Sons da Perifa https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre cultura periférica, a voz da periferia Mon, 13 Dec 2021 15:07:17 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 No mês da mulher negra, cinco artistas pretas para você conhecer https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/07/31/no-mes-da-mulher-negra-cinco-artistas-pretas-para-voce-conhecer/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/07/31/no-mes-da-mulher-negra-cinco-artistas-pretas-para-voce-conhecer/#respond Sat, 31 Jul 2021 18:10:33 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/WhatsApp-Image-2021-07-31-at-14.19.36-e1627752082978-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=675 Falar das alegrias em ser uma artista negra não pode ser a exceção, tem que ser a regra. Para finalizar o mês da Mulher Negra Latino-Americana reunimos cinco depoimentos de cantoras negras sobre seus trabalhos, inspirações, vivencias e como suas obras impactam na cultura preta brasileira.

Na lista, a cantora Indy Naíse comenta sobre a valorização do afeto da mulher preta e sua autoestima, já a artista Bruna Black fala sobre as compositoras negras na música.

Yasmin Olí lembra do prazer de trabalhar com uma equipe só de mulheres,  a MC Taya fala da importância que as tendências de moda feitas por mulheres pretas tem no mundo. Finalizando os depoimentos, a cantora Nina Oliveira lembra de Dandara, uma guerreira no período colonial brasileiro, e como ela acredita que toda mulher preta se sente um pouco representada por ela. Confira a seguir os depoimentos.

A cantora Indy Naíse (Foto: Vitor Manon)

Indy Naíse
Meu último trabalho, o EP visual “Esse é sobre você”, fala sobre afeto entre pessoas pretas, não só na perspectiva do romantismo, faço uma reflexão sobre os relacionamentos afetivos entre duas pessoas. Além disso, celebro a autossuficiência e a autoestima das mulheres negras. Principalmente porque nós crescemos com lacunas que não são preenchidas por conta do racismo. Então, quando trago isso é para nos olharmos enquanto mulheres pretas e nos valorizarmos. Antes de estarmos com outra pessoa, precisamos estar bem com nós mesmas. Quis trazer esse tema, para que as mulheres pretas soubessem que elas precisam estar bem com elas mesmas antes de qualquer outra coisa. Elas precisam ser o seu próprio alicerce, ser sua maior segurança e sua maior fonte de afeto.

 

Bruna Black durante show com o duo ÀVUÀ (Foto: Sergio Fernandes)

Bruna Black
Eu costumo celebrar em alguns trabalhos a existência das mulheres negras, principalmente como compositoras. É nítido o apagamento e a desvalorização das mulheres no meio musical. Basta ver os festivais! Observo que na maioria das vezes, mulheres só entram em evidência em meses temáticos, e como compositoras é ainda mais difícil. 

Antigamente, nosso espaço na música se resumia somente ao microfone –o que não é pouca coisa, já que antigamente que ser cantora não era visto como profissão, muito pelo contrário, ainda era sinônimo de vadiagem.

De uns tempos para cá, viemos nos libertando, alcançando visibilidade, e não só na figura de intérprete. E falando de mulher preta: não somos apenas “a cara do samba”. 

Podemos compor sobre nossas vivências, dores, amores, paqueras, sobre rebolar, ou seja, lá o que for. Gênero não rebaixa a potência de nenhuma obra. Celebro com a minha arte todas as mulheres negras que expressam sua verdade,  sentimento, dom e trabalho através de suas composições.

A cantora Yasmin Olí (Foto: Bruno Fragma)

Yasmin Olí
Recentemente tive o prazer de fazer alguns trabalhos com uma equipe majoritariamente feminina. O que mais me marcou, foi tocar num trio elétrico acompanhando o grupo “As Baías“, com uma banda repleta de mulheres negras –Pensa num time bonito!

É sempre incrível encontrar pretinhas nos meus trabalhos. Faço questão de garantir a presença de mulheres pretas nas minhas obras, pois mesmo com alguns avanços, sei o quanto o mercado nos deixa de escanteio. Penso que celebrar nossa existência, fazemos isso quando homenageamos, reconhecemos e apoiamos mulheres negras. Um simples gesto de ouvir e amplificar vozes de pessoas pretas, ajuda. Temos muito a dizer.

A cantora MC Taya (Foto: Divulgação )

MC Taya
Em tudo o que eu me envolvo é para enaltecer as outras mulheres, dar acesso às informações e empoderar as mulheres negras. Seja música, comunicação ou moda eu intercalo e junto tudo no meu trabalho. Meu single “Preta Patrícia”,  eu considero como a minha maior obra, ela enaltecendo a mulher negra e esse novo movimento de mulheres negras “as pretas patrícias” sendo a nova geração de ascensão das mulheres negras. E quando falo de ascensão, vem também a questão material, financeira e intelectual como o acesso à faculdade, a cargos melhores de trabalho, à informação e à ascensão estética. Isso se refere a estarmos nos cuidando da forma que somos naturalmente: nossos cabelos, pele, o tom da nossa pele, os nossos traços. Precisamos estar cada vez mais confortável com nossos fenótipos negros. 

Procuro em meus trabalhos na internet dar acesso e informar as mulheres negras sobre a origem das coisas que outras mulheres negras popularizam até virarem tendências. Elementos estéticos que mulheres negras popularizaram ou criaram e agora são inspiram o mundo. Mesmo que tenham passado pela marginalização e  criminalização essas tendencias de moda vestem mulheres de todas as raças.

Basicamente esse é meu trabalho, construir um legado na moda, na música e tirar a mulher negra de dentro de caixas e coloca-las aonde elas quiserem e, a partir disso, mostrar para elas que é possível.

A cantora Nina Oliveira em apresentação no Sofar Sounds São Paulo (Foto: Divulgação)

Nina Oliveira
De todos os meus lançamentos, Dandara é a música que mais celebra a existência de mulheres pretas. Lancei essa música em 2017, e fico muito feliz com tudo o que ela carrega: A importância de reavivar a memória da existência de Dandara, mas também o retrato que essa música faz de nossa força e sensibilidade. Penso que toda mulher preta é um pouco Dandara em algum lugar.

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‘Precisamos naturalizar as bandas formadas só por mulheres’, diz a poeta e cantora de forró Vitória Rodrigues https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/03/05/precisamos-naturalizar-as-bandas-formadas-so-por-mulheres-diz-a-poeta-e-cantora-de-forro-vitoria-rodrigues/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/03/05/precisamos-naturalizar-as-bandas-formadas-so-por-mulheres-diz-a-poeta-e-cantora-de-forro-vitoria-rodrigues/#respond Fri, 05 Mar 2021 13:07:04 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/IMG_4126-e1614886907798-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=408 A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira”, já diria o escritor russo Leon Tolstói que precisou de 1225 páginas para concluir que não existe paz sem guerra. Ok, posso estar sendo leviano com essa afirmação, mas convenhamos que, durante a pandemia, a paz, pelo menos a que consideramos individual, tem se tornado um artigo cada vez mais raro e a saúde mental do brasileiro tem estado bem precária.

Poucos são os momentos de sanidade que podemos respirar e não pensar nos quase 2.000 mortos diários. Não está fácil.

Uma solução é nos agarrarmos a pequenas pílulas de felicidade, mesmo que momentâneas. Um desses momentos talvez seja assistindo um dos vídeos da Vitória Rodrigues, atriz, cantora e compositora que viralizou recitando poesias em forma de cordéis com muita delicadeza e simplicidade. 

Os seus vídeos que, em geral, são curtos e bem motivacionais foram parar nas redes das atrizes Taís Araújo e Ingrid Guimarães, do ator Lázaro Ramos, da atriz e humorista Tatá Werneck, entre outras personalidades— o que acabou levando Vitória para um quadro no programa Saia Justa do canal GNT chamado “De Repente verão”.

Nordestina, natural de Alagoas e com um vasto repertório na cultura popular brasileira, Vitória, por meio de seu Instagram, tem usado seus dias para nos dar pequenos respiros durante esses momentos difíceis que estamos passando. “Eu comecei a produzir vídeos antes da pandemia. Quando veio a quarentena, a forma de não sucumbir aos problemas foi fazer esses vídeos no Instagram. Umas amigas tinham me chamado para fazer um desafio de postar 7 poesias faladas durante 7 dias. Esse desafio me instigou a fazer mais,” comenta a atriz.

Formada em Educação Física pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), ela não imaginou que seu destino seria a arte. Logo depois de sua formatura, embarcou para o Rio de Janeiro atrás de seu maior sonho até o momento, estudar na escola de teatro Martins Penna. “Esse era meu sonho. Me formei com a peça ‘Nossas Bocas não foram Feitas só para sorrir’. Todo o elenco da peça era preto, e abordávamos os temas que envolviam a negritude em textos autorais. Não falávamos apenas dos problemas de ser preto, mas de coisas boas como amor, amizade. E tinha muita música. Foi esse espetáculo que mudou minha escrita e me fez escrever mais músicas e histórias”, comenta Vitória.

Vitória Rodrigues no clipe “Muito Prazer, Eu Sou Mulher” em homenagem ao Dia da Mulher (Foto: Divulgação)

A música nordestina também faz parte da sua trajetória artística.  Enquanto morava no Rio, formou com amigas uma banda de forró pé de serra em que, além de cantar, tocava zabumba até que chegou a pandemia. “Eu nasci nesse ambiente musical, meu pai sempre tocou muitos instrumentos, meus tios também. Mesmo sem estudar música, eu sempre achei lindo isso de eles fazerem porque sentem, mesmo sem saber. Então toda essa cultura nordestina me preenche, é uma fonte em que eu bebo demais”, comenta.

Nesta sexta (5/3), Vitória está lançando sua primeira música e clipe, “Muito Prazer, Eu Sou Mulher”, canção feita em homenagem ao dia da mulher, Vitória comenta sobre o fato que sempre enfatizam que sua banda, Forrozinas criada em 2018, é formada apenas por mulheres. “Por que o diferencial da nossa banda é ser só de mulheres? Não vejo falarem que o Falamansa é uma banda só de homens, ou o Arrasta-pé ser uma banda só de homens… Por que a nossa banda não pode ser apenas uma banda de forró?” questiona a cantora. “Quando formamos a banda, não fizemos por ser uma banda só de mulheres, mas acaba que nos rotulam dessa forma. Uma banda é uma banda”, diz.

A pandemia fez com que a Vitória voltasse para sua cidade natal em Alagoas, mas, de forma alguma, limitou seus sonhos e trabalhos. “Essa música ‘Muito Prazer, Eu Sou Mulher’ é baseada em um cordel que escrevi e é o projeto que mais estou focando nesse momento, mas eu tenho muita vontade de escrever um livro com os cordéis e canções que escrevi”, comenta.

Vitória ainda lembra que a realização do clipe apenas foi possível pelo ótimo clima de parceria entre as pessoas que a cercam, e por elas acreditarem na sua arte, no seu projeto e no que a música traz. “O clipe era para ser bem pequeno, mas por conta do abraço dessas pessoas que acreditaram na minha arte, ele cresceu ainda mais, e é isso que importa na vida, a união entre as pessoas e principalmente entre as mulheres, para que seja possível nos acolher, nos amar, segurar nas mãos umas das outras e através disso transformar nossas realidades e nos tornar mais fortes”, comenta.

Tem um ditado que diz “a noite sempre fica mais escura antes do amanhecer”. Aqui no Brasil, a noite já dura 1 ano e 259.271 mortes. Nada é capaz de consolar tanta tristeza nesse momento. Mas pequenas lanternas como a de Vitória Rodrigues, nesse longo período noturno, têm sido essenciais para aguentarmos até o amanhecer.

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