Sons da Perifa https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre cultura periférica, a voz da periferia Mon, 13 Dec 2021 15:07:17 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Funkeiro mais ouvido do país, MC Don Juan fala da fórmula da liderança e dos quase 10 anos de carreira https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/28/funkeiro-mais-ouvido-mc-don-juan-fala-da-formula-da-lideranca-preconceito-e-os-quase-10-anos-de-carreira/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/28/funkeiro-mais-ouvido-mc-don-juan-fala-da-formula-da-lideranca-preconceito-e-os-quase-10-anos-de-carreira/#respond Mon, 28 Jun 2021 17:13:17 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/11790da535b566c8530c18baf1a2af34dab74a813579960a4aab78dd57341268_60be494ac5f23-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=659 Um romântico, mulherengo, libertino, plebeu e incrivelmente sedutor. Este foi Don Juan, personagem da literatura espanhola que seduzia as novinhas da realeza e era perseguido e criticado pelos conservadores religiosos.

Séculos depois, agora no Brasil, Don Juan é chamado de rei da putaria e o seu lema é, “Oh novinha eu quero te ver contente, não abandona o…”. Impossível não completar mentalmente este trecho da letra, caso você tenha sido apenas um jovem em 2016.

Cria da Cheba, comunidade do extremo sul de São Paulo, MC Don Juan tinha apenas 15 anos quando divulgou “Oh Novinha”, um dos seus maiores hits— hoje com 86 milhões de visualizações no YouTube e outras 44 milhões no Spotify. Números que levaram Matheus Wallace, ou Don Juan, a ser um dos embaixadores do funk em outros ritmos como sertanejo e o brega. 

Prestes a completar 10 anos de carreira, mesmo com apenas 20 anos de idade, ele viu o seu trabalho, do funk proibidão ao funk light, sempre presente no mainstream. Ele diz: “Quando me lancei no mercado, foi no funk putaria. Na época, eu tinha que cantar aquilo para dar certo, era o que as pessoas queriam ouvir”. 

Bailes, funk light e as grandes mudanças do movimento cultural que mais cresce no Brasil– e que ele foi um dos grandes responsáveis– foram alguns dos temas que conversei com o funkeiro. Dica: Ouça a playlist enquanto lê.

 

Como surgiu o Don Juan?
Quando comecei minha carreira, meu nome artístico era MC Menor, mas, na época, tinha muito moleque com nomes parecidos com esse. Aí em uma resenha com meus amigos um deles perguntou “por que você não usa MC Don Juan?”. Achei legal, era diferente. E foi o nome que me colocou no cenário do funk e que me deu fama até hoje.

E isso foi quando?
Me lancei no funk aos 12 anos de idade, na comunidade Cheba, em Interlagos, onde eu morava com a minha família. Minha primeira música foi “Le Lalaue Lalaia”, em 2014. Não foi um estouro, mas bateu forte na minha quebrada. 

Em 2017, acertei a música que foi meu divisor de águas. “Oh Novinha” foi mágico, tocou no Brasil inteiro, um sonho realizado. Liguei a televisão e vi minha música sendo tema da novela na Globo. Tá ligado? Aquela novela em que a Juliana Paz participava, “A força do Querer”. Daí em diante foi muito trabalho.

Muita coisa na sua carreira mudou nesses 10 anos, inclusive os estilos que você tem se envolvido.
Minha maior paixão na música sempre foi o funk, mas música é música. Ouço de tudo, muito rap, sertanejo e pop. Quando me lancei no mercado, foi no funk putaria. Na época, eu tinha que cantar aquilo para dar certo, era o que as pessoas queriam ouvir.

Tinha muita vontade de arriscar e cantar outros estilos. Com certeza, hoje com uma carreira sólida e bem construída, minha vontade é de me jogar e fazer músicas novas de estilos diferentes, me tira da zona de conforto. Conectar o funk com outros estilos é daora, isso cria um ritmo novo e quebra barreiras. Entendo a importância de levar a minha voz a outros estilos. E cada vez mais longe e para mais pessoas.

Pensa em mudar completamente de ritmo?
Eu nunca vou perder a minha essência, o funk me deu tudo e nunca vou abandonar esse estilo. Meu público vem das quebradas e eu sempre vou honrá-los. Hoje em dia, nosso movimento cresceu muito, nossa música conversa com todo tipo de pessoa. Conseguimos fazer músicas com palavrões e fazer as versões lights para rádios e TVs. 

Estamos evoluindo dia após dia, a música está evoluindo. Isso é muito legal porque você vê minhas músicas tocando em festas de crianças, colégios, famílias ouvindo e fazendo coreografia no TikTok e vê a rapaziada da quebrada curtindo igual. Música é energia e a galera se identifica porque a gente é de verdade.

Qual o papel do funk na sociedade?
Um papel fundamental. Funk é um movimento foda, é cultura, é linguagem, uma forma de expressão, é dança, é alegria, é festa. Hoje, se você entrar numa quebrada, a maioria das crianças quer ser MC. Eles querem viver de arte assim como, durante muitos anos, o sonho de toda criança era ser jogador de futebol.

O funk é esperança, é sonho. Ele é um movimento de extrema importância para o país hoje. Funk gera emprego, movimenta economia e salva vidas. Hoje o menor vê que é possível viver de música. Apesar de todas as dificuldades que esse país nos coloca, muitos vão conseguir realizar esse sonho por meio do funk.

O preconceito com o ritmo ainda é um problema para você?
Isso sempre existiu, mas eu sou exemplo que o funk está gigante e só vai crescer e evoluir. Essa evolução já está acontecendo e as barreiras estão sendo superadas. Quem diria que a música mais ouvida do país seria um funk? Estamos derrubando esse preconceito pouco a pouco, dia após dia. Até porque funk é o Brasil, a voz das quebradas e uma forma de expressão, não tem como invalidar essa cultura. Funk é vida.

Como foi o amadurecimento do Don Juan de 12 anos e o de 20?
Nasci na Cheba e morei por muitos anos lá com a minha família. Depois de muito trabalho, consegui comprar uma casa em Interlagos, na região da represa, para morar com minha família. Hoje estou em uma nova fase da minha vida, mais amadurecido, morando sozinho na Mooca. Deus é bom demais.

Qual a fórmula para sempre estar entre as primeiras posições no Spotify?
Hoje sou o funkeiro mais ouvido no Spotify no Brasil. Batemos mais de 9 milhões de ouvintes mensais. Trabalho desde os 12 anos com muito esforço, são noves anos de trampo pra chegar nisso. Eu sou um sonhador, sempre vou trabalhar pra me superar. Não imaginava alcançar esse número, isso só me faz trabalhar mais, escrever mais, e criar mais músicas.

