawss, inclusive lançamos uma juntos no final do ano passado. Ouço muito a molecada do trap também.

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É mais fácil viver com ódio no Brasil do que se apaixonar, diz o rapper Delacruz https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/04/e-mais-facil-viver-com-odio-no-brasil-do-que-se-apaixonar-diz-o-rapper-delacruz/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/04/e-mais-facil-viver-com-odio-no-brasil-do-que-se-apaixonar-diz-o-rapper-delacruz/#respond Fri, 04 Jun 2021 20:00:38 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/DELACRUZ_Ft_GutoCosta_0811-e1622836539405-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=605 Falar de amor no rap nunca foi fácil, já diria Mano Brown. Em entrevista ao jornal Le Monde Diplomatique Brasil, ele diz que é mais fácil para o cara periférico falar de ódio do que abrir o coração, isso te deixa muito vulnerável.

Daniel Cruz, 23, mais conhecido como rapper Delacruz vai na contramão deste conceito no gênero. Conhecido pelas músicas melódicas, ele diz que, sendo brasileiro neste momento, é mais fácil viver cheio de ódio do que se apaixonar, mas não é impossível: “Estou muito com a minha família nessa pandemia. Eu prezo sempre falar do que eu vivo e tenho uma vivência muito boa com a minha esposa e meus filhos, eu aprendo muito com eles e com o meu casamento.”

Por outro lado, falar de amor é um estilo que sempre deu certo. Delacruz, por exemplo, acumula 2,3 milhões de seguidores no Instagram e 2,7 milhões de ouvintes mensais no Spotify: “O amor que tenho pela minha família está em primeiro lugar na escala de prioridades da minha vida, e isso se reflete na minha música”.

Sucesso que fez com que o cantor fosse um dos talentos confirmados na primeira edição do Ecoando Festival, um evento online organizado pelo Amazon Music, que será transmitido via Twitch do Amazon Music BR no dia 5 de junho, às 17h.

Chico Chico, Elana Dara e Nina Oliveira foram alguns dos convidados pela Amazon Music para um bate-papo com o produtor Marcus Preto, seguido de um show individual de cada artista.

Outra grande atração do festival é o funkeiro MC Hariel, amigo que Delacruz se orgulha em dizer que estão na mesma direção musical, mesmo cantando temáticas diferentes: “O rap e o funk são filhos da mesma mãe. São galeras diferentes, mas quando você coloca a palavra música ali ficam todos juntos. Por isso, os músicos sempre passeiam de um lado para o outro”, diz o rapper. 

Esse trânsito de músicos pode ser visto na série de clipes “Poesia Acústica”, da Pineapple, que está na sua décima edição e já teve artistas como MV Bill, Djonga e Negra Li, rappers conhecidos pelo tradicional boom bap, mas que se renderam ao estilo melódico. Delacruz é um dos músicos mais presentes nesse projeto.

Cria de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, e influenciado pelo avô Elias Índio, ex-compositor da escola de samba carioca Unidos de Lucas, Delacruz entende que o equilíbrio entre o instrumental e o eletrônico é importante na música. Em seu último EP, Nonsense, Vol. 2, ele mistura beats e a percussão de instrumentos, estilo que tem se tornado muito popular: “Estou ouvindo muito esse forró pop que o nordeste tem nos dado. Eles sabem fazer bem esse equilíbrio entre o eletrônico e os instrumentos de percussão. Eu gosto de ver os instrumentistas tocando as minhas músicas com partitura”.

O rapper Delacruz (Foto: Guto Costa)

Ainda vamos ouvir muito romance de Delacruz. O próximo projeto do cantor se chama #Romântico90: vai ser um single que vou lançar junto com o MC Marcinho. “Charme e funk é um ritmo que eu acho que vai voltar. A batidas de miami bass é um estilo que está está muito forte, a molecada tem trabalhado esses ritmos”.

Ser lembrado talvez seja a maior a maior pretensão de Delacruz: “Quando falarem de música e falarem de mim eu já posso morrer feliz”. Seja como músico ou romântico, ele já conquistou muitos ouvidos e corações.

 

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Jeferson Delgado: A imagem da periferia não pode ser banalizada https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/05/18/jeferson-delgado-a-imagem-da-periferia-nao-pode-ser-banalizada/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/05/18/jeferson-delgado-a-imagem-da-periferia-nao-pode-ser-banalizada/#respond Tue, 18 May 2021 13:21:04 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/Jef-delgado_-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=571 Gigante da fotografia e referencia na cultura de quebrada, Jeferson fala como sua profissão não é inclusiva

Uma viela, crianças sentadas nas escadas, sem camisa, sem chinelo. Marcas de tiros nas paredes e esgoto a céu aberto. Essa é uma estética muito comum ao retratar uma favela em uma foto. Sujeira, poluição visual e sentimentos à flor da pele.

