Festas literárias, documentários, empreendedorismo preto e muita música marcaram o ano na periferia
Mais um ano se passou e muita coisa aconteceu– melhor falarmos baixo, o inimigo ainda tem 6 dias de trabalho– e na quebrada o que rolou de novidade não foi pouca coisa. Como prometido, o Pega a Visão de dezembro é um apanhado de coisas legais que rolaram nesse ano (ou não) e que vale a pena ser levadas para 2021.
Lembrando que se você quer ver seu trampo aqui, é só mandar um email para sonsdaperifa@gmail.com. Vamos analisar com carinho e, se for mesmo relevante, divulgaremos nesta lista no fim do mês.
Dicas do ano
“Eu sou fotógrafo e as memórias da quebrada ficam no meu imaginário”, diz Nenê, 26, e idealizador do “Quebradinha”. São miniaturas de casas periféricas feitas com materiais reciclados que carregam em seus detalhes, histórias e sentimentos muito comuns de quebrada. Vale a pena seguir.
Thata Alves – Baobá é Memória
Se liga nessa dica. A poetisa Thata Alves lançou seu primeiro trabalho voltado ao público infantil: “Baobá é Memória”. Um jogo da memória com cartas inspiradas em Orixás, com ilustrações feitas pelo designer e ilustrador Tag Lima. O brinquedo é ideal para os pais e crianças que querem cultivar uma cultura de ancestralidade negra na família. Além disso, também tem como propósito proporcionar o aprendizado sobre os Orixás de modo intuitivo e inconsciente pelas crianças. Onde comprar? Acesse o site ou a procure no instagram @thataalvespoetisa.
Mc Rebeca – EP. Enquanto Tiver Funk É Carnaval
Direto do Morro São João, na Zona Norte do RJ, e depois de dez anos como passista da escola de samba Salgueiro. MC Rebeca saiu do samba para se tornar cantora de funk. E lançou o EP Enquanto Tiver Funk É Carnaval.
Com matérias sobre os 23 anos do disco “Sobrevivendo no Inferno” dos Racionais MCs e sempre valorizando as jornalistas e criadores de conteúdo pretas, a Brasa Mag chegou com tudo. A revista digital composta por 25 mulheres pretas e um homem negro, todos eles espalhadas por todo o Brasil, já é referência cena rap.
Como seguir? É só procurar por brasamag no instagram ou twitter e dar aquela curtida.
Documentário – Nós, Carolinas – vozes das mulheres da periferia
Mês de março é o momento ótimo para reassistir o documentário “Nós, Carolinas – vozes das mulheres da periferia”. O documentário foi criado e dirigido pelo coletivo Nós, Mulheres da Periferia, formado por sete jovens comunicadoras, fala sobre racismo, solidão, maternidade e a busca da autoestima e outros temas levantados sobre as condições de ser mulher, negra e periférica. As entrevistadas, que têm entre 17 e 93 anos, embora possuam trajetórias diferentes, estão conectadas por elementos cotidianos, como os impactos do machismo e desigualdades raciais e sociais ainda presentes no Brasil.
“Quando eu conto a história da minha área, acho que conto a história de todas as áreas do Brasil que se parecem com de onde eu vim…” disse Djonga via Instagram, e é verdade, o disco mostra todas as coisas boas e ruins que rolam na quebrada. Vale muito o play!
O Pequeno Príncipe Preto
Em um minúsculo planeta, vive o Pequeno Príncipe Preto. Além dele, existe apenas uma árvore Baobá, sua única companheira. Quando chegam as ventanias, o menino viaja por diferentes planetas, espalhando o amor e a empatia. O texto é originalmente uma peça infantil que já rodou o país inteiro. Agora, Rodrigo França traz essa delicada história no formato de conto, presenteando o jovem leitor com uma narrativa que fala da importância de valorizarmos quem somos e de onde viemos– além de nos mostrar a força de termos laços de carinho e afeto. Afinal, como diz o Pequeno Príncipe Preto, juntos e juntas todos ganhamos. Disponível na Amazon.
Que tal ficar bonita o ano todo? Negô Tranças, salão de beleza formada por duas trancistas negras , Ayo e Luísa Vasconcelos, e teve o nascimento a partir do lema “As tranças carregam história, luta, afeto, transformação e, para deixar escuro, beleza”. E é por conta disso que a NEGÔ também é uma plataforma mobilizadora de autoestima, e que tem como objetivo empoderar o nosso povo preto e valorizar a ancestralidade da cultura afro. Bora marcar um horário? consulte a agenda.
Não foi fundado esse ano mas a dica é ótima. Partiu fazer parte de um clube de assinatura? O Clube Da Preta entrega direto na sua casa uma caixinha com itens surpresas e criativos que vão desde artigos de moda até arte e acessórios. Tudo isso feito por afroempreendedores. Veja as opções disponíveis no site.
“O funkeiro cult sempre existiu, a página só mostrou ele para o Brasil” comenta afirma Dayrel Azevedo, 21, criador do perfil no Instagram. Citado pelo advogado Silvio de Almeida no Roda Viva, o perfil divulga memes dos “cria” lendo um livro e sempre com um frase no estilo quebrada. Por exemplo, para explicar o livro do médico francês Nostradamus, a legenda que acompanha é a seguinte: “Bruxão já sabia das fita antes mesmo dos B.O. acontecer”. Vale apena seguir!
FLICT e FLINO
Entre os dias 27 de novembro e 5 de dezembro rolou FLICT, Festa Literária de Cidade Tiradentes (no Extremo Leste de São Paulo); e a FLINO – Festa Literária Noroeste, que articula distritos dessa região. As 2 iniciativas promoveram 7 dias de programação online totalmente gratuita, destacando a cena cultural da quebrada e trazendo debates importantes sobre temas que atravessam o cotidiano de quem vive na perifa.
Para assistir novamente o evento é só acessar o facebook e o instagram da FLICT e da FLINO.
Nic Dias – Baby Prince$$
Quem disse que na Amazônia não se faz trap. Nic Dias, 21, rapper amazonense vem na contramão dos lovesongs, estilo comum entre as mulheres no rap. “‘Baby Prince$$’ é um trap que fala sobre como as mulheres pretas devem se sentir gostosas, independentes, fodas e chefonas. Além de abordar questões como da violência policial. Esse single foi um divisor de águas na minha vida, porque eu entendi que posso falar e fazer o que quiser e como eu quiser, além de passar essa visão”, diz Nic.
Cartas para o futuro
Como você será representado depois da pandemia? E é aí que surge a websérie “Cartas para o Futuro”. Com novos episódios quinzenais no instagram e no facebook da produtora Fluxo Imagens, a série vem chamando a atenção por ter um olhar original sobre personagens ainda esquecidos. “O ponto de partida para a série foi a nossa vivência e o olhar que temos para com a nossa quebrada, queríamos mostrar pessoas comuns, que não são retratadas nos meios grandes de comunicação, e como elas imaginam o futuro. E, para além dessas questões pessoais, a série ainda é um recado e um registro para quando sairmos dessa situação”, diz Max.
ONG – ResistEnem
Em meio a pandemia, surgiu o projeto ResistEnem com a vontade de ajudar alunos de escola pública a ingressarem no ensino superior, principalmente nesse momento em que muitos não estão conseguindo estudar. “A ideia inicial era ajudar os vestibulandos que foram prejudicados por conta da quarentena, em especial os alunos de escola pública que tiveram suas aulas suspensas” Norah Costa, coordenadora geral do projeto. Com mais de 130 voluntários, o ResistEnem hoje consegue contemplar todas as áreas de ensino do Enem, além de também oferecer suporte jurídico e psicopedagógico. No momento a ONG está em recesso mas vale apena apoiar divulgando essa ideia em suas redes.
Audino Vilão
Marcelo Marques, 18, estudante de história e talvez a maior novidade do momento no campo da filosofia. Você já tenha ouvido falar dele, mas certamente por seu apelido Audino Vilão. É um moleque chave, de bigode fino e cabelo na régua que tem ensinado sobre filosofia com dialeto da quebrada.
Podcast da PerifaCon
A 2ª temporada do podcast do PerifaCon voltou esse ano depois de um bom tempo offline. Derivado do maior evento geek de quebrada, o podcast aborda temas do universo nerd e pop discutido pela periferia, levantando pontes entre as quebradas e os centros. Vale muito o play!
HQ – Crianças Selvagens
Três crianças que por conta de desamores acabam indo morar na rua, e encontram afeto uns nos outros. Este é o enredo da HQ “Crianças Selvagens” do autor e ilustrador Gabú Brito que saiu pelo selo Narrativas Periféricas. Gabú conta que trabalhando no centro da cidade ele observava muitas crianças morando nas ruas, e durante o processo de criação elas foram moldando as histórias e até as características dos personagens. Essa narrativa periférica pode ser encontrada no site da Amazon ou da editora Mino.
Voz Ativa 2020, Dexter part. Djonga e Coruja BC1
No último dia 21 de agosto, Dexter simplesmente parou a internet dos rappers com a regravação de Voz Ativa, música originalmente lançada pelo Racionais MC’s em 1992. 28 anos depois a música ainda faz sentido na nossa sociedade, denunciando o sistema racista e preconceituoso da mesma forma como quando foi lançada nos anos 90.
15 anos Pagode da 27
No domingo, 30 de agosto no seu canal de youtube, o samba mais querido do extremo sul da capital de São Paulo, Pagode da 27, fez sua live de aniversário de 15 anos. Todos esperavam uma festa grandiosa, aquela aglomeração de respeito, mas a pandemia está aí e segundo Jefferson, um dos integrantes do grupo, “quem sabe quando tudo isso passar”. A live contou com artistas da região como Kimani Poeta, Fábio Ferreira Violino, Afeto na lata e o grupo Identidade Oculta. Bora deixar rolando na JBL churras de fim de ano?
Podcast Cama, Mesa e Trampo
Juntos a 13 anos, o rapper Rashid e a empresária Dani, falam sobre relacionamentos e trabalho de uma forma bem descontraída no podcast Cama, Mesa e Trampo, tudo isso gravado “em goma”. Além dos perrengues discutidos pelo casal, eles ainda dão dicas de séries e filmes para ver a dois. Ainda no seu segundo episódio você pode acompanhar novos episódios todas às quartas no seu player de podcast favorito.
Matheus Afori – Sincero demais
Matheus Afori, cantor de 21 e da região do Grajaú, São Paulo. Lançou seu último videoclipe da música “Sincero demais”. Bora apoiar o artista independente de quebrada?
HQ – O Inimigo Invisível
O Corre, coletivo do bairro do Grajaú, no extremo sul de São Paulo, lançou o zine “O Inimigo Invisível” no começo de outubro. É uma história em quadrinhos, na qual Jonas e sua irmã Joana se imaginam como super-heróis que precisam fazer vários corres para ajudar sua quebrada. A criação da HQ foi liderada por psicólogos, ilustradores e roteiristas com o objetivo de ajudar as crianças na periferia a sonhar, mesmo nesse momento de pandemia. Depois de uma parceria com o Sesc Interlagos e com outros serviços de assistência à família, a publicação começou a ser usada como material pedagógico para crianças e adolescentes da periferia. A obra também está disponível em audiolivro.
Mano Brown – Boogie Naipe
Desde o início de outubro deste ano, Mano Brown tem lançado uma série de vídeos para o seu disco solo, “Boogie Naipe”, em suas redes sociais e no canal de sua produtora, que também se chama Boogie Naipe, no YouTube. O ilustrador Alexandre De Maio é o responsável pelas animações, e já assinou nove clipes baseados nas faixas do álbum. Corre lá pra ver!
Marabu – Fundamento
Cria do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, Matheus Santos, vulgo Marabu, lançou em novembro o seu ultimo álbum “Fundamento”. Ele vem com tanta referencia ancestral, do movimento rap, da cena funk e da quebrada que não daria para listar em apenas um texto. O único problema desse disco é que ele acaba.
Podcast Empreende Aí Cast
Vai empreender? Então fica a dica o podcast Empreende Aí Cast, com oito episódios. Projeto realizado pela Empreende Aí, Escola de Negócios da Periferia para Periferia, em parceria com o Itaú Mulher Empreendedora e a International Finance Corporation (IFC), organismo do Grupo Banco Mundial. O programa convidou nomes notáveis da cultura empreendedora periférica como Eliane Dias, empresária à frente da carreira dos Racionais MC’s, Beatriz Santos, diretora executiva da Barkus Educacional e Michelle Fernandes, sócia proprietária da grife Boutique de Krioula.
Jovem Obrama – As Aventuras do Jovem Obama
A vida não tem roteiro, planejamos aqui e ali, mas é impossível sermos agentes do nosso próprio destino. Em resumo, essa vida louca nada mais é do que um conjunto de momentos imprevisíveis e aleatórios. E é com base neste conceito, que o MC Jovem Obama, lançou sua mixtape intitulada “As Aventuras do Jovem Obama”. Composta por sete faixas, o disco conta com as participações de diversos artistas da zona sul paulistana, mostrando mais uma vez a força musical da quebrada. Já a produção musical da obra, ficou por conta de Mano Judão (alter ego do MC).
L.N.T.C, UltimoHarriVivo, Eduardo Duetho – LHD (Life High Definition)
Disco com três faixas que remetem a um déjà vu para todos que conhecem o trio, L.N.T.C, UltimoHarriVivo, Eduardo Duetho, todos da zona sul de São Paulo, trás muitas referências, contexto africano, egpicio e muita vivências de rua a cada play.