Me manter nessa posição é o mais difícil. Tenho que trabalhar muito para manter a liderança. Tenho duas músicas no top 5 das mais ouvidas no Brasil: “Bipolar”, em parceria com MC Davi e MC Pedrinho  e que está a duas semanas seguidas no top 1 Brasil, e “Liberdade”, com Alok, que se mantém em quinto lugar no top Brasil, apesar de ter sido lançada há cinco meses, continuamos em alta.

Como funciona seu processo de criação?
Eu tenho facilidade para escrever, as palavras fluem de boa. É difícil de explicar esse processo, mas quando eu escuto a batida, abro meu bloco de notas e as palavras já vem surgindo. Só preciso definir a melodia e a levada que vou seguir, ou o tema. Normalmente, minhas músicas são feitas em poucos minutos e tudo na hora mesmo. Gosto de criar com os produtores, levo as referências, sons, batidas, qualquer parada que eu tenha ouvido e brisado. Acho que tudo flui por conta dessa troca de energia depositada ali na hora que a música nasce. Já gravei 8 músicas do zero em apenas algumas horas.

O que toca na sua playlist?
Eu escuto de tudo, de Caetano Veloso a MC Hariel. Tô ouvindo bastante a galera da nova geração do funk, mas, no fundo, gosto mesmo é de ouvir meus amigos. Escuto muito as músicas que o produtor Pedro Lotto produz, gosto do som do meu mano Klawss, inclusive lançamos uma juntos no final do ano passado. Ouço muito a molecada do trap também.

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‘Remédio para racista é bala’, diz Nic Dias em nova música https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/17/remedio-para-racista-e-bala-diz-nic-dias-em-nova-musica/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/17/remedio-para-racista-e-bala-diz-nic-dias-em-nova-musica/#respond Thu, 17 Jun 2021 17:01:45 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/nova_____-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=628 Raiva, indignação e polêmica são os ingredientes para o novo single da cantora paraense Nic Dias, “Remédio pra Racista é Bala”. Traduzindo versos como “rima de preto é carnificina”, a rapper Nic Dias, ao lado do cineasta paraense Vlad Cunha, diz dar uma resposta ao do genocídio da juventude negra brasileira.

A música já disponível nas plataformas de streaming anuncia o seu primeiro EP, “1.9.9.9.”, projeto aprovado pela Lei Aldir Blanc Pará com produção executiva da Psica Produções.

Narrando a reconquista do poder do povo preto e a destituição do império branco, a letra da música conta a história de um assassinato como via para rebater o racismo institucional. No clipe, ela é a protagonista de um sequestro e da tortura de um personagem que representa o racismo no Brasil. “Eu acredito que não há como ter justiça sem equidade, sem ter uma reação pro racismo que as pessoas cometem. ‘Remédio pra Racista’ é justamente essa reação. Tudo que a gente faz gera um efeito e violência gera violência”, justifica Nic sobre a música, já conhecida pelo público que frequenta os shows. “As pessoas se identificaram muito com as coisas que eu falo nela e acho que precisava de alguém pra falar sobre isso”.

A violência sofrida pelos pretos é um dos temas centrais da obra de Nic Dias, que mora em Icoaraci, distrito periférico da capital paraense. Desde os 14 anos, Nic escreve poemas e crônicas sobre a realidade que vive ao lado de sua mãe, que sempre a acompanha nos palcos.

A cantora Nic Dias em divulgação do seu novo single “Remédio para Racista é Bala” (Foto: Tuyuka Lara)

Para dar cor e ainda mais vida ao universo da letra de “Remédio pra Racista é Bala”, Nic teve parceria do cineasta paraense Valdimir Cunha, que já dirigiu filmes para Dona Onete, Felipe Cordeiro, Molho Negro, e assina co-direção no documentário Brega S/A. Vlad se inspirou no universo estético do grindhouse dos anos 70, marcado pela decadência urbana, o desencanto e a violência contada através de peças de baixo orçamento. Essa violência de gangues urbanas dos Estados Unidos no período da Guerra do Vietnã foi traduzida para o sentimento de revolta da população negra brasileira.

“O clipe é uma tradução do sentimento de tá no limite que o que a letra da Nic fala muito. Até que ponto alguém aguenta e consegue viver com essa violência racista cotidianamente e intermitente? A gente começou a construir esse universo dessa gang que a Nic tem, e que está ali com ela numa situação de dar o troco. Tudo em uma fotografia muito claustrofóbica e propósito”, detalha Vlad sobre o videoclipe.

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Jeferson Delgado: A imagem da periferia não pode ser banalizada https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/05/18/jeferson-delgado-a-imagem-da-periferia-nao-pode-ser-banalizada/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/05/18/jeferson-delgado-a-imagem-da-periferia-nao-pode-ser-banalizada/#respond Tue, 18 May 2021 13:21:04 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/Jef-delgado_-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=571 Gigante da fotografia e referencia na cultura de quebrada, Jeferson fala como sua profissão não é inclusiva

Uma viela, crianças sentadas nas escadas, sem camisa, sem chinelo. Marcas de tiros nas paredes e esgoto a céu aberto. Essa é uma estética muito comum ao retratar uma favela em uma foto. Sujeira, poluição visual e sentimentos à flor da pele.

Jeferson Delgado comemorando o lançamento do disco Jovem OG, do rapper Febem, que ele fotografou (Foto: Tassio Yuri)

Como fazer diferente? Jeferson Delgado, 22, vai na contramão de tudo isso. Jornalista, diretor e, principalmente, fotógrafo de quebrada, hoje ele é uma das referências na imagem do rap nacional e conta com um arquivo de registros da cena nos últimos anos. 

O caminho entre a faculdade de jornalismo, vender bebida no isopor para pagar as contas, até ser o fotógrafo oficial da turnê do Racionais MCs não foi fácil. Mesmo muito jovem, Jef precisou se fragmentar em vários personagens para conseguir viver da imagem.

Mano Brown registrado por Jeferson Delgado

A fotografia não é acessível nem inclusiva. O celular é uma opção para iniciar e aprender a profissão, mas não faz alguém se tornar um profissional da área usando apenas ele. Mesmo equipamentos de baixo custo ou usados ainda estão longe de terem valores alcançáveis para alguém que vive com um salário mínimo.

Isso faz com que sempre os mesmos profissionais sejam contratados. Sobre isso, Jef comenta: “Quem se sobressai dentro dessa área ou quem consegue dar um upgrade nos equipamentos constantemente? Quais são os fotógrafos que se destacam no Brasil hoje? Quando a gente responde essas perguntas fica claro que a fotografia não é acessível”.

Miguel Rio Branco é um destes gigantes da fotografia nacionais. Em entrevista para a Folha de S.Paulo, ele comentou como tem visto a fotografia nos últimos anos: “A fotografia virou algo banal. Documentar um mundo que já é continuamente documentado não me interessa mais”, ele comenta.

Banal para quem? Frases como essa tendem a colocar a arte em um patamar ocupado apenas por quem já está nele, como se o que vier depois não faz mais sentido.

Falando sobre a distância entre termos oportunidades e aceitar nossa realidade, Jef comenta: “Quando o Mano Brown diz: ‘Como fazer duas vezes melhor, se você tá pelo menos cem vezes atrasado pela escravidão?’ Eu vejo os caras brancos que não precisam de oportunidade fazendo os trampos que qualquer um de nós poderia fazer. Nós nascemos no olho do furacão. Quantos rolês eu não deixei de fazer, quantas pizzas eu não deixei de comer para economizar e poder comprar minha câmera? Isso chega a ser desleal”, ele comenta. Fazer muito com pouco está no nosso sangue. 

Prova disso, é que no outro lado da moeda, Delgado tem colocado seu olhar crítico em capas de discos como dos rappers Djonga e Febem, e fotografado shows históricos como do Emicida no Theatro Municipal, evento que virou documentário. “Quando me chamaram para fotografar esse show, eu vi que o meu trampo estava indo longe”, lembra Jef.

Jeferson Delgado fotografou o show do Emicida no lançamento do álbum AmarElo, evento que virou documentário na Netflix

Ninguém cresce sozinho na quebrada. O baile, por exemplo, só acontece por causa do MC que nasceu na periferia e canta sobre ela, o carro de som vem junto e traz o cara da bebida com ele, o food truck, a tia da bala e do cigarro, tudo o que nasce na quebrada se torna uma corrente para todos ganharem.

Na fotografia, não é diferente, Jef observa: “Meu assistente é excepcional. Ele trabalhava numa pizzaria. Eu falei pra ele: ‘mano, eu não consigo te pagar muito, mas quero que você trabalhe comigo. Vamos juntos?’ Falei que ele ia sair da pizzaria trampando com foto. Hoje ele recebe mensal, saca? Ele já tá ganhando o que ganhava na pizzaria. Isso é muito doido, uma pessoa preta e dando trabalho para outra pessoa preta da quebrada”, conclui.

“Os que têm a sensibilidade e a frieza na hora de olhar o mundo, serão os responsáveis pelos outros olhares”, essa frase da música “Movimento”, do rapper BK, traduz o que são fotógrafos como Jef Delgado para nós. A sensibilidade do seu olhar para a periferia representa os outros olhares. “Para que a nossa poesia não seja mais escrita com sangue”.

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PerifaCon terá edição totalmente virtual e gratuita https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/03/24/perifacon-tera-edicao-totalmente-virtual-e-gratuita/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/03/24/perifacon-tera-edicao-totalmente-virtual-e-gratuita/#respond Wed, 24 Mar 2021 17:30:26 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/4A1146E7-A639-4E79-8788-2DC3B8AF0BB6-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=491 Um “Trono de Ferro” em pleno Capão Redondo, bairro periférico de São Paulo. A espera da rainha dos dragões? Hoje não. Duas crianças pretas são os reis aqui. Capão nesse dia foi um dos sete reinos onde “Wakanda” fazia divisa no norte e o “Super Choque” era um guerreiro recorrente na aldeia. Não entendeu? Se você não estava presente na Fábrica de Cultura do Capão Redondo na primeira edição do PerifaCon, em março de 2019, fica difícil mesmo.

Gibis, animes e super-heróis sempre estiveram presentes no cotidiano do jovem da quebrada, mas a periferia nunca foi o público até que o quarteto fantástico Gabrielly Oliveira, Igor Nogueira, Luíze Tavares e Andreza Delgado e uma legião de voluntários criassem o evento mais inclusivo no universo geek de São Paulo, o PerifaCon.

Da esquerda pra direita Gabrielly Oliveira, Igor Nogueira, Luíze Tavares e Andreza Delgado (Foto: Jef Delgado/Estúdio Delara)

Este ano, com o “Brasil acima de todos” no contágio da do coronavírus, os números de mortos pela doença só aumentando e o isolamento sendo nosso único e maior superpoder no momento, o evento não será feito de forma presencial, mas como um antidoto para os males do nerd de quebrada, ele vai acontecer.

O “PerifaCon, Brotando nas Redes: É papo de futuro” será inteiramente gratuito e aberto ao público via as redes sociais e o site do evento nos dias 26, 27, e 28 de março. Para participar você precisa se cadastrar no site e ficar ligado na programação. Serão vídeos gravados e lives de painéis temáticos, ciclo de formação para quadrinistas e ilustradores e um concurso de cosplay dedicado à comunidade negra. 

Após quase dois anos da primeira edição que levou mais de 7.000 pessoas à Fábrica de Cultura do Capão Redondo, o evento deste ano responde ao chamado do público que maratonou muitas séries e filmes, ouviu muita música, leu quadrinhos e mangás durante a pandemia que estamos e que ajudou no crescimento de artistas da quebrada. O objetivo principal é atender os interesses do nerd da quebrada e continuar enaltecendo a força da periferia no cenário geek.

Um dos pontos altos da primeira edição, o projeto “Narrativas Periféricas”, que teve a parceria com a editora especializada em quadrinho Mino, e o Beco dos Artistas, espaço expositivo de ilustradores que rolou na primeira PerifaCon de 2019, serviram de inspiração para o evento deste ano. O “Narrativas” deu o empurrão que muitos  quadrinistas periféricos precisavam para ser lançar no mercado editorial. Já o “Beco” trouxe visibilidade aos ilustradores da quebrada que logo depois fizeram trabalhos para marcas como Netflix e McDonalds. 

Para cada Miles Morales que aparece nos quadrinhos, quem não sabe ele é o jovem  “Homem-Aranha” negro, quantos Piter Parker serão protagonistas? Representatividade nunca é demais, ainda mais quando se trata da cultura que mais consumimos diariamente. Então já sabe, dia 26, sexta-feira, brota no site do PerifaCon!

Serviço
Perifacon, Brotando nas Redes: É papo de futuro 

Três dias de programação nerd geek e pop inteiramente gratuita e aberta ao público nas redes sociais, em formato ‘gravado’ e ‘live’, dividida em: painéis temáticos com convidados especiais, Ciclo Narrativas Periféricas de formação para quadrinistas e ilustradores e concurso de cosplay dedicado à comunidade negra, com premiação em dinheiro para o vencedor.  

Realização: 26, 27 e 28 de março de 2021, a partir das 18h
Onde: perifacon.com.br/brotando-nas-redes/ e YouTube da PerifaCon

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‘Festival de Imagens Periféricas’ discute o poder da fotografia como movimento social na quebrada https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/02/26/__trashed/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/02/26/__trashed/#respond Fri, 26 Feb 2021 20:39:47 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/TEAR-E-POESIA101520FSS05253-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=395 Onde a barreira entre a imagem produzida para fins documental é ultrapassada e se torna algo puramente publicitário? Este é um dos atuais desafios da fotografia periférica. Estamos livres para documentar qualquer situação sem consentimento por acharmos que os estereótipos são esteticamente bonitos?

FIP (Festival de Imagens Periféricas), que realizará a sua primeira edição via online, começa hoje 01 de março e vai até o dia 06 de abril e promete discutir esse tema social da arte fotográfica além de promove-la como meio de ativismo político, social e econômico.

Rodrigo Zaim, 29, que é fotógrafo e um dos idealizadores do evento explica: “Desde que comecei a fotografar eu tive uma parada comigo que é repassar toda a arte e conhecimento que fui adquirindo pra frente, e o festival vai proporcionar isso de diversas maneiras, desde oficinas de como fotografar produtos com o seu celular, fotografia de baixo custo para ajudar empreendedor de quebrada a melhorar a imagem dos seus produtos, até os lambes que vamos colar em 500m² da cidade e em varias quebradas. É levar a fotografia onde ela nunca esteve,” conclui.

Foto de Rodrigo Zain, um dos idealizadores do event0 (Foto: Rodrigo Zaim/divulgação)

O festival tem também a tarefa de mostrar diferentes narrativas visuais da cidade de São Paulo, trazendo a pluralidade cultural representada por artistas e fotógrafos que vivem em regiões da capital.

Com a temática “Imagens Periféricas”, a proposta é provocar ações que fluam em mão dupla– do centro para a quebrada e da perifa para o centro da cidade– reforçando o contraste territorial e das relações sociais. A programação conta com uma série de atividades como: diálogos, desafios, exposições e projeções de fotos. 

O evento, que é contemplado pelo Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc, é idealizado por aproximadamente 35 profissionais da imagem entre fotógrafos, agentes culturais e produtores de todas as regiões de São Paulo. Além disso o festival chega como mais uma ação artística social de estimular a participação do público a ocupar espaços, periféricos e centrais da cidade, por meio de intervenções artísticas, tendo em vista os protocolos de higiene da pandemia.

Serviço:

FIP – Festival de Imagens Periféricas
De 01 de março a 06 de abril
Saiba mais pelo https://linktr.ee/festivaldeimagensperifericas

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‘Quando o dinheiro cai em mãos erradas na quebrada ele causa rivalidade e desunião’, diz o rapper e produtor Jovem Obama https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/01/08/quando-o-dinheiro-cai-em-maos-erradas-na-quebrada-ele-causa-rivalidade-e-desuniao-diz-o-rapper-e-produtor-jovem-obama/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/01/08/quando-o-dinheiro-cai-em-maos-erradas-na-quebrada-ele-causa-rivalidade-e-desuniao-diz-o-rapper-e-produtor-jovem-obama/#respond Fri, 08 Jan 2021 13:09:44 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/IMG_7427-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=324 Era abril de 1992, em Los Angeles, Estados Unidos, quando quatro policiais foram absolvidos um ano depois de terem sido flagrados em um vídeo espancando, por mais de 50 vezes com golpes de cassetetes e armas de choque, Ronald King, um motorista negro que em nenhum momento reagiu. Isso foi o estopim para o início de uma série de protestos que resultou na morte de 53 pessoas. Naquele mesmo ano, mas a 8.403 quilômetro de distância dali, em São Paulo, o Secretário de Segurança Pública do governo Orestes Quércia dava a ordem para a invasão no Carandiru, ação que resultou na chacina de 111 pessoas.

A história negra é sempre regada com sangue e desgraça, seja em Los Angeles ou São Paulo. “Onde estiver, seja lá como for, tenha fé porque até no lixão nasce flor”, já diria Mano Brown na música “Vida Loka part. 1”, dando a entender que mesmo parecendo muito, nem tudo é desgraça. Vai vendo: em 29 de junho de 1992 nascia o menino negro, capão-redondense e com uma história ainda a ser escrita, Júlio César Nascimento de Miranda, vulgo o Jovem Obama.

O rapper Jovem Obama em divulgação do seu último álbum “As Aventuras do Jovem Obama” (Foto: Priscila Lippi)

MC, produtor e criador do selo SSGANG, Júlio, Judão ou apenas Obama é um dos nomes mais citados e valorizados na cena do rap underground do extremo sul de São Paulo. “No ensino médio me deram o apelido de Obama, foi lá que escrevi meus primeiros rap, estava aprendendo, tendo contato com o movimento underground. Naquela época, em 2015, o Emicida ainda era um MC em ascensão e os dois caras que mais inspiravam o extremo sul eram Dexter e Mano Brown”, diz Jovem Obama.

Já diria Emicida, nos anos 1990 a periferia de São Paulo era como um elevador que só descia, quanto mais fundo ia mais a gente sofria. Quem por nós viria? Ninguém sabia. Então, como historiadores que a caneta tinha, Racionais MCs, DMN, 509-E, SNJ e RZO, transformaram os discos em livros de história, não mais discriminatória e contraditória, mas agora focando sempre na vitória, para que o terror passado fosse ouvido com notória e que isso inspirasse os próximos criar a sua própria trajetória. Pegou a visão?

O rap foi um dos trajetos percorridos por muitos para fugir das estatísticas de mortes e encarceramentos. “Decidi fazer da minha vida o hip-hop em 2014, embora já tivesse contato com ele durante outros momentos da minha vida esse ano foi definitivo. Minha primeira música lançada foi Black Power, do meu antigo Grupo TheStreetJJ, essa música me levou ao festival AudioGroove”, comenta o MC.

Mesmo estando no lugar obvio para viver de rap, essa não é uma vida fácil, “A maior dificuldade é dinheiro, não por que não existe, é que ele simplesmente está na mão de gente que não tá nem aí pra quebrada. Isso promove desunião, por que afeta a condição que vivemos, passamos a ter rivais invés de aliados, disputa invés de uma frente de negócios e investimentos. Isso faz caminharmos para essa profissionalização em passos bem lentos. Produzir música na quebrada é ato de resistência, sobrevivência da nossa voz que sempre está gritando por liberdade” diz Obama.

Em 1997, Illinois nos EUA, Barack Obama entrava de vez na política como senador estadual. Longe dali, mas também eleito aquele ano, o Capão Redondo recebia o título de bairro mais perigoso de São Paulo, e foi naquele ano que os Racionais MCs lançaram o disco Sobrevivendo no Inferno. “O fator racionais é interessante, eles são uma antena para nós, essa antena colocou nosso bairro no mapa, isso permite que outras pessoas vejam o que tem aqui. Essa vitrine faz com que muitos artistas e produtores prosperem hoje por tudo que ocorreu lá trás” diz o rapper.

Isso motivou a criação de várias gravadoras independentes na região, sem dinheiro, ainda com pouca notoriedade no mercado, mas com muita foça de vontade. É mais fácil você mesmo produzir as suas músicas. Obama fez isso e em 2016 criou o selo SSGANG, projeto nascido para dar espaço pra MCs da zona sul, e que hoje conta com estúdio de gravação, produtora de áudio visual e eventos.

O rapper Jovem Obama em divulgação do seu último álbum “As Aventuras do Jovem Obama” (Foto: Priscila Lippi)

Violência, morte, racismo e pobreza é do cotidiano de qualquer jovem preto periférico dos anos 1990 e início de 2000, isso por pior que seja é o motivo da existência do rap. Mas, além de lidarmos cotidianamente com a desgraça de viver na precariedade, temos também que conviver com os traumas familiares, “minha mãe, minha deusa, minha salvadora, heroína, morreu em 2017. Ela deixou um buraco enorme em mim. Ela sempre foi o meu porto seguro, minha amiga, minha mentora e moldou meu caráter. Se formou na faculdade quando já tinha 50, fez pós-graduação. Ela era inspiradora”, lamenta Obama.

Orfão de pais e morando junto com sua única irmã, hoje o rapper se dedica na divulgação de suas recém lançada mixtap “As Aventuras do Jovem Obama” com o sonho de viver do rap. “Sou uma Quimera, me espelho em muitas pessoas ao mesmo tempo que tento manter minha singularidade. Imagino que minhas opções são diferentes das pessoas que eu me inspirei, como Drake, Brown, Mv Bill, Dre, Snoop, Puff Diddy e Jay-Z, que são caras que eu olho para caminhada deles e penso que são modelos do que quero ser e fazer”, comenta.

Enquanto em 28 de agosto de 1963 Martin Luther King discursava sobre racismo e direitos civis para os negros, em 2021 ainda discutimos se existe racismo no brasil. Isso faz com que jovens Obamas precisem nadar muito além da borda da piscina para poder sobreviver. Por isso temos o rap, ele é o nosso salva vidas.

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Um rolê no baile da DZ7 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/12/01/um-role-no-baile-da-dz7/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/12/01/um-role-no-baile-da-dz7/#respond Tue, 01 Dec 2020 17:10:50 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Sem-Título-1-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=263 “Um sábado desse, uma lua dessa, todos os caminhos te levam a favela, pra esquecer do estresse que a semana teve, hoje é bailão emendado na rave”. Calor, 23h, sem grana no bolso, longe do centro e de tudo, o extremo sul parece um continente de tão grande, parceiro.

O baile da DZ7 em Paraisópolis, São Paulo, é o rolê de hoje, então se prepara— tudo pode acontecer. No bolso, as chaves de casa, carteira e o celular. Cuide do seu celular. Chegando na Av. Hebe Camargo, de longe já ouço, “vapo, vapo, vapo… terror dos bailes!” música que lentamente vai se misturando no meio dos roncos dos motores das motos, buzinas, carros e pessoas falando muito alto. Proposital? Sim, esse é o clima, bom, se acostuma.

Nesse momento a sensação é a de estarmos atuando em um filme do Alejandro Iñárritu. Sabe aquele diretor que curte um plano de sequência? Então se liga, assim que chegamos na Rua Hebert Spencer acabam os créditos iniciais e começa a cena: “Tá rocheda, tô nem vendo/ Pode crê, você merece um prêmio/ De mulher mais bandida do mundo/ O coração que é vagabundo, vagabundo”, música do Barões da Pisadinha torando na caixa de som do barzinho que fica embaixo de uma pizzaria, enquanto um casal de idosos dançam grudadinhos e alguns bebuns jogam sinuca e bebem bomberinho — ou seria Dreher?

À minha direita estão vestidos com camiseta da Fundão, à minha esquerda com bermuda da Um da Sul. Juliette, Oakley, Lacoste, Ciclone, perfume 212, boné da Ferrari. Tudo original, originado dos camelôs de Santo Amaro e shopping Largo 13, outfit de quebrada.

Os guarda-chuvas tomam a DZ7 como uma espetáculo à parte. Isso você só vê aqui nos bailes de São Paulo. 19 de janeiro de 2020 (Foto: Jairo Malta)

“Vraammm vammm” fica ligeiro! Os moleques passam colados em você a milhão para subir a ladeira, já você cansa só de olha lá para cima. É bom explicar que quebrada não tem calçada, a gente vai andando pela rua e disputando espaço com os carros, motos, food trucks estacionados e os manos de bike.

Já estou suando, cansado e o rolê nem começou. Nossa! Já são meia-noite, é melhor já avisar nosso roteiro: primeiro vamos na DZ7, depois a gente desce para o baile do Bega, fechado?

As ruas já estão lotadas, penso que é impossível encher mais, mas quando olho para trás, uma multidão vem subindo, como numa procissão, mas ao invés das cruzes, guarda-chuvas e garrafas de Ciroc e Red Label nas mãos. Mas como pode? De onde vem tanta gente? Das quebradas claro, playboy não vem aqui, eles têm medo desse lugar. Medo de onde a gente mora. Certo eles.

“O tia, me vê um dogão e uma coca?”. Melhor eu dar uma ‘forrada’ no estômago antes de começar a beber, o dia… quer dizer, a noite vai ser longa.

“Senhor! Proteja e defenda eles do mal com o poder de tua divina graça”, um grupo de evangélicos na entrada do baile tenta impedir a gente de passar. Vou memorizar essa oração, talvez eu precise dela no fim da noite.

Em questão de segundos o baile fica vermelho como sangue, calma, são os sinalizadores que o dono de um dos carros de som acendeu. Atraídos pela luz , o bar que estamos fica tão cheio quanto uma colmeia de besouros. Ali parece que foi dada a largada da festa. O som que já era alto cresce de uma forma que entra na sua mente a ponto de você não conseguir diferenciá-lo dos seus pensamentos. Os carros são equipados com paredões super potentes cheios de luzes e letreiros que piscam conforme a música vai tocando. Em cima de alguns deles pessoas estão em pé, outras sentadas, algumas dançando e bebendo.

Parceiro, sabe onde fica o baile do Bega? “Mano, é só descer a Spencer e virar a segunda a direta” , diz o dono do bar enquanto acende mais um sinalizador, dessa vez azul.

Enquanto andamos em direção ao novo destino, você talvez se pergunte “e se começar um tumulto? Para onde eu vou?”, não tem para onde ir, por isso guarde aquela oração.

“O Bega nunca decepciona”, é o que o DJ diz no microfone. Zero estrutura e máxima lotação, aqui a festa nunca termina. 19 de janeiro de 2020 (Foto: Jairo Malta)

Passar pelo meio do baile é um rolê antropológico. Nos carros de som ficam várias meninas dançando e um bando de adolescentes de óculos escuro olhando. Na porta do Club 17 , um grupo de jovens, todos virados para a rua com garrafas nas mãos balançando no ritmo da música. Você tenta andar, mas é parado a cada três ou quatro minutos porque alguém precisa passar de moto no meio do fluxo.

Uma atração à parte são os guarda-chuvas ou umbrelas, pode escolher o nome que preferir. Todos de marcas conhecidas como Lacoste, Ferrari, Echo, o engraçado é que essas marcas não fazem guarda-chuva. Eles são balançados violentamente para cima e para baixo fazendo vento, se o objetivo é deixar o rolê climatizado eles são bem eficazes.

Chegamos no Bega. Como você sabe? Dá para perceber que o baile é um pouco diferente. Além dos carros de som com potência mais altas que um show do Metallica no Morumbi, aqui os DJs são bem vindos.

Já quase de dia no baile, aqui a galera é acostumada a virar a noite. 19 de janeiro de 2020 (Foto: Jairo Malta)

“Faz a pose, olha o flash” , diz o DJ Alef no bar MM Pointe com sua mesa de som virada para rua e comandando uma multidão. Dentro do bar quase não dá para enxergar, uma fumaça branca e um cheiro doce de morango paira pelo ar, ou seria melancia?

A hora de ir ao banheiro. “Todo mundo pagou 1 real lá no caixa?”, não tem como ele saber, a fila sai do bar de tão grande. Mas eu paguei, vai que ele sabe.

Durante um voo, a hora que eu tenho mais medo é a do pouso, parece que é o momento de menor controle do piloto. No baile , é a hora de ir embora.

Aqui na quebrada é muito perigoso, você pode estar de carro e ser alvejado com 108 tiros. Pode tentar apartar uma briga e ser morto pela polícia. Um piscar de olhos e você é pisoteado, parceiro. Você e mais sete, oito, nove. Essa é a periferia, que na falta de cultura e lazer contribui para a própria ignorância e termina elegendo suas próprias covas.

São 5h da manhã, aqui a hora voa e a vida também. Depois de um quilômetro de ladeira, chegamos de volta na Av. Hebe Camargo. “87 reais o preço do Uber até o Grajaú? Sé loco, nunca mais eu volto aqui!” Até o próximo fim de semana.

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Nic Dias fala sobre trap na Amazônia: ‘eu existir e trabalhar com rap já é uma vitória’ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/08/17/nic-dias-fala-sobre-trap-na-amazonia-eu-existir-e-trabalhar-com-rap-ja-e-uma-vitoria/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/08/17/nic-dias-fala-sobre-trap-na-amazonia-eu-existir-e-trabalhar-com-rap-ja-e-uma-vitoria/#respond Mon, 17 Aug 2020 15:02:16 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/Nic2-por-Vitoria-Leona_3-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=75 “Não tem essa de rap de mina, rap é rap. Quando você for ouvir um rap ouça as rimas ao invés de falar que não tem rap de mina. Se você tem internet pra falar besteira tem para dar um google”. A opinião é da cantora Tasha, durante a live com sua irmã Tracie, em resposta a mensagens preconceituosas de alguns internautas durante a transmissão.

Talvez você ache que para ser rapper é preciso ter cara de mau ou ser durão, “sem risadinha porque aqui é o rap onde o povo é brabo entendeu? O povo é mau! Mau! Para trabalhar nesse emprego de rapper você tem que ser mau”, diz Emicida com sua filha gargalhando ao fundo na música “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida”.

É, o rap definitivamente não é isso, mas durão? Bom, isso a mulher preta de quebrada tem de sobra.

A rapper Nic Dias (Foto Vitoria Leona)

Periferia é periferia em qualquer lugar, seja da ponte pra cá ou da ponte aérea pra lá de Belém do Pará, mais precisamente na periferia de Icoaraci onde Nicole Dias, 21, conhecida como Nic Dias nas redes faz sucesso como rapper, ativista e compositora.

“O rap já estava presente na minha vida desde pequena. Na real, todo mundo aqui na periferia ouve rap, além dos sons ‘mais regionais’ como o tecnomelody, os clássicos do Racionais Mc’s sempre estiveram presente em todas as periferias do Brasil, inclusive aqui”, diz Nic Dias. Prova disso foi um vídeo que viralizou onde mostra a reação emocionada de um vendedor ambulante no meio da multidão em pleno carnaval de Salvador, ao ver o Mano Brown subindo no trio para cantar Negro Drama.

“Mandinga, coisa nossa. Eles não vão entender o que são riscos, e nem que nossos livros de história foram discos” já dizia Emicida na música “Ubuntu Fristili”. Na quebrada, a música forma caráter e mostra quem somos e para onde vamos. Nic conta que mesmo que de forma inconsciente, o rap estava presente na sua vida.

“Durante a pré-adolescência eu passei a prestar mais atenção ao que o rap sempre me disse, por começar a vivenciar de modo mais agressivo as diversas formas de violência que atravessavam o meu corpo”, relembra ela que afirma que ao se questionar o porquê disso tudo, notou o rap dialogando sobre autonomia, algo que ela nunca aprendeu na escola. “Passei a entender melhor quem eu era e a entender a figura do negro no Brasil”.

Entre guitarradas e tecnomelody, ritmos com espaços popularmente consolidados nas quebradas paraenses, o rap veio chegando “devagar devagarinho” na cena musical das comunidades.

“O movimento hip hop em Belém existe desde os anos 1990. Foi com muita luta que os irmãos e as irmãs do movimento foram construindo esse espaço dentro do cenário musical daqui, mesmo com muita opressão por ser um ritmo marginalizado socialmente, e de toda a questão da falta de estrutura e recursos, a cena vem se construindo aos poucos”, diz Nic.

Ela completa ainda que fazer trap na Amazônia é bem difícil, principalmente, quando se deixa de lado “aquele regionalismo estereotipado de falar sobre açaí com camarão, farinha, Ver-o-Peso’’.

“Acredito que a aceitação em si é a menor dificuldade enfrentada pelos artistas de rap nortistas. O maior problema é a falta de infraestrutura, o acesso aos recursos, ou seja, o leque de possibilidades de profissionalizar a tua arte é bem pequeno, e como as pessoas vão levar a sério o que tu faz?” completa.

Mas como qualquer ritmo de quebrada, o trap só se fortalece com as dificuldades. Nic, por exemplo, até cita alguns parceiros que estão na mesma “caminhada” que ela no Norte, como MC Super Shock, CPG77, Ruth Clark MC, Yasmin Oss, Drin, Pele do Manifesto, Bruna BG, e o Navi Beatz. Mas, ela avisa, que a lista de “artistas incríveis aqui no estado (Pará) é infinita”.

Entre Dina Di, considerada por muitos a primeira rapper, e Nic Dias, muita coisa mudou para as mulheres na cena.

“Eu não costumo falar que meu som é empoderamento feminino, eu gosto de imaginar que só o fato de eu existir e estar trabalhando com rap já é uma vitória para nossa comunidade negra”, diz Nic que explica que para além do recorte feminino, costuma pensar que sua luta é coletiva para homens negros e mulheres negras, da periferia ou não e cita o rapper Kayuá que afirma que: “ver preto vencendo já é uma mensagem”.

Longe de ser uma voz melódica no trap, Nic Dias veio com rimas pesadas no seu último single. Ela analisa que, normalmente, espera-se que minas que fazem rap tenham uma voz suave cantando de forma melódica e delicada fazendo os famosos “lovesongs”.

“Nada contra quem faz, a arte é livre pra ser o que quiser”, esclarece ela, que explica que seu som vai na na contramão disso. “‘Baby Prince$$’ é um trap que fala sobre como as mulheres pretas devem se sentir gostosas, independentes, fodas e chefonas. Além de abordar questões como da violência policial. Esse single foi um divisor de águas na minha vida, porque eu entendi que posso falar e fazer o que quiser e como eu quiser, além de passar essa visão”, diz Nic.

“No momento, estou trabalhando no projeto do meu disco com dez faixas que vai ser lançado no final de 2021 com muita surpresa boa”. Estamos no aguardo, Nic.

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Websérie busca descobrir o futuro da periferia no pós pandemia https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/08/03/webserie-busca-descobrir-o-futuro-da-periferia-no-pos-pandemia/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/08/03/webserie-busca-descobrir-o-futuro-da-periferia-no-pos-pandemia/#respond Mon, 03 Aug 2020 13:41:31 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/30694859497_84d16c5a2c_k-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=46 Como você é representado na mídia? Bom, se você for branco, classe média e morador de algum grande centro, talvez seja como uma família digna de comercial de margarina. Ou como o núcleo protagonista de alguma novela ou filme, aquele tipo de cena visto diariamente.

Mas se você mora em algum bairro periférico, fica bem difícil de se enxergar. Pior ainda se você for o “tio da vendinha”, a senhora que cuida das crianças em casa porque não têm creche ou o jovem que não pode continuar a faculdade, já que ela fica muito longe do trabalho e não sobra dinheiro, no fim do dia, para pagar internet e fazer EAD.

Sim, essas pessoas existem no dia a dia da quebrada, mas não nas telinhas. Ou melhor, elas até existem, mas na maioria das vezes são representadas como o núcleo de personagens sem educação alguma, falastrão, cômico que fala alto em todas as cenas e sempre se dá mal. Ou então os personagens “barra pesada”, cheios de armas, drogas, violência e sofrimento.

Claro que existem raras exceções. “Malhação, Viva a Diferença”, por exemplo, foi uma delas. Cao Hamburger, autor dessa temporada única, conseguiu mostrar a periferia de uma forma mais respeitosa e não como o núcleo cômico ou violento da novela. O problema é que, mesmo nesses melhores casos, quem escreve é apenas alguém que está imaginando como é a periferia.

A saída óbvia para isso, é claro, é incentivar as produções audiovisuais feitas na periferia, por pessoas da periferia. Um exemplo disso é a produtora Fluxo Imagem, localizada no bairro Jardim Piracuama, no extremo sul de São Paulo.

“Nosso trabalho é pensado e executado a partir da nossa vivências na favela, com o foco para além de só serviços audiovisuais. Ele carrega esse compromisso com a comunicação de favela, feito pela quebrada e para a quebrada” explica Maxuel Melo, 23 anos, cofundador da produtora.

Filmagem do clipe do MC Russo no bairro Real Parque em São Paulo, 27 de outubro de 2018 (Foto Léu Britto)

Mas como uma produtora de vídeo consegue sobreviver nesse momento tão complicado? “No início do ano, tínhamos planos bastante sólidos e uma projeção interessante. Mas com a chegada da Covid-19 tudo isso caiu. O início da pandemia foi o pior momento, muita incerteza do futuro, sem saber se conseguiríamos fechar algo durante este tempo.” conta Max.

Por outro lado, saber viver e trabalhar em comunidade é entender que você precisa ajudar, dividir e divulgar os trabalhos dos seus vizinhos – seja do dono do carreto ou até da bordadeira. Isso é Ubuntu, filosofia africana que trata da importância das alianças e do relacionamento das pessoas, umas com as outras. De forma resumida, ela ensina que as pessoas tenham a consciência do “Eu sou porque nós somos” – e isso é claramente visto na quebrada.

Filmagem do clipe do MC Russo no bairro Real Parque em São Paulo, 27 de outubro de 2018 (Foto Léu Britto)

Foi assim, também, com a produtora de Max. “Conforme a coisa foi andando, surgiram demandas de outros coletivos parceiros, dos quais tivemos o prazer de estar junto, e então deu pra entrar algum dinheiro”, afirma.

Este talvez seja o pior momento vivido pela quebrada em muitos anos. Como será que nós, periféricos, seremos retratados no futuro? Como os que mais se aglomeravam e disseminaram o vírus ou os que mais morreram? Bom, no contexto em que somos representados de forma artificial, registrar esse momento se torna ainda mais importante.

E é aí que surge a websérie “Cartas para o Futuro”. Com novos episódios quinzenais no instagram e no facebook da produtora (@fxo_midia), a série vem chamando a atenção por ter um olhar original sobre personagens ainda esquecidos. “O ponto de partida para a série foi a nossa vivência e o olhar que temos para com a nossa quebrada, queríamos mostrar pessoas comuns, que não são retratadas nos meios grandes de comunicação, e como elas imaginam o futuro. E, para além dessas questões pessoais, a série ainda é um recado e um registro para quando sairmos dessa situação”, diz Max.

“Por isso, a série é feita em um ‘tiro só’ – ou sem cortes. Para que a opinião seja a mais crua e a verdade possível da pessoa. No fim, transformamos em um episódio fechado, dando valor apenas para os pensamentos e ideias da pessoa entrevistada”, continua.

Como já dizia Edi Rock, do Racionais, “periferia é periferia em qualquer lugar”. Não somos iguais, mas os problemas e histórias nas quebradas se repetem ao estilo “Ctrl+c Ctrl+v., Por isso, assistir outros com os mesmo sonhos e dificuldades que você é uma oportunidade que surge apenas quando é retratada pelos seus.

“Até agora, os personagens que apareceram nos três episódios são pessoas aqui da quebrada que já conhecemos e temos afinidade, o que facilitou a conversa. Mas nada impede de falarmos com outras pessoas de outras quebradas com outros recortes sociais e vivências”, completa Max.

Importante dizer que as referências dos vídeos da produtora são baseadas em clipes e artistas da própria quebrada, o que torna a linguagem da série é tão original e representativa. Ao assistir aos episódios, no entanto, é fácil perceber que o estilo de documentários como “Edifício Master”, do diretor Eduardo Coutinho, chegou às produtoras independentes mesmo de periferia.

“Para nós é ótimo sermos comparados ao Eduardo Coutinho. Pensamos que, para o futuro, podemos juntar todas as histórias e transformar em um documentário de um passado muito louco que aconteceu.” Vamos aguardar os próximos episódios, Max.

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Sem baile, DJs da 17 trabalham em empregos não essenciais e ficam expostos à Covid-19 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/07/20/sem-baile-djs-da-17-trabalham-em-empregos-nao-essenciais-e-ficam-expostos-a-covid-19/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/07/20/sem-baile-djs-da-17-trabalham-em-empregos-nao-essenciais-e-ficam-expostos-a-covid-19/#respond Mon, 20 Jul 2020 19:22:46 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/88e9740462c62a19eee72174bdafd9ade4004fc99f8392c6d292f22e8e3d198a_5ded45e853f10.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=13 Hoje é sábado, 23h, a noite está quente e seu destino é Paraisópolis, a segunda maior comunidade de São Paulo, que tem mais de 100 mil habitantes.

Você desce do Uber na avenida Hebe Camargo, usando um óculos escuro Juliet —e aí você pode me perguntar, mas óculos de noite? Sim, eu te digo. É estilo, camisa da Lacoste e tênis da Oakley. O que você está vestindo é muito importante neste momento. Imagine que a sensação é de que estamos indo para algum festival de música dos grandes: com muito trânsito para chegar, som alto, pessoas bebendo nas ruas. Você desce algumas vielas e o fluxo (talvez você conheça como baile de rua) começa a ficar maior.

Enfim, você chega na rua Herbet Spencer. Não entendeu? Estamos no Baile da 17. Sim, é agora que você começa a observar os carros tocando funk bem alto com seus paredões de som, jovens de todos os lugares de São Paulo e até excursões de fora do estado presentes na comunidade, todos felizes e bem parecidos pelas roupas, gingado e corte de cabelo.

Talvez você não saiba, mas estar nesse lugar é o atual sonho de muitos jovens —ou nem tão jovens assim. O coronavírus tem não só tirado as vidas de milhares de pessoas, principalmente das comunidades, como também acabado com suas únicas opções de emprego e lazer.

Você pode achar que “era só uma festa, as pessoas podem aguentar durante a quarentena”. Mas será que podem?

O Baile da 17 não é só uma festa. Ele exige muito trabalho para ser feito e emprega muitas pessoas. Tem o DJ, a tia que vende bala, chiclete, cigarro, o pessoal da limpeza, os funcionários dos bares, tabacarias, o cara do carro de som…. Lembrou deles?

“Cheguei a ficar desesperado e pedi a Deus que me desse uma luz”, lembra o DJ Alef, de 26 anos. Morador de Paraisópolis, ele conta que viu as contas começarem a chegar e ficou completamente atônito, “sem saber o que fazer”.

Alef é DJ do Baile do Bega, outra festa de rua de Paraisópolis que veio crescendo nos últimos meses antes da quarentena. Diferente do Baile da 17, o “Bega é uma festa na rua, mais parecida com balada. E, por ficar em uma região mais isolada, não temos problemas com barulho”, explica o DJ, que já tocou em casas de shows como Club A e Love Story. Pois é. Viver de tocar em bailes na periferia era algo que, até então, parecia promissor para ele. “Comprei equipamentos e estava profissionalizando ainda mais o baile”, relembra.

Mas você deve estar se perguntando: “Ué, como um DJ ganha dinheiro em um baile de rua? A entrada não é gratuita?” Bom, sim. A verdade é que você pode começar tocando com uma mesa de som em algum estabelecimento, ou próximo de alguns e, então, “é feito o rateio entre os comerciantes e carrinhos de bebida daquele lugar para pagar o DJ”, explica Alan Carlos, 25 anos, mais conhecido como DJ Neguinho do Uno. Segundo ele, outra opção é equipar o carro com um som bem potente e parar na porta de algum bar ou tabacaria, combinar um valor com o dono e ficar lá, tocando funk e atraindo pessoas para o estabelecimento.

“Cheguei a gastar mais de R$ 17 mil com meu carro para fazer isso mas, por conta da lei do silêncio e das multas, parei de tocar com o carro e trabalho como DJ mesmo”, diz Alan, que hoje é DJ oficial da Equipe Mandelão (se você quiser um paredão de som para tocar em alguma festa aqui em São Paulo, é provavelmente com eles que você vai falar).

O dinheiro que circula no baile funk é bem democrático: vai desde o dono do bar, que ganha mais durante o evento, passa pelo DJ e pela tia que vende bala e cigarro, o dono do carro de som e chega até o pessoal da limpeza, que é pago pra limpar as ruas depois da festa. “Eles fazem um serviço melhor que o da Prefeitura. No dia seguinte do baile, nem parece que teve festa”, afirma Alan.

Mas esse dinheiro está em extinção no momento —e provavelmente será assim por muito tempo. Se as casas de shows da capital estão fechando, como é que está a vida dos trabalhadores dos bailes? “Graças a Deus, arrumei um emprego em uma loja de celulares aqui e estou conseguindo me manter nesse momento” conta Alef. Outros, como o Alan, voltaram a fazer o que faziam antes de se tornarem DJs. “Tenho trabalhado como motoboy de aplicativo enquanto espero a pandemia passar, e tenho visto que muita gente que nem era motoboy antes e que agora está fazendo isso também.”

A atual falta de recursos para as comunidades tem deixado duas problemáticas bem visíveis: a fome e os subempregos cada vez mais precários. Muitos têm aderido o trabalho com aplicativos de entregas, já que hoje você não precisa de uma moto para fazê-las —uma bicicleta pode fazer o serviço.

O problema é que, para isso, você vai ter que se submeter a pedalar cerca de 30 km por dia apenas para chegar à região central. É assim que alguns trabalhadores chegam à exaustão e em muitos casos andando por vias que na sua maioria não são equipadas com ciclofaixas. Eles também não tem benefício nenhum do aplicativo como vale alimentação ou convênio médico e em algumas situações tendo que entregar comida mesmo pedalando com fome.

Além disso, resta simplesmente trabalhar em empregos não essenciais na quarentena, ficando exposto ao vírus. “Chorei bastante porque sentia muita falta de ar e muita dor de cabeça, tinha perdido um amigo há algumas semanas e outro no fim de semana [anterior de Alef contrair a doença]. Aí decidi ir ao médico e descobri que estava com isso. Tinha medo de ‘bater as botas’”, relembra Alef, que contraiu a Covid-19 há cerca de um mês. “Peguei porque tinha muito contato com clientes e também indo no centro atrás de peças de celular.”

Baile funk da 17 em rua da favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress)

O que esperar, então, para o futuro dos bailes? “Não vejo a hora dessa quarentena acabar, estou me profissionalizando ainda mais agora, investi muito em equipamento antes da pandemia e vamos fazer bailes de segunda a domingo se Deus quiser”, diz Alef.

Apesar do otimismo do DJ, é fato que o setor cultural é dos que mais têm sofrido durante a pandemia, e a previsão para o fluxo voltar na quebrada é das mais pessimistas. “Não quero pensar em data. Estou entrando em depressão de pensar nisso. Mas quando voltarmos para o baile, Paraisópolis vai ficar pequena”.
Promessa é dívida, Alef.

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