Sons da Perifa https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre cultura periférica, a voz da periferia Mon, 13 Dec 2021 15:07:17 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Baile das Sete Vidas acontece neste sábado (27) e retoma hip hop no centro de SP https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/27/baile-da-sete-vidas-acontece-neste-sabado-27-e-retoma-hip-hop-no-centro-de-sp/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/27/baile-da-sete-vidas-acontece-neste-sabado-27-e-retoma-hip-hop-no-centro-de-sp/#respond Sat, 27 Nov 2021 13:15:41 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/WhatsApp-Image-2021-11-25-at-17.10.29-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=829 Neste sábado (27) acontece a primeira edição do Baile das Sete Vidas, no Centro Cultural Ouvidor 63, festa comandada pelos DJs de Spanta e Gigo, que faz parte da programação da Terceira Bienal do Centro Cultural Ocupação Ouvidor63.

O baile é uma parceria da Central, que hoje é organizadora de diversos eventos no Point da Pixação, e fica na rua 24 de Maio, região central de São Paulo, e Projeto Swings&Batidas, composto pelos DJs Spanta & Gigo que tocam novidades da música brasileira, rap, funk soul e música eletrônica.

A ideia surgiu entre os representantes do Projeto Swings&Batidas e o proprietário da Central, para fomentar a cena do Hip Hop na região central de São Paulo, que hoje encontra-se pausada por conta da pandemia.

O evento gratuito será realizado na Rua do Ouvidor, 63, na Sé, região central da capital, e está programado para começar às 16h20.

 

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O rap ainda é uma competição injusta para músicos nordestinos, afirma Don L https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/o-rap-ainda-e-uma-competicao-injusta-para-musicos-nordestinos-afirma-don-l/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/o-rap-ainda-e-uma-competicao-injusta-para-musicos-nordestinos-afirma-don-l/#respond Fri, 26 Nov 2021 14:19:38 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/WhatsApp-Image-2021-11-25-at-20.46.02-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=830 Há dez anos, Gabriel Linhares da Rocha, nome de batismo do rapper Don L, reunia dinheiro e motivação para ir a São Paulo, deixando para trás Fortaleza, sua terra natal. A trajetória dessa jornada é o pano de fundo do seu novo disco “Roteiro para Aïnouz, Vol.2”, segundo da trilogia anunciada pelo cantor, que foi lançado na madrugada desta sexta (26) nas plataformas de streaming de música. Nele o cantor narra as estradas em que percorreu e imagina novos caminhos para o futuro Brasil.   

Diferente do disco anterior onde o músico de 39 anos expressa a decepção ao chegar na capital paulistana, desta vez, Don L usa os acontecimentos durante seu trajeto de 3000 quilômetros entre as duas cidades como metáfora de morte e renascimento. “Quando falo de um bandido do século dezoito e a corrida do ouro, na faixa Vila Rica, o cenário pós-apocalíptico de quando morrem os grandes sonhos e a vida acaba se torna uma guerra particular. A morte, e então o renascimento, a reconstrução deles a partir das cinzas da destruição do colonialismo, esse fracasso civilizatório que permeia nossas vidas por todos os lados.” afirma o cantor.

Outro tema sempre presente nas músicas de Don L é a desigualdade feita em sua visão pela indústria do rap, que prestigia menos os músicos do nordeste do país em comparação com o cenário do mesmo ritmo no sudeste —mas confessa ter visto mudanças. “Acho que contribuí para um progresso nesse sentido, de tornar possível rappers do nordeste se colocarem como competitivos na cena nacional. Mas continua sendo uma competição injusta, desigual. A mudança real tem a ver com estruturas muito mais profundas, com projeto de país e nossa diversidade cultural. E, no momento, o que existe é o desmonte do que já era frágil”.

Don L durante gravação de clipe para seu novo álbum ‘Roteiro pra Aïnouz, vol. 2’ ( Foto: Bel Gandolfo/ Divulgação)

O disco que tem assinatura artística de André Maleronka, mesmo dos últimos três trabalhos do cantor, traz diversas participações como Tasha e Tracie, Djonga e Alt Niss e faz o cantor se unir a cena mais nova do rap. “Nesse disco eu tento propor novos caminhos a partir de elementos que essa nova escola traz”.

Don L ainda afirma que uma das propostas do disco é conversar com a geração que o tem como inspiração, e que isso o tem incentivado a estar atento a outros ritmos derivados do rap. “Sempre bebo da água dos clássicos da música brasileira e do hip-hop mundial. Vou do funk, trap e drill aos clássicos do samba”.

Outro destaque é a capa do álbum —que virou até filtro no Instagram— teve projeto gráfico de Filipe Fillipo e fotografia de Autumm Sonnichesen. A obra faz uma releitura do disco “The Chronic” do rapper Dr Dree e mistura referências de discos dos selos americanos Strata-East e Black Jazz.  

Esse enredo criado por Don L e sua equipe foi pensado em parte como uma obra cinematográfica. “O tema do disco faz referência ao diretor de cinema cearense Karim Aïnouz. A opção de fazer uma trilogia reversa tem a ver com minha trajetória, de ter demorado a ser reconhecido na cena musical brasileira. Tenho uma longa história para contar e ressignificar o passado para aí sim construir um caminho novo para um futuro que valha a pena a luta”.

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Conheça os brasileiros que buscam o título mundial de breaking na Polônia https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/10/29/conheca-os-brasileiros-que-buscam-o-titulo-mundial-de-breaking-na-polonia/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/10/29/conheca-os-brasileiros-que-buscam-o-titulo-mundial-de-breaking-na-polonia/#respond Fri, 29 Oct 2021 19:29:20 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/WhatsApp-Image-2021-10-29-at-16.15.14-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=787 Enquanto o b-boy cearense Bart já garantiu sua presença na final do campeonato mundial de breaking, outros dois candidatos brasileiros buscam uma vaga no Red Bull BC One, etapa polonesa da competição. A mineira Isabela Rocha, conhecida como b-girl Itsa e o goiano Alexandre Duarte, codinome b-boy Xandin, fizeram história em São Paulo e se tornaram os primeiros campeões nacionais do Red Bull BC One, realizado em outubro.  Este título garantiu a classificação de ambos para a penúltima fase antes da final.

