‘Podem usar armas nas novelas, no cinema, por que falar disso na música é apologia?’, diz Dennis DJ
Muita coisa mudou desde que o Dennison de Lima Gomes resolveu se tornar o Dennis DJ. Cria de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, e trabalhando como produtor, MC e DJ, ele viu o funk surgir como o patinho feio dos ritmos da quebrada e se tornar um dos maiores movimentos culturais do Brasil.
Tocando em bailes desde a adolescência, Dennis foi responsável por vários hits no funk, como “Cerol na Mão”, do Bonde do Tigrão ao sucesso do “Jonathan da Nova Geração”, passando também por “Tô Tranquilão”,do MC Sapão,e o “Medley da Gaiola”, do MC Kevin o Chris, que chegou a atingir o número um do Top 50 “Viral Global”, do Spotify. É quase impossível você nunca ter ouvido uma música com a participação ou produzido por ele.
Aos 40 anos e tendo atingido a marca de um bilhão de visualizações em seu canal no YouTube, Dennis fala sobre criminalização do funk, família e futuro. Confira:
Quando decidiu seguir a carreira de DJ?
Eu tinha 12 anos e queria escrever rap e funk depois que eu comecei a ouvir no rádio esses ritmos. Em 1992, eu comecei a cantar e produzir as músicas que escrevia e, com 14 anos, eu já tocava e cantava em festinhas de aniversário no meu bairro. Aos 15, eu já estava em rádios comunitárias como DJ e, aos 16, realizei meu sonho de ir trabalhar na Furacão 2000, já como DJ e produtor musical.
Como era trabalhar na Furacão 2000?
Foi uma grande escola, porque ir trabalhar lá era um grande sonho. O DJ que eu me inspirava é um cara chamado Gran Master Rafael e ele era DJ da Furacão. Criei uma paixão pela empresa que fez com que o meu trabalho lá fosse um aprendizado. Eu tocava para 5.000 pessoas, coisa que eu nunca tinha feito, antes eu só tocava em festas eu não tocava em grandes eventos. Foi quando eu tive acesso também a bons equipamentos, quando eu pude ver como o mercado de DJ funcionava, foi um sonho realizado.
Quais foram as suas influências?
Eu sempre digo que é a música no geral, ela de qualquer forma, se fizer barulho já mexe comigo. Mas realmente, a minha influência são os miame bass da década de 1980. Os funk melody também, esse lado romântico e eu adoro até hoje, como Latino que foi o primeiro a fazer isso aqui no brasil, e o MC Marcinho também. Mas os miame bass eu realmente gostava e vejo que tem influenciado a mim e a música no brasil até hoje. Eu vejo que o trap foi muito influenciado por eles também.
Quais eram as maiores dificuldades no início do funk?
Eu tive vários inícios no funk. Na Furacão 2000, existia um mercado novo, as pessoas me perguntavam: mas você vai ser DJ? Mas isso é uma profissão? Era uma dúvida sobre isso. Como seria? Como eu ia me sustentar disso? Não tinha um reconhecimento de um trabalho digno, isso nos meus 16 anos. A questão dos equipamentos também era complicado, hoje temos equipamentos de R$ 200 a R$ 2000 reais, antigamente não era assim. Só Existiam os equipamentos tops não tinham intermediários. Outra coisa, hoje você “dá um google” e já aprende a mixar, trabalhar, eu não tive isso. Antigamente precisava pagar por um curso, e eu não tinha esse dinheiro, aprendi sozinho, na marra.
O preconceito que o movimento era visto era um problema também, achavam que o funk era para arrumar confusão, as pessoas não entendiam que era música de periferia. O início foi bem difícil.
Pensou em ser cantor de funk ao invés de produtor e DJ?
Como comentei no início sim, eu comecei tudo junto, escrevia aí eu mesmo cantava e gravava. Eu queria ser um MC mesmo, mas ao mesmo tempo eu gostava de produzir. Na verdade eu queria participar desse movimento não importava onde fosse.
Acha que o funk é mais criminalizado e criticado hoje, ou já tivemos períodos piores?
Era muito mais difícil, antes era muito mais criminalizado, e vai ser sempre complicado. O funk é um ritmo genuíno da favela, da comunidade, do pobre. E não adianta, as pessoas nunca entendem as letras do funk como arte. Algumas pessoas cobram muita coisa do funk e se esquecem que o problema não está na música, está na falta de educação dessas pessoas. Você cria seu filho ouvindo as músicas de Antônio Carlos Jobim, assistindo calçadão da praia, tudo lindo todos os dias e quando ele vê a realidade da comunidade, ele acha errado, criminoso. A quebrada fala da realidade da quebrada.
Qual sua opinião sobre as prisões recentes dos cantores?
Na novela você pode encenar com uma arma, no filme também, por que na música isso se torna apologia ao crime? O cara tá ali narrando uma verdade que ele vê, as pessoas que nunca nem subiram o morro não sabem como funciona e acaba tirando suas conclusões, criticando e falando que isso não é música.
O MC contar uma história real que existe vira funk proibidão, me mudei da comunidade mas tenho vários amigos que vivem essa realidade. As pessoas mal têm o que comer, imagina se vão gastar dinheiro em casas de shows, o baile que é gratuito se torna sua única diversão. E ainda precisam se preocupar com o que vão pensar com o que estão cantando. Isso está errado.
O que tem achado da evolução do funk no Brasil, principalmente o de São Paulo e Minas Gerais?
Eu entendo que a grande explosão do funk internacional vem daí, de não ter ficado só no Rio de Janeiro. Ele hoje aparece de formas diferentes em todos os estados no brasil, seja o brega funk, o arrocha funk, o funknejo, ou o funk consciente tudo isso eu vejo como uma grande manifestação popular com o bit do funk. E eu como DJ toco todas as vertentes que tiveram sua origem no funk, e fico muito feliz com toda essa evolução.
Já pensou se não fosse DJ?
Eu não consigo me imaginar não sendo DJ. Talvez eu tivesse tentado ser jogador de futebol, mas eu sou um péssimo jogador, então eu não consigo me ver fora da música popular brasileira, que é o funk.
Você tem uma filha, Tília Fialho de 17 anos que sempre aparece com você nas lives. Tem incentivado ela a seguir os seus passos?
Antes não incentivava, mas agora que ela começou a cantar eu disse: é isso o que você quer? Então você vai ter que estudar dia e noite agora, vai ter que ser a melhor. Fiz um estúdio de gravação no em um anexo do quarto dela e ela tem trabalhado bastante lá. Inclusive a música que ela fez com a MC Melody foi toda produzida por ela, eu só dei uