Sons da Perifa https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre cultura periférica, a voz da periferia Mon, 13 Dec 2021 15:07:17 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Jeferson Delgado: A imagem da periferia não pode ser banalizada https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/05/18/jeferson-delgado-a-imagem-da-periferia-nao-pode-ser-banalizada/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/05/18/jeferson-delgado-a-imagem-da-periferia-nao-pode-ser-banalizada/#respond Tue, 18 May 2021 13:21:04 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/Jef-delgado_-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=571 Gigante da fotografia e referencia na cultura de quebrada, Jeferson fala como sua profissão não é inclusiva

Uma viela, crianças sentadas nas escadas, sem camisa, sem chinelo. Marcas de tiros nas paredes e esgoto a céu aberto. Essa é uma estética muito comum ao retratar uma favela em uma foto. Sujeira, poluição visual e sentimentos à flor da pele.

Jeferson Delgado comemorando o lançamento do disco Jovem OG, do rapper Febem, que ele fotografou (Foto: Tassio Yuri)

Como fazer diferente? Jeferson Delgado, 22, vai na contramão de tudo isso. Jornalista, diretor e, principalmente, fotógrafo de quebrada, hoje ele é uma das referências na imagem do rap nacional e conta com um arquivo de registros da cena nos últimos anos. 

O caminho entre a faculdade de jornalismo, vender bebida no isopor para pagar as contas, até ser o fotógrafo oficial da turnê do Racionais MCs não foi fácil. Mesmo muito jovem, Jef precisou se fragmentar em vários personagens para conseguir viver da imagem.

Mano Brown registrado por Jeferson Delgado

A fotografia não é acessível nem inclusiva. O celular é uma opção para iniciar e aprender a profissão, mas não faz alguém se tornar um profissional da área usando apenas ele. Mesmo equipamentos de baixo custo ou usados ainda estão longe de terem valores alcançáveis para alguém que vive com um salário mínimo.

Isso faz com que sempre os mesmos profissionais sejam contratados. Sobre isso, Jef comenta: “Quem se sobressai dentro dessa área ou quem consegue dar um upgrade nos equipamentos constantemente? Quais são os fotógrafos que se destacam no Brasil hoje? Quando a gente responde essas perguntas fica claro que a fotografia não é acessível”.

Miguel Rio Branco é um destes gigantes da fotografia nacionais. Em entrevista para a Folha de S.Paulo, ele comentou como tem visto a fotografia nos últimos anos: “A fotografia virou algo banal. Documentar um mundo que já é continuamente documentado não me interessa mais”, ele comenta.

Banal para quem? Frases como essa tendem a colocar a arte em um patamar ocupado apenas por quem já está nele, como se o que vier depois não faz mais sentido.

Falando sobre a distância entre termos oportunidades e aceitar nossa realidade, Jef comenta: “Quando o Mano Brown diz: ‘Como fazer duas vezes melhor, se você tá pelo menos cem vezes atrasado pela escravidão?’ Eu vejo os caras brancos que não precisam de oportunidade fazendo os trampos que qualquer um de nós poderia fazer. Nós nascemos no olho do furacão. Quantos rolês eu não deixei de fazer, quantas pizzas eu não deixei de comer para economizar e poder comprar minha câmera? Isso chega a ser desleal”, ele comenta. Fazer muito com pouco está no nosso sangue. 

Prova disso, é que no outro lado da moeda, Delgado tem colocado seu olhar crítico em capas de discos como dos rappers Djonga e Febem, e fotografado shows históricos como do Emicida no Theatro Municipal, evento que virou documentário. “Quando me chamaram para fotografar esse show, eu vi que o meu trampo estava indo longe”, lembra Jef.

Jeferson Delgado fotografou o show do Emicida no lançamento do álbum AmarElo, evento que virou documentário na Netflix

Ninguém cresce sozinho na quebrada. O baile, por exemplo, só acontece por causa do MC que nasceu na periferia e canta sobre ela, o carro de som vem junto e traz o cara da bebida com ele, o food truck, a tia da bala e do cigarro, tudo o que nasce na quebrada se torna uma corrente para todos ganharem.

Na fotografia, não é diferente, Jef observa: “Meu assistente é excepcional. Ele trabalhava numa pizzaria. Eu falei pra ele: ‘mano, eu não consigo te pagar muito, mas quero que você trabalhe comigo. Vamos juntos?’ Falei que ele ia sair da pizzaria trampando com foto. Hoje ele recebe mensal, saca? Ele já tá ganhando o que ganhava na pizzaria. Isso é muito doido, uma pessoa preta e dando trabalho para outra pessoa preta da quebrada”, conclui.

“Os que têm a sensibilidade e a frieza na hora de olhar o mundo, serão os responsáveis pelos outros olhares”, essa frase da música “Movimento”, do rapper BK, traduz o que são fotógrafos como Jef Delgado para nós. A sensibilidade do seu olhar para a periferia representa os outros olhares. “Para que a nossa poesia não seja mais escrita com sangue”.

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‘Festival de Imagens Periféricas’ discute o poder da fotografia como movimento social na quebrada https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/02/26/__trashed/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/02/26/__trashed/#respond Fri, 26 Feb 2021 20:39:47 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/TEAR-E-POESIA101520FSS05253-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=395 Onde a barreira entre a imagem produzida para fins documental é ultrapassada e se torna algo puramente publicitário? Este é um dos atuais desafios da fotografia periférica. Estamos livres para documentar qualquer situação sem consentimento por acharmos que os estereótipos são esteticamente bonitos?

FIP (Festival de Imagens Periféricas), que realizará a sua primeira edição via online, começa hoje 01 de março e vai até o dia 06 de abril e promete discutir esse tema social da arte fotográfica além de promove-la como meio de ativismo político, social e econômico.

Rodrigo Zaim, 29, que é fotógrafo e um dos idealizadores do evento explica: “Desde que comecei a fotografar eu tive uma parada comigo que é repassar toda a arte e conhecimento que fui adquirindo pra frente, e o festival vai proporcionar isso de diversas maneiras, desde oficinas de como fotografar produtos com o seu celular, fotografia de baixo custo para ajudar empreendedor de quebrada a melhorar a imagem dos seus produtos, até os lambes que vamos colar em 500m² da cidade e em varias quebradas. É levar a fotografia onde ela nunca esteve,” conclui.

Foto de Rodrigo Zain, um dos idealizadores do event0 (Foto: Rodrigo Zaim/divulgação)

O festival tem também a tarefa de mostrar diferentes narrativas visuais da cidade de São Paulo, trazendo a pluralidade cultural representada por artistas e fotógrafos que vivem em regiões da capital.

Com a temática “Imagens Periféricas”, a proposta é provocar ações que fluam em mão dupla– do centro para a quebrada e da perifa para o centro da cidade– reforçando o contraste territorial e das relações sociais. A programação conta com uma série de atividades como: diálogos, desafios, exposições e projeções de fotos. 

O evento, que é contemplado pelo Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc, é idealizado por aproximadamente 35 profissionais da imagem entre fotógrafos, agentes culturais e produtores de todas as regiões de São Paulo. Além disso o festival chega como mais uma ação artística social de estimular a participação do público a ocupar espaços, periféricos e centrais da cidade, por meio de intervenções artísticas, tendo em vista os protocolos de higiene da pandemia.

Serviço:

FIP – Festival de Imagens Periféricas
De 01 de março a 06 de abril
Saiba mais pelo https://linktr.ee/festivaldeimagensperifericas

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