Os competidores vão se apresentar na cidade de Gdansk, na Polônia, em duas etapas: a primeira classificatória será realizada no dia 4 de novembro, os 24 classificados se juntarão na grande decisão no dia 6 de novembro. O evento contará com transmissão ao vivo em Youtube.com/RedBullBCOne e no canal SporTV, a partir das 13h.

Após vencer a etapa brasileira da competição, a b-girl Itsa, embarca rumo à Polônia visando ao grande título mundial (Foto: Fabio Piva/ Red Bull Content Pool)

De Belo Horizonte (MG), a bicampeã Itsa é a representante nacional feminina na competição. Integrante do elenco de dançarinos do Cirque du Soleil, a artista de 23 anos iniciou sua trajetória na modalidade logo na infância e não parou desde então. A atleta  é uma das grandes expoentes do breaking no Brasil. “Minha expectativa para o mundial é que as pessoas não se enxerguem apenas como competidores, mas como irmãos e irmãs de cultura. Estou preparado para dançar minha história”, afirma Isabela.

O B-Boy Xandin é um dos competidores que embarcou rumo à Polônia visando ao grande título mundial (Foto: Fabio Piva/ Red Bull Content Pool)

Já na categoria masculina, o b-boy Xandin, de Anápolis, no interior de Goiás, tem mais de uma década no esporte e diz confiar nos representantes brasileiros na competição: “Estou ansioso para a final. Acredito que tenho potencial para representar o Brasil e trazer esse título. Quero manter minha energia, dançando tranquilo e curtindo, acho que isso pode fazer toda diferença. Vou dar o meu melhor”, comenta Xantin.

A dinâmica do campeonato é simples: em formato mata-mata, os participantes têm suas habilidades avaliadas ao dançarem em frente a um painel formado por jurados que são referências na cena, como o holandês Menno, três vezes Campeão Mundial. Vale tudo para impressionar: técnica, criatividade e simpatia. Quem impressionar mais os juízes vence.

O B-Boy cearense Bart já tem vaga garantida na final Mundial (Foto: Fabio Piva/ Red Bull Content Pool)

 

Bart, que já tem vaga garantida na final mundial, no dia 6 de novembro, por meio de wildcards —recurso dado por desempenho e forte participação—  foi convidado a avançar direto à fase decisiva que nomeará os dois grandes vencedores mundiais, sendo um b-boy e uma b-girl.

Red Bull BC One – Final Mundial Polônia
Data: 04/11 (1ª etapa final mundial)

Data: 06/11(2ª etapa final mundial)
Horário: 13h
Local: Transmissão ao vivo no Youtube.com/RedBullBCOne e pelo canal SporTV

 

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Confira o SLAM SP, etapa paulista do campeonato de poesia falada https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/09/15/confira-o-slam-sp-etapa-paulista-do-campeonato-de-poesia-falada/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/09/15/confira-o-slam-sp-etapa-paulista-do-campeonato-de-poesia-falada/#respond Wed, 15 Sep 2021 21:03:40 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/Slam-2018-Sesc-Pinheiros-Foto-Sérgio-Silva-5-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=738 Nesta quarta-feira, dia 15, começa  SLAM SP, campeonato paulista de poesia falada, com etapas paulistas que vão até domingo, dia 19. A competição vale vaga no SLAM BR, etapa nacional da modalidade.

Ainda por conta da covid-19, o torneio será totalmente online, porém, o mecanismo é o mesmo: os slammers defendem seus versos em etapas classificatórias e depois são julgados por pessoas escolhidas entre o público espectador.

A novidade este ano será a escolha de pessoas entre o público virtual para o juri. Cada uma delas atribui notas após cada poema. Depois que a nota mais alta e a mais baixa são retiradas, o competidor que conseguir a pontuação mais alta é o escolhido para a próxima etapa.

“Considerando as dificuldades que temos enfrentado no campo da cultura nos últimos dois anos –e a necessidade de ouvirmos as vozes de poetas incríveis que nos ajudam a organizar um pouco esse caos– estamos felizes em conseguir realizar as edições do Slam SP e Slam BR em 2021 e com uma participação expressiva das comunidades. Os campeonatos estaduais de slam acabaram se entrelaçando ao nacional, já que o formato on-line possibilita que poetas de vários países estados participem”, comenta Roberta Estrela D’alva, a responsável por trazer o slam ao Brasil.

Tanto o SLAM SP quanto o SLAM BR são apresentados pelo Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, que comemora 20 anos de criação em 2021. Formado por Claudia Schapira, Eugênio Lima, Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’Alva, o coletivo pesquisa a linguagem e o diálogo entre a cultura hip-hop e o teatro épico.

“Temos, portanto, esse ano no campeonato estadual Slam SP, representantes de Minas Gerais, do Ceará, do Acre, do Rio Grande do Sul. Isso aumenta as chances de termos poetas de outros estados no Slam Br, que esse ano vale vaga para a Copa América de Slam que acontece em novembro na FLUP – Festa Literária das Periferias”, completa Roberta.

Slam SP
De 15 a 19 de setembro às 20h
Transmissão no canal do YouTube Núcleo Bartolomeu

 

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Com Clara Lima e MC Slim no júri, rappers disputam título nacional de batalha rimas https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/24/com-clara-lima-e-mc-slim-no-juri-rappers-disputam-titulo-nacional-de-batalha-rimas/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/06/24/com-clara-lima-e-mc-slim-no-juri-rappers-disputam-titulo-nacional-de-batalha-rimas/#respond Thu, 24 Jun 2021 22:14:22 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/ph-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=642 “A batalha de rimas foi o que me formou como rapper”, comenta a rapper Clara Lima, uma das juradas do campeonato nacional de batalhas de rima Red Bull FrancaMente. A disputa iniciou mais uma fase nesta quinta-feira (24), em seu canal da Twitch com programação online até 18 de julho. 

Depois de uma extensa seletiva, 32 MCs avançaram à fase final. É o caso de quatro MC’s paulistas classificados  e que agora vão disputar uma vaga na Final Nacional do torneio. Clara Lima, Max B.O. e Slim realizam a apuração dos votos ao vivo, indicando os melhores artistas que avançam à etapa final.

