Laboratório de dados criado na favela do Jacarezinho recebe prêmio da comissão de direitos humanos da Alerj

Representatividade negra e antirracismo são as palavras da vez aqui na terra onde supostamente não existe racismo. O lado bom disso? Nós como negros acabamos conseguindo mais visibilidade em propagandas, filmes, processos seletivos de trainee… Mas isso soluciona apenas uma pequena parte da ponta do gigante iceberg que é o problema dos pretos pobres no Brasil.

A deepweb dos problemas dos pretos aqui é um buraco sem fim, e diariamente é atualizada com notícias que só o povo periférico é obrigado a sentir na pele. Então, o que fazer?

Apoiar iniciativas construídas nas periferias para promover mudanças significativas nas próprias comunidades periféricas é a melhor forma de exercer o antirracismo no momento.

Uma delas é o LabJaca, um laboratório de dados e narrativas criado por seis jovens negros na favela do Jacarezinho, Rio de Janeiro, que teve o início durante a pandemia com o objetivo de coletar dados sobre o impacto da Covid-19 na comunidade, já que os dados oficiais divulgados pelas secretarias não condiziam com a realidade. Iniciativa que resultou na homenagem “Carolina Maria de Jesus” entregue pela deputada estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Renata Souza (PSOL),  no ultimo dia 9 de dezembro.

Os voluntários Mariana de Paula e Thiago Nascimento com o prêmio “Carolina Maria de Jesus” da Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Foto: @labjaca no twitter)

A última pesquisa do IBGE, de 2018, apontou que a comunidade tem 39,5 mil habitantes e uma das piores expectativas de vida entre as comunidades do Rio de Janeiro. Imagina na pandemia.

“No final do ano passado (2019), vimos que precisávamos fazer algumas coisas aqui no Jacarezinho. Falávamos: ‘a [comunidade] Maré tem várias instituições legais, o Alemão também’, mas por falta de dinheiro e tempo não conseguimos fazer. Entramos em 2020 e veio a pandemia”, comenta Bruno Souza, 22, que é jornalista, pesquisador de segurança pública e coordenador de comunicação do projeto.

Com isso, o projeto teve início por causa da inquietação e da vontade de ajudar a comunidade do Jacarezinho, “começamos com uma campanha chamada ‘Jaca Contra o Corona’, onde trabalhamos a segurança alimentar, já que a comunidade estava com uma vulnerabilidade bem maior por conta da questão do isolamento social”, diz Thiago Nascimento, 23, estudante de Direito voluntário do LabJaca.

Com a distribuição das cestas básicas para a comunidade e o constante contato com os moradores, chamou atenção a dificuldade ao acesso a dados que estavam sendo divulgados pela mídia. “Muitas vezes moradores nos informavam sobre vizinhos que estavam com covid, ou que veio a óbito pela doença, e que não apareciam nos registros oficiais”, afirma Thiago.
A partir daí, eles se juntaram e começaram a fazer essa pesquisa com os moradores do bairro com o objetivo de saber os dados reais de infectados e óbitos pela Covid-19. “Sabendo desses dados, a gente consegue cobrar do governo uma melhor política de saneamento para a região”, completa Bruno.

Só apresentar os dados não é o suficiente. Sabemos que somos os que mais morrem anualmente, os que mais ficam desempregados, os que mais sofrem. Esses dados são sempre atualizados, porém, além de poucos terem acesso, muitos naturalizam essas informações.

“Criamos uma websérie sobre a pandemia onde mostramos, além dos dados, histórias de moradores do Jacarezinho e como eles têm vivido durante a pandemia. Tudo isso para transformar os dados em uma comunicação acessível a todos, nos preocupamos em colocar legendas para os cegos e em inglês para os que estão fora do país”, diz Bruno.

No momento o projeto é financiado e feito pelos próprios voluntários, mas eles contam com uma campanha de financiamento coletivo para o projeto. “Queremos transformar o LabJaca em um laboratório de comunicação e de dados da favela para a favela. A forma como as doenças afetam o povo periférico é diferente da forma como afetam outras regiões do Rio e estamos cansados de ver outras instituições indo até as comunidades e simplesmente colhendo informações que não são traduzidas em melhorias para a gente”, comenta Mariana Galdino, coordenadora de operações do LabJaca.

Ser antirracista é trabalhar e apoiar os projetos do povo preto. É fazer isso enquanto ainda vivemos, enquanto ainda temos esperança.

Quer apoiar o projeto? Clique no link benfeitoria.com/labjaca e escolha uma das opções disponíveis. Corre lá que o tempo está acabando. Não consegue ajudar agora? Divulgue essa iniciativa para outros, sigam e compartilhem as redes sociais dos projetos. Pequenas atitudes como essa no fim podem salvar muitas vidas.