Google vai investir R$ 5 milhões em startups lideradas por negros no Brasil

Quantos negros você vê no seu ambiente de trabalho? Lembra de algum? Talvez nem tenha ou você seja um dos únicos. É difícil entender isso já que vivemos no país com mais negros fora do continente africano, já que 56% da população brasileira se considera negra ou parda segundo o (IBGE). A população negra é a que mais sofre com o desemprego. Por exemplo, no último trimestre de 2019, o desemprego aumentou apenas na população negra. Somos os que mais sofrem, morrem, e os que mais precisam recomeçar.

“Porque todo negro precisa mostrar que são melhores em tudo?”. Esta é uma indagação de Daniel Kaluuya no filme “Queen & Slim” (2019). Consegue me responder porque a gente começa muito atrás e temos que ser duas vezes melhores sendo que estamos dez vezes atrás nessa corrida? A conta não fecha, parceiro.

Por outro lado, somos muito bons em nos reinventar. Entre os pretos que estão no mercado de trabalho formal, 29% são donos dos seus próprios negócios, de acordo com os dados do Instituto Locomotiva. Claro, a maioria desses negócios são dentro das comunidades ao redor do Brasil. Investidor anjo? Processo de aceleração de startup? Não. Segundo o PretaHub, em parceria com a Plano CDE e JP Morgan, a maioria deles iniciou seus negócios com poupança própria ou de familiares e amigos. É ‘nós por nós’, sempre!

Pensando em como ajudar e se aproximar da população preta no Brasil, o Google for Startup iniciou o Black Founders Fund, uma iniciativa que se propõe a dividir R$ 5 milhões em investimento em statups criadas e lideradas por negras e negros. O diferencial dessa iniciativa é que o Google não terá nenhuma contrapartida ou participação societária na empresa investida.

Além do investimento inicial, as startups terão créditos em produtos do Google, mentores para ajudar no seu desenvolvimento e vão participar dos programas realizados pelo Google for Startups Brasil.

Se você mora na quebrada e quer comer um Big Mac sabe bem que tem que ir até o restaurante. Não existe a comodidade de pedir um Rappi ou iFood, eles não nos atendem, dizem que é área de risco e não têm motoboys suficientes. Foi por isso que Iago Santos, 27, morador de São Caetano, periferia central de Salvador, criou o TrazFavela.

“Se eu ficasse com vontade de comer alguma coisa eu tinha que pedir no meu trabalho pelo aplicativo de delivery para levar para casa. Os aplicativos não atendem minha região mesmo sendo próxima do centro. Eu sentia essa dor de não poder usar. Foi quando lancei essa ideia”, explica Iago.

“Eu sou porque nós somos”, essa é uma das frases que mais explicam a filosofia africana, a ubuntu. Ninguém chega sozinho.

“Dos meus 12 aos 32 anos curti o Carnaval apenas duas vezes, pois sempre fui para trabalhar” diz Marcos, formado em ciências da computação pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e um dos sócios da empresa TrazFavela. “Eu e minha família sempre tivemos essa veia empreendedora, essa foi a minha saída para crescer profissionalmente mais rápido” completa.

No início deste ano, o TrazFavela foi convidado para participar de um programa de aceleração do Google chamado Startup Zone no início deste ano. “Quando recebemos a notícia de que o Google estava interessado em nos ajudar ficamos muito felizes. Mesmo lisos fizemos de tudo para ir para São Paulo para participar do treinamento”, diz Iago.

O TrazFavela foi uma das três primeiras empresas escolhidas para receber esse investimento do Google Black Founders Fund. “Acho que esse investimento vai nos ajudar acelerar o processo de desenvolvimento do nosso aplicativo e também a aumentar o público periférico” diz Ana Luiza, 27, formada em marketing e responsável pela parte administrativa da startup.

Iago, um dos sócios fundadores da startup TrazFavela (Foto: Divulgação)

Apostar em empresas de periferia significa ajudar uma comunidade inteira, quando uma empresa cresce dentro da comunidade, cresce também o impacto social dela. A tecnologia não é nada acessível, equipamentos caros e falta de acesso a cursos de programação dificulta o surgimento de novas propostas e ideias dentro das quebradas.

“Quando é investido dinheiro e conhecimento em empresas nas comunidades, investimos nas comunidades, fazemos elas crescerem por elas nas ideias delas mesmas” diz André Barrence, responsável pela área de startups no Google. “A população de negros no Brasil é muito grande mas ao mesmo tempo o investimento nelas é quase zero, eu como negro fazer parte dessa iniciativa é incrível, espero poder ajudar o maior numero de empresas de periferia possível, a ponto de pedir mais investimento para o Google”, completa.

“Eu não posso” é uma afirmação muito comum para nós pretos de periferia, investimentos é apenas uma carona para termos sucesso, porque potencial temos de sobra.