Entre os competidores paulistas, Luís Nascimento, vulgo Bigão, Matheus Ramos, conhecido como Motta MC, Alexandre Bane e Vinicius, o Vinny Nine, se destacaram na primeira fase da competição entre mais de 200 MCs, passando pelos critérios de Kamau, Slim e Mamuti na etapa de inscrições. 

Agora, os rappers encaram uma nova seletiva ao lado de artistas do Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Belém e Salvador. Apenas 15, anunciados  na live, seguirão na competição. A final nacional será transmitida ao vivo para todo o Brasil no canal oficial do Red Bull FrancaMente no YouTube.

Para o rapper Max B.O., um dos jurados do evento, analisar o conjunto da obra de cada MC é o maior desafio na hora de votar em quem deve seguir na competição. “A meu ver, fatores como criatividade, inovação e sagacidade são fundamentais ao serem avaliados, já que, para mim, freestyle é um bailado, é um malabarismo silábico. Apesar de mais desafiador aos rappers, este formato online é importante para que todos se adaptem aos novos desafios em suas trajetórias, que também incluem variados formatos de duelos e eventos”, diz.

Os duelos virtuais marcam um novo período para as batalhas de rimas, que ficaram conhecidas mundialmente por reunir jovens apaixonados pelo rap. Classificados pelo improviso e criatividade, os rappers que avançaram para a próxima fase do Red Bull FrancaMente já demonstraram como é rimar pelas telas de um celular, já que todo o processo de inscrição ocorreu pela internet. O aplicativo do evento funciona também como uma rede social para conectar rappers de todo o país.

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Com Kamau e Clara Lima, maior competição nacional de rap abre as inscrições https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/04/28/com-kamau-e-clara-lima-maior-competicao-nacional-de-rap-abre-as-inscricoes/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/04/28/com-kamau-e-clara-lima-maior-competicao-nacional-de-rap-abre-as-inscricoes/#respond Wed, 28 Apr 2021 15:01:42 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/WhatsApp-Image-2021-04-27-at-19.59.15-300x215.jpeg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=559 Red Bull FrancaMente volta com jurados de peso e promete se manter como a principal competição de rap no país.

Fortes nomes do rap reunidos, 14 edições históricas na conta, importante fortalecimento da cena que somou 17 mil inscritos em um único ano, são nessas características do maior torneio de rap mundial, Red Bull Batalla, que a versão nacional do evento, o Red Bull FrancaMente, se inspira.

Adaptado à língua portuguesa, a segunda edição do evento no Brasil oferece aos músicos a chance de mostrarem seu flow para o mundo.

Por meio de um aplicativo exclusivo disponível para sistemas iOS e Android, a galera vai poder interagir com MCs de diferentes localidades e claro, se inscrever na competição a partir de hoje.

Os jurados do Red Bull Francamente em 2018 (Fabio Piva/Red Bull Content Pool)

A competição será basicamente assim: depois de enviar seu vídeo pelo aplicativo, a bancada de jurados composta por Kamau, Slim e Mamuti vai avaliar e selecionar os 32 melhores MCs. Os escolhidos nessa primeira fase qualificatória serão avaliados pelos rappers no comando dessa segunda etapa: Clara Lima e Max B.O.

Na primeira edição do evento, em 2018, MC Toddy, hoje conhecido como WinniT, foi o vencedor que  conquistou o favoritismo dos jurados do evento no ano, ele comenta: “Acredito que tudo o que aconteceu na minha estruturação como MC se deu muito após a participação – nem me refiro à vitória em si – no Red Bull FrancaMente e aproximação com o Kamau. Até o evento, minha mentalidade não era tão ampla se tratando de batalhas de rima e nem mesmo sobre a minha profissionalização como artista. Para esse ano, espero que todos os envolvidos venham na mesma gana de realizar mais que uma batalha, e sim um show de rimas. Ao pegar no microfone, vale lembrar que cada um é dono da sua verdade e do tamanho da sua vontade”.

Foi nessa pegada que falamos com Kamau sobre a importância do evento e o momento do rap no país:

O festival FrancaMente da Red Bull que você faz parte tem que importância no cenário do rap atual?
O Red Bull FrancaMente chega à segunda edição, e a ideia é conectar-se com o país todo e atingir outros países lusófonos, nos moldes da Red Bull Batalla de los Gallos. Claro que nas devidas proporções por haverem menos países falando português do que espanhol.

Quais os critérios que você usa ao avaliar um bom rap?
Eu não uso um critério. Eu geralmente sinto. Tem coisa que simplesmente atinge e causa um efeito. Mas geralmente o que ouvimos primeiro é a batida. E ela prepara pra ouvirmos o que a pessoa ou as pessoas na música tem a dizer. Pode ser o flow, a ideia, a batida, o refrão. Se algo me cativar eu fico por ali um tempo.

Você é uma referência no rap para os relíquias e para os novos. Como tem visto essa evolução no ritmo e como se manter relevante com essa constância de novidades?
A evolução propriamente dita é sempre positiva. Nem sempre alguns elementos novos que se aproximam e são agregados à cultura necessariamente a evoluem. Mas a mudança é uma constante por mais que a essência se mantenha.

Manter-se relevante é relativo. Tem quem é mais falado nas mídias, tem quem é mais tocado nas listas, tem quem é mais lembrado nas conversas. A pluralidade tem norteado essa pauta da relevância. Eu faço o possível pra estar conectado e me mantendo autêntico, sempre lembrando quem eu sou no fim de cada dia.

Você é cria do “rap 90”, conseguimos destacar as grandes mudanças para a música nas últimas 3 décadas?
A democratização do processo de fazer música permite que muitos talentos surjam. Temos coisa boa de rap sendo feita nesse exato momento em inúmeros cantos do planeta. Mas com isso também surgem mais aventureiros e aproveitadores.
A forma com que a música chega às pessoas mudou. As pessoas não levam a música pra casa mais. Tudo é feito de maneira virtual.
A música agora acaba sendo quase supérflua, apesar de ser o fundamento de muito pra mim. A música não vende mais. O investimento  é no clipe, na camiseta, no produto em torno dela. E a arte essencial não é valorizada como antes.

O que toca na sua playlist?