Jeferson Delgado comemorando o lançamento do disco Jovem OG, do rapper Febem, que ele fotografou (Foto: Tassio Yuri)

Como fazer diferente? Jeferson Delgado, 22, vai na contramão de tudo isso. Jornalista, diretor e, principalmente, fotógrafo de quebrada, hoje ele é uma das referências na imagem do rap nacional e conta com um arquivo de registros da cena nos últimos anos. 

O caminho entre a faculdade de jornalismo, vender bebida no isopor para pagar as contas, até ser o fotógrafo oficial da turnê do Racionais MCs não foi fácil. Mesmo muito jovem, Jef precisou se fragmentar em vários personagens para conseguir viver da imagem.

Mano Brown registrado por Jeferson Delgado

A fotografia não é acessível nem inclusiva. O celular é uma opção para iniciar e aprender a profissão, mas não faz alguém se tornar um profissional da área usando apenas ele. Mesmo equipamentos de baixo custo ou usados ainda estão longe de terem valores alcançáveis para alguém que vive com um salário mínimo.

Isso faz com que sempre os mesmos profissionais sejam contratados. Sobre isso, Jef comenta: “Quem se sobressai dentro dessa área ou quem consegue dar um upgrade nos equipamentos constantemente? Quais são os fotógrafos que se destacam no Brasil hoje? Quando a gente responde essas perguntas fica claro que a fotografia não é acessível”.

Miguel Rio Branco é um destes gigantes da fotografia nacionais. Em entrevista para a Folha de S.Paulo, ele comentou como tem visto a fotografia nos últimos anos: “A fotografia virou algo banal. Documentar um mundo que já é continuamente documentado não me interessa mais”, ele comenta.

Banal para quem? Frases como essa tendem a colocar a arte em um patamar ocupado apenas por quem já está nele, como se o que vier depois não faz mais sentido.

Falando sobre a distância entre termos oportunidades e aceitar nossa realidade, Jef comenta: “Quando o Mano Brown diz: ‘Como fazer duas vezes melhor, se você tá pelo menos cem vezes atrasado pela escravidão?’ Eu vejo os caras brancos que não precisam de oportunidade fazendo os trampos que qualquer um de nós poderia fazer. Nós nascemos no olho do furacão. Quantos rolês eu não deixei de fazer, quantas pizzas eu não deixei de comer para economizar e poder comprar minha câmera? Isso chega a ser desleal”, ele comenta. Fazer muito com pouco está no nosso sangue. 

Prova disso, é que no outro lado da moeda, Delgado tem colocado seu olhar crítico em capas de discos como dos rappers Djonga e Febem, e fotografado shows históricos como do Emicida no Theatro Municipal, evento que virou documentário. “Quando me chamaram para fotografar esse show, eu vi que o meu trampo estava indo longe”, lembra Jef.

Jeferson Delgado fotografou o show do Emicida no lançamento do álbum AmarElo, evento que virou documentário na Netflix

Ninguém cresce sozinho na quebrada. O baile, por exemplo, só acontece por causa do MC que nasceu na periferia e canta sobre ela, o carro de som vem junto e traz o cara da bebida com ele, o food truck, a tia da bala e do cigarro, tudo o que nasce na quebrada se torna uma corrente para todos ganharem.

Na fotografia, não é diferente, Jef observa: “Meu assistente é excepcional. Ele trabalhava numa pizzaria. Eu falei pra ele: ‘mano, eu não consigo te pagar muito, mas quero que você trabalhe comigo. Vamos juntos?’ Falei que ele ia sair da pizzaria trampando com foto. Hoje ele recebe mensal, saca? Ele já tá ganhando o que ganhava na pizzaria. Isso é muito doido, uma pessoa preta e dando trabalho para outra pessoa preta da quebrada”, conclui.

“Os que têm a sensibilidade e a frieza na hora de olhar o mundo, serão os responsáveis pelos outros olhares”, essa frase da música “Movimento”, do rapper BK, traduz o que são fotógrafos como Jef Delgado para nós. A sensibilidade do seu olhar para a periferia representa os outros olhares. “Para que a nossa poesia não seja mais escrita com sangue”.

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