Essas lançadas nesse período em que estamos. Mas não tenho uma playlist. A pesquisa é constante até porque estou sempre tentando criar algo. Então me inspiro e uso como matéria prima também

Em um dos seus últimos trabalhos, “Nada… de Novo”, você comenta que as coisas não mudaram referindo-se ao racismo e a violência. o Rap ainda tem cumprido esse papel de denúncia ou tem se tornado um ritmo cada vez mais pop?
O rap fala de muitas coisas há muito tempo. Essa, infelizmente, é uma delas. Por isso o título. Por não querermos que isso se repita e por não ser uma novidade. Mas o rap pode também falar de outras coisas sem excluir essas. O que é comercialmente aceito não é a única coisa que vem sendo feita. Não tem como colocarem o rap nessa caixa. Nem o ritmo e nem a poesia.

Quais são suas referências e o que te inspira para compor?
Eu escuto muita coisa da época em que conheci o rap e também escuto o que é feito agora que me agrada. As referências são inúmeras. Desde produtores, MCs, DJs e músicas que foram sampleadas até fontes fora da música como filmes, livros e séries. E as inspirações vem de pedaços dessas expressões artísticas ou de recortes da vivência, do cotidiano, do que eu penso e/ou observo.

 

Como participar do Red Bull FrancaMente:

Nesta primeira etapa, o participante deve:

1. Baixar o aplicativo Red Bull FrancaMente, disponível para os sistemas AndroidiOS

2. Criar um login para entrar na plataforma

3. Gravar um vídeo fazendo o seu improviso, com as palavras que serão sugeridas na plataforma.

4. Todas as rimas serão avaliadas pelo júri, que selecionará os 32 melhores MCs para avançar à fase de qualificatórias.

5. Após isso, os selecionados avançam na competição e serão informados dos detalhes das próximas etapas.

Fique de olho nas datas!

Em 2021, o Red Bull FrancaMente conta com fases de inscrições, qualificatórias e final nacional. Confira, abaixo, as principais datas para não perder nada do evento:

28/04 a 16/05: Inscrições

25/05: Anúncio dos classificados para a fase de qualificatórias

31/05 a 06/06: Qualificatórias regionais

24/06: Anúncio dos classificados para a fase final por meio de Live especial na Twitch

Julho: Final nacional

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‘Sonho em fazer clipes pelo mundo’, diz MC Soffia que completa 10 anos de carreira https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/04/01/sonho-em-fazer-clipes-pelo-mundo-diz-mc-soffia-que-completa-10-anos-de-carreira/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/04/01/sonho-em-fazer-clipes-pelo-mundo-diz-mc-soffia-que-completa-10-anos-de-carreira/#respond Thu, 01 Apr 2021 16:25:47 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/DSC_2036-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=507 Aos 17 anos e com uma carreira de dar inveja a qualquer MC iniciante, MC Soffia conta que em 1o anos os temas da quebrada continuam os mesmos

Há dez anos, Soffia Gomes da Rocha Gregório Correia era apenas uma criança de 7 anos, criada na zona oeste de São Paulo, que mesmo tão pequena já começava entender seu papel no movimento negro e periférico. Hoje, adolescente e com o currículo no rap de dar inveja a qualquer MC de primeira viagem, MC Soffia continua cantando letras de valorização da beleza da mulher negra e de empoderamento feminino.

Foi uma década de muito trabalho para ela, sua mãe Kamilah Pimentel, que é sua produtora musical e que estuda direitos autorais, e sua avó Lucia Regina, que a assessora em sua carreira. “O legal da minha família materna cuidar da minha carreira é que para fazer uma reunião eu nem preciso sair de casa”, comenta a rapper.

Em meio a pandemia e com perdas de familiares pelo coronavírus, Soffia tem focado em estudar idiomas e produzir cada vez mais músicas. “Meu sonho é fazer clipes ao redor do mundo e ser reconhecida na América Latina”, comenta a rapper que se apresentou na cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio 2016 com a também rapper Karol Conká.

Internet, cancelamento, empoderamento e futuro no rap foram alguns assuntos que conversei com Soffia e que você pode conferir agora.

Família e carreira 

Minha família materna é a que cuida da minha carreira. Minha mãe, por exemplo, está fazendo faculdade de direito para entender melhor sobre direitos autorais. Eu gosto muito da forma que é, me sinto confortável, se preciso fazer uma reunião, já estamos em casa. Quando eu falo, “quero lançar essa música, com esse beat”, eles entendem e acreditam muito em mim.

Eu sempre me impus bastante em como eu queria na minha carreira, seja nas roupas, nos videoclipes, nos beats das músicas, nas letras, então minha família se acostumou a sempre me ouvir e apoiar o que eu quero. 

A rapper MC Soffia (Foto; Divulgação)

17 anos e muito a percorrer

Sempre quis ter uma carreira artística, sempre quis mais do que só cantar. Já fui modelo, já fui atriz, participei de filmes e séries, quero muito continuar com isso. Quero criar uma marca de sapato. Eu tenho muita coisa na cabeça.

Representatividade e o sonho de produzir desenhos

Eu gosto de desenhos animados. Quando eu era mais nova, eu sentia falta de ter um desenho com uma menina preta. Só quando eu tinha uns 10 anos que comecei a assistir a “Doutora Brinquedo” [desenho do canal pago Disney Junior]. Ela é super importante, acho que deveria ter mais desenhos como esse.

Não temos que nos contentar com a minoria nos desenhos. Eles falam: “vamos colocar um preto aqui para contemplar o quadro de pretos”. Mas eles não entendem que a maioria no Brasil são pessoas pretas. Por isso não quero ficar me contentando com um personagem preto só no desenho. 

Por isso quero ter o meu próprio programa de TV. Ele teria apenas pessoas pretas, os convidados seriam jovens e eu seria a apresentadora. Cada dia eu estaria com um cabelo diferente para que as meninas começassem a se inspirar, ter referências. E não só de mim, mas também de outras pessoas do programa.

E quero também fazer um desenho para crianças. Se deixar, a minha irmãzinha assiste desenho o dia todo. Quando eu vejo o que ela tá assistindo, nunca são desenhos de pessoas pretas. Então eu gostaria de criar um desenho nesses canais tipo Gloob ou Discovery Kids, de uma adolescente preta que teria o cabelo black armado, ela seria uma sneakerhead [uma colecionadora de tênis], e cada dia da semana ela pegaria um de seus tênis para fazer um esporte. Na segunda, ela pegaria o tênis de skatista; na terça, de basquete; na quarta, de futebol, e aí por diante. E faria todos esses esportes, todas essas coisas radicais sendo uma mulher, sendo preta e se divertindo. As amigas dela seriam rappers, elas usariam fone de ouvido, caixa de som… Eu queria trazer esse tipo de conteúdo nos desenhos.

Pandemia e estudos

Eu perdi meu avô e tio por parte de pai. São tempos muito tristes. A gente nem sabe quando as coisas vão melhorar, os 40 dias da quarentena já passaram e continuamos dessa forma. Então nesse momento, eu estou me planejando. Como a minha equipe é familiar, a gente vem fazendo várias reuniões para conversar sobre lançamentos, sobre divulgações. Não estou só escrevendo música, estou fazendo outros projetos também. Estou aproveitando esse momento para isso: para fazer muita música, para estudar bastante, fazer meu curso de espanhol e inglês, terminar meus estudos. Quero me estruturar nesse momento.

Internet, bullying e cancelamento

Sempre entendi que a internet tem um lado bom e ruim. O bom é que eu consigo mostrar meu trabalho de forma bem mais fácil, o ruim é que qualquer um pode comentar positivamente ou negativamente. 

A Karol Conká é muito correria. Trabalhamos juntas na abertura das Olimpíadas e depois disso, sempre que dava, eu estava junto com ela. Quando ela foi para o BBB, e depois que tudo aconteceu, eu vi que a crítica às mulheres pretas tem um peso maior no linchamento. Eu como mulher preta, não vou criticar ela na internet. É isso que a internet quer, eles querem colocar um preto contra o outro. 

Eu não assisto BBB, mas não tinha como não saber de tudo. O cancelamento na internet foi muito grande. Eu não vou ficar criticando, posso dar minha opinião dentro de casa, mas nunca na internet.

Ídolos, referências e trap

As meninas no trap estão vindo com tudo. Eu prefiro muito ouvir mulheres do que homens. Elas trazem letras bem mais avançadas, você ouve e percebe como são complexas, elas juntam uma coisa na outra. Ouço muito Tasha e Tracie, essas meninas têm acrescentado muito na cena do trap.

Mas sempre tive como maior ídolo a Beyoncé, ela sempre foi a minha maior referência na música. Desde que eu decidi ser cantora, eu me inspiro nela. Na sua postura, personalidade, no jeito que faz os shows, nas suas roupas, ela é maravilhosa. Mas gosto muito também da Rihanna, da rainha do rap Nicki Minaj. E tenho ouvido muito mulheres que cantam letras empoderadas como a Lizzo, Normani, a Iza, Ludmilla, Tássia Reis. Minha playlist tem muita mulher boa.

Até por isso, em todas minhas inspirações na música, eu trago referências americanas. Eu fico vendo os looks, os beats das músicas, como eles compõem. Eu pego tudo isso e trago para o meu estilo aqui, escrevo as letras com empoderamento e uso o rap para falar o que eu estou sentindo, o que vejo nas periferias. Observo muito como a sociedade se comporta, por isso falo tanto de racismo, feminismo, amor próprio, empoderamento. 

O antirracismo, palavra que parece que surgiu recentemente, o Black Lives Matter e as manifestações que aconteceram no passado, tudo isso já apareciam nas minhas letras. Sempre falei do racismo.

Invisibilidade na música

As mulheres estão conseguindo cada vez mais espaço na música, seja no rap ou no sertanejo. Com a ajuda da internet, estamos tendo mais visibilidade. O machismo nos obriga a lutar sempre.

Fiz uma música que vou lançar esse ano chamada “Papo Reto”. Ela fala da invisibilidade da mulher no movimento musical, não só o rap, mas sertanejo, funk, trap, em todas as áreas da música. Por mais que no sertanejo as mulheres tenham alcançado um lugar legal, os homens ainda são muito mais famosos que elas.

Vi uma matéria recentemente que dizia que a Marília Mendonça, antes de começar a cantar, escreveu muitas letras de músicas que são estouradas no Brasil. Quando ela meteu as caras para cantar suas próprias músicas, ela representou muito as mulheres na cena.

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‘Quando o dinheiro cai em mãos erradas na quebrada ele causa rivalidade e desunião’, diz o rapper e produtor Jovem Obama https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/01/08/quando-o-dinheiro-cai-em-maos-erradas-na-quebrada-ele-causa-rivalidade-e-desuniao-diz-o-rapper-e-produtor-jovem-obama/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2021/01/08/quando-o-dinheiro-cai-em-maos-erradas-na-quebrada-ele-causa-rivalidade-e-desuniao-diz-o-rapper-e-produtor-jovem-obama/#respond Fri, 08 Jan 2021 13:09:44 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/IMG_7427-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=324 Era abril de 1992, em Los Angeles, Estados Unidos, quando quatro policiais foram absolvidos um ano depois de terem sido flagrados em um vídeo espancando, por mais de 50 vezes com golpes de cassetetes e armas de choque, Ronald King, um motorista negro que em nenhum momento reagiu. Isso foi o estopim para o início de uma série de protestos que resultou na morte de 53 pessoas. Naquele mesmo ano, mas a 8.403 quilômetro de distância dali, em São Paulo, o Secretário de Segurança Pública do governo Orestes Quércia dava a ordem para a invasão no Carandiru, ação que resultou na chacina de 111 pessoas.

A história negra é sempre regada com sangue e desgraça, seja em Los Angeles ou São Paulo. “Onde estiver, seja lá como for, tenha fé porque até no lixão nasce flor”, já diria Mano Brown na música “Vida Loka part. 1”, dando a entender que mesmo parecendo muito, nem tudo é desgraça. Vai vendo: em 29 de junho de 1992 nascia o menino negro, capão-redondense e com uma história ainda a ser escrita, Júlio César Nascimento de Miranda, vulgo o Jovem Obama.

O rapper Jovem Obama em divulgação do seu último álbum “As Aventuras do Jovem Obama” (Foto: Priscila Lippi)

MC, produtor e criador do selo SSGANG, Júlio, Judão ou apenas Obama é um dos nomes mais citados e valorizados na cena do rap underground do extremo sul de São Paulo. “No ensino médio me deram o apelido de Obama, foi lá que escrevi meus primeiros rap, estava aprendendo, tendo contato com o movimento underground. Naquela época, em 2015, o Emicida ainda era um MC em ascensão e os dois caras que mais inspiravam o extremo sul eram Dexter e Mano Brown”, diz Jovem Obama.

Já diria Emicida, nos anos 1990 a periferia de São Paulo era como um elevador que só descia, quanto mais fundo ia mais a gente sofria. Quem por nós viria? Ninguém sabia. Então, como historiadores que a caneta tinha, Racionais MCs, DMN, 509-E, SNJ e RZO, transformaram os discos em livros de história, não mais discriminatória e contraditória, mas agora focando sempre na vitória, para que o terror passado fosse ouvido com notória e que isso inspirasse os próximos criar a sua própria trajetória. Pegou a visão?

O rap foi um dos trajetos percorridos por muitos para fugir das estatísticas de mortes e encarceramentos. “Decidi fazer da minha vida o hip-hop em 2014, embora já tivesse contato com ele durante outros momentos da minha vida esse ano foi definitivo. Minha primeira música lançada foi Black Power, do meu antigo Grupo TheStreetJJ, essa música me levou ao festival AudioGroove”, comenta o MC.

Mesmo estando no lugar obvio para viver de rap, essa não é uma vida fácil, “A maior dificuldade é dinheiro, não por que não existe, é que ele simplesmente está na mão de gente que não tá nem aí pra quebrada. Isso promove desunião, por que afeta a condição que vivemos, passamos a ter rivais invés de aliados, disputa invés de uma frente de negócios e investimentos. Isso faz caminharmos para essa profissionalização em passos bem lentos. Produzir música na quebrada é ato de resistência, sobrevivência da nossa voz que sempre está gritando por liberdade” diz Obama.

Em 1997, Illinois nos EUA, Barack Obama entrava de vez na política como senador estadual. Longe dali, mas também eleito aquele ano, o Capão Redondo recebia o título de bairro mais perigoso de São Paulo, e foi naquele ano que os Racionais MCs lançaram o disco Sobrevivendo no Inferno. “O fator racionais é interessante, eles são uma antena para nós, essa antena colocou nosso bairro no mapa, isso permite que outras pessoas vejam o que tem aqui. Essa vitrine faz com que muitos artistas e produtores prosperem hoje por tudo que ocorreu lá trás” diz o rapper.

Isso motivou a criação de várias gravadoras independentes na região, sem dinheiro, ainda com pouca notoriedade no mercado, mas com muita foça de vontade. É mais fácil você mesmo produzir as suas músicas. Obama fez isso e em 2016 criou o selo SSGANG, projeto nascido para dar espaço pra MCs da zona sul, e que hoje conta com estúdio de gravação, produtora de áudio visual e eventos.

O rapper Jovem Obama em divulgação do seu último álbum “As Aventuras do Jovem Obama” (Foto: Priscila Lippi)

Violência, morte, racismo e pobreza é do cotidiano de qualquer jovem preto periférico dos anos 1990 e início de 2000, isso por pior que seja é o motivo da existência do rap. Mas, além de lidarmos cotidianamente com a desgraça de viver na precariedade, temos também que conviver com os traumas familiares, “minha mãe, minha deusa, minha salvadora, heroína, morreu em 2017. Ela deixou um buraco enorme em mim. Ela sempre foi o meu porto seguro, minha amiga, minha mentora e moldou meu caráter. Se formou na faculdade quando já tinha 50, fez pós-graduação. Ela era inspiradora”, lamenta Obama.

Orfão de pais e morando junto com sua única irmã, hoje o rapper se dedica na divulgação de suas recém lançada mixtap “As Aventuras do Jovem Obama” com o sonho de viver do rap. “Sou uma Quimera, me espelho em muitas pessoas ao mesmo tempo que tento manter minha singularidade. Imagino que minhas opções são diferentes das pessoas que eu me inspirei, como Drake, Brown, Mv Bill, Dre, Snoop, Puff Diddy e Jay-Z, que são caras que eu olho para caminhada deles e penso que são modelos do que quero ser e fazer”, comenta.

Enquanto em 28 de agosto de 1963 Martin Luther King discursava sobre racismo e direitos civis para os negros, em 2021 ainda discutimos se existe racismo no brasil. Isso faz com que jovens Obamas precisem nadar muito além da borda da piscina para poder sobreviver. Por isso temos o rap, ele é o nosso salva vidas.

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Nic Dias fala sobre trap na Amazônia: ‘eu existir e trabalhar com rap já é uma vitória’ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/08/17/nic-dias-fala-sobre-trap-na-amazonia-eu-existir-e-trabalhar-com-rap-ja-e-uma-vitoria/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/08/17/nic-dias-fala-sobre-trap-na-amazonia-eu-existir-e-trabalhar-com-rap-ja-e-uma-vitoria/#respond Mon, 17 Aug 2020 15:02:16 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/Nic2-por-Vitoria-Leona_3-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=75 “Não tem essa de rap de mina, rap é rap. Quando você for ouvir um rap ouça as rimas ao invés de falar que não tem rap de mina. Se você tem internet pra falar besteira tem para dar um google”. A opinião é da cantora Tasha, durante a live com sua irmã Tracie, em resposta a mensagens preconceituosas de alguns internautas durante a transmissão.

Talvez você ache que para ser rapper é preciso ter cara de mau ou ser durão, “sem risadinha porque aqui é o rap onde o povo é brabo entendeu? O povo é mau! Mau! Para trabalhar nesse emprego de rapper você tem que ser mau”, diz Emicida com sua filha gargalhando ao fundo na música “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida”.

É, o rap definitivamente não é isso, mas durão? Bom, isso a mulher preta de quebrada tem de sobra.

A rapper Nic Dias (Foto Vitoria Leona)

Periferia é periferia em qualquer lugar, seja da ponte pra cá ou da ponte aérea pra lá de Belém do Pará, mais precisamente na periferia de Icoaraci onde Nicole Dias, 21, conhecida como Nic Dias nas redes faz sucesso como rapper, ativista e compositora.

“O rap já estava presente na minha vida desde pequena. Na real, todo mundo aqui na periferia ouve rap, além dos sons ‘mais regionais’ como o tecnomelody, os clássicos do Racionais Mc’s sempre estiveram presente em todas as periferias do Brasil, inclusive aqui”, diz Nic Dias. Prova disso foi um vídeo que viralizou onde mostra a reação emocionada de um vendedor ambulante no meio da multidão em pleno carnaval de Salvador, ao ver o Mano Brown subindo no trio para cantar Negro Drama.

“Mandinga, coisa nossa. Eles não vão entender o que são riscos, e nem que nossos livros de história foram discos” já dizia Emicida na música “Ubuntu Fristili”. Na quebrada, a música forma caráter e mostra quem somos e para onde vamos. Nic conta que mesmo que de forma inconsciente, o rap estava presente na sua vida.

“Durante a pré-adolescência eu passei a prestar mais atenção ao que o rap sempre me disse, por começar a vivenciar de modo mais agressivo as diversas formas de violência que atravessavam o meu corpo”, relembra ela que afirma que ao se questionar o porquê disso tudo, notou o rap dialogando sobre autonomia, algo que ela nunca aprendeu na escola. “Passei a entender melhor quem eu era e a entender a figura do negro no Brasil”.

Entre guitarradas e tecnomelody, ritmos com espaços popularmente consolidados nas quebradas paraenses, o rap veio chegando “devagar devagarinho” na cena musical das comunidades.

“O movimento hip hop em Belém existe desde os anos 1990. Foi com muita luta que os irmãos e as irmãs do movimento foram construindo esse espaço dentro do cenário musical daqui, mesmo com muita opressão por ser um ritmo marginalizado socialmente, e de toda a questão da falta de estrutura e recursos, a cena vem se construindo aos poucos”, diz Nic.

Ela completa ainda que fazer trap na Amazônia é bem difícil, principalmente, quando se deixa de lado “aquele regionalismo estereotipado de falar sobre açaí com camarão, farinha, Ver-o-Peso’’.

“Acredito que a aceitação em si é a menor dificuldade enfrentada pelos artistas de rap nortistas. O maior problema é a falta de infraestrutura, o acesso aos recursos, ou seja, o leque de possibilidades de profissionalizar a tua arte é bem pequeno, e como as pessoas vão levar a sério o que tu faz?” completa.

Mas como qualquer ritmo de quebrada, o trap só se fortalece com as dificuldades. Nic, por exemplo, até cita alguns parceiros que estão na mesma “caminhada” que ela no Norte, como MC Super Shock, CPG77, Ruth Clark MC, Yasmin Oss, Drin, Pele do Manifesto, Bruna BG, e o Navi Beatz. Mas, ela avisa, que a lista de “artistas incríveis aqui no estado (Pará) é infinita”.

Entre Dina Di, considerada por muitos a primeira rapper, e Nic Dias, muita coisa mudou para as mulheres na cena.

“Eu não costumo falar que meu som é empoderamento feminino, eu gosto de imaginar que só o fato de eu existir e estar trabalhando com rap já é uma vitória para nossa comunidade negra”, diz Nic que explica que para além do recorte feminino, costuma pensar que sua luta é coletiva para homens negros e mulheres negras, da periferia ou não e cita o rapper Kayuá que afirma que: “ver preto vencendo já é uma mensagem”.

Longe de ser uma voz melódica no trap, Nic Dias veio com rimas pesadas no seu último single. Ela analisa que, normalmente, espera-se que minas que fazem rap tenham uma voz suave cantando de forma melódica e delicada fazendo os famosos “lovesongs”.

“Nada contra quem faz, a arte é livre pra ser o que quiser”, esclarece ela, que explica que seu som vai na na contramão disso. “‘Baby Prince$$’ é um trap que fala sobre como as mulheres pretas devem se sentir gostosas, independentes, fodas e chefonas. Além de abordar questões como da violência policial. Esse single foi um divisor de águas na minha vida, porque eu entendi que posso falar e fazer o que quiser e como eu quiser, além de passar essa visão”, diz Nic.

“No momento, estou trabalhando no projeto do meu disco com dez faixas que vai ser lançado no final de 2021 com muita surpresa boa”. Estamos no aguardo, Nic.

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Como a representatividade impulsionou o rap nas rádios para além da quebrada https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/08/10/como-a-representatividade-impulsionou-o-rap-nas-radios-para-alem-da-quebrada/ https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/2020/08/10/como-a-representatividade-impulsionou-o-rap-nas-radios-para-alem-da-quebrada/#respond Mon, 10 Aug 2020 15:24:03 +0000 https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/rap-300x215.jpg https://sonsdaperifa.blogfolha.uol.com.br/?p=62 “Hey, hey, hey, nego, você está na sintonia da sua Rádio Êxodos. Eu, DJ Nel, comandando o melhor da Black Music. São 23 minutos de um novo dia. O Japonês do Jardim Rosana manda um salve para o Zezé, pro Chiquinho, pro Kau, pro Ribeiro, pro Tico, Zulu e o Serginho. O Valtinho da Sabin manda um salve aí pro Vandão da Vila do Sapo, e a Kiara do Embu manda um abraço para a Viviane do Sadí. É! O Papau do Parque manda um salve pros manos da 50, e o Adriano do Tamoio manda um salve aí para rapa do Sujeito Suspeito do Paranapanema. E pra você que está pensando em fazer um pião, pegue seu bombojaco e sua touca, porque faz 10°C em São Paulo”.

Percebeu? Essa introdução da música “Da Ponte pra Cá”, dos Racionais MC’s, deixa claro como as rádios foram um marco no Rap Nacional. Então senta, que lá vem história.

Se você nasceu em qualquer quebrada antes dos anos 1990, talvez seu primeiro contato com o rap tenha sido ouvindo alguma rádio comunitária. Rádio pirata? Não, não é rádio pirata, é co-mu-ni-tá-ria. Ainda não entendeu? Então acompanhe a explicação do Black Blue, ex-produtor do Racionais MCs, na música “Todos São Manos”, do grupo RZO.

“Aê rapaziada, a rádio defende nosso povo da periferia. Ela se baseia em quatro princípios: solidariedade, companheirismo, cooperação e integração social. A rádio não visa lucro, não é religiosa, não discrimina cor, sexo, nem se envolve em atividade econômica e nem é antiprofissional. Ela organiza grupos comunitários. Toca o som da nossa gente; o samba, o reggae e o rap. E assim por diante, morô? Mas, também, ela discute e debate os problemas que afetam o povo da periferia. (…) Por isso, se sua rádio não for assim, se liga sangue bom.”

Faz sentido agora? Então fica fácil entender que esses pequenos veículos eram um meio da comunidade se comunicar por si mesma para ela mesma. E em muitas quebradas, até hoje, ainda é assim que as rádios comunitárias funcionam. E foi assim. Como o rap fala da periferia para a periferia, o casamento do estilo musical com as rádios comunitárias era óbvio.

Para as grandes rádios, no entanto, o rap não era uma coisa tão atrativa nos anos 1990. É o que conta Nuno Mendes, radialista da rádio 105 FM, autor do canal “É nóis na fita” e um dos fundadores do programa Espaço Rap, que está no ar há mais de 22 anos. “O rap nacional já estava consolidado na rua desde os final dos anos 1980, mas nenhuma rádio dava espaço. Com o surgimento do fenômeno Racionais MCs, com as músicas ‘Fim de Semana no Parque’ e ‘Homem na Estrada’, rádios que não tinham nada a ver com rap, como a Transamérica e Jovem Pan, que eram as rádios mais ouvidas da época, foram obrigados a abrir espaço para essas músicas. Existiam muitos pedidos dos ouvintes. E a 105 Fm também era obrigada a tocar, mas como nós tocávamos apenas essas dos Racionais MCs, para destacar aquele único rap do resto da programação, nós criamos uma vinheta chamada ‘Espaço Rap 105 FM’ que aparecia antes das músicas.”

Da esq. Ice Blue, Nuno Mendes, Mano Brown e Helião (Foto arquivo pessoal)

Imagine que você está andando na sua quebrada, chupando um geladinho – ou sacolé, para os de fora de São Paulo -, de chinelo, bermuda e uma camiseta da Fubu – sim, esse sou eu nos anos 2000 – quando, na mercearia do Gilson – aquela em que ele deixa as caixas de som para fora da loja, para atrair os clientes – está tocando a rádio Transamérica. Ao som de 240 decibéis, acaba “Oops! … Did It Again” da Britney Spears e, do nada, começa, “Um homem na estrada recomeça a sua vida, sua finalidade a sua liberdade…”, você até para só para ouvir mais um pouco. Sim, essa é aquela coisa chamada representatividade, amigos. Que ouvimos tanto ultimamente.

E foi justamente esse sentimento de representatividade que ajudou o “Espaço Rap” a se transformar de uma mera vinheta para um programa de horas. Foi esse programa, também, que tornou a 105 FM uma das rádios mais tocadas nas comunidades de São Paulo.

“Ter esse espaço ajudou muito” diz Dj Bola8 do grupo de rap Realidade Cruel, formado em 1992 e em atividade até hoje, “somos de uma época que a divulgação era feita por panfletos na porta das escolas, saídas de bailes, divulgação com cartazes em A3 colocado nos postes, lambe lambe e etc. Era uma época mais difícil, mas era o que tínhamos para chegar com a nossa música na periferia e passar a nossa visão”, conclui.

Os integrantes do grupo de rap Realidade Cruel composto da esq. por TM, Tuca Lelis, Dj Bola8 e RO, o grupo ainda conta com Dugueto. (Foto Som Livre/Divulgação)

“No fim do ano de 1997, na escala de fim de ano, nós pedimos para a direção para fazer um programa especial de Rap e usamos a vinheta “Espaço Rap” para dar nome ao programa. Era um programa de 30 minutos, sem pretensão nenhuma. Por coincidência, o diretor da rádio estava presente nesse dia do especial e percebeu que o telefone disparou. Lembrando que o telefone, na época, era o nosso termômetro instantâneo para saber se o programa estava indo bem ou não. Bom, foi isso. Foi ali que nasceu o Espaço Rap, primeiro com 15 minutos durante a programação e acabou aumentando até ocupar grandes espaços na grade da rádio”, relembra Nuno.

Mas mesmo com o programa se tornando um fenômeno de audiência, vale destacar que ele não virou o queridinho dos anúncios. “Tirem meu anúncio do programa dos rappers!”, dizia o titulo de uma matéria da Folha de S.Paulo, em 11 de fevereiro de 2004.

A reportagem mostra que o programa “Espaço Rap” tinha um 1,5 milhão de ouvintes por minuto. Era isso que mantinha a 105 FM entre as rádios mais tocadas na grande São Paulo.

O ibope consolidado, no entanto, não inseriu a 105,1 MHz na lista de poderosas agências de publicidade. O diretor-geral da emissora, Sérgio Pinesi, afirmou, na época da reportagem, que um dos principais motivos para a ausência dos anúncios era, justamente, programação de hip hop, que ia ao ar das‪ quatro horas da tarde à meia noite.‬

Como diria Ice Blue na música “Eu compro”, no disco Cores e Valores, de 2014, “o racismo é disfarçado há muitos séculos. Não aceita o seu status, nem sua cor”. Não importa a roupa que vestimos ou quão alto chegarmos, para os racistas; ainda seremos uma ameaça.

Foi por meio da influência do programa “Espaço Rap” que outros grupos do gênero tiveram força para surgir. Por apoiarem bandas como Racionais MCs, RZO e DMN, divulgando suas músicas em massa, outros grupos similares tiveram coragem para apostar na música e viver dela.

Hoje, o YouTube e as redes sociais têm dividido e até substituído, em muitos lugares, o poder de divulgação do rap. Muitas música e novos artistas agora nascem por ali, e não necessariamente nas ondas do rádio. Mas, cá entre nós, o Mano Brown como radialista da Rádio Êxodos, em “Sou + Você”, é melhor do que qualquer post de autoajuda do Instagram. “Bênção, mãe. Estamos iniciando nossas transmissões. Essa é a sua rádio Êxodos. Hey, hey. Vamos acordar, vamos acordar, porque o Sol não espera, demorou? Vamos acordar, o tempo não cansa. Ontem a noite você pediu, você pediu uma oportunidade, mais uma chance. Como Deus é bom, né não, nego? Olha aí, mais um dia todo seu. Que céu azul louco, hein? Vamo acordar, vamo acordar. Cabeça erguida, olhar sincero, ‘tá com medo de quê? Nunca foi fácil, junta os seus pedaços e desce pra arena. Mas lembre-se: aconteça o que acontecer, nada como um dia após outro dia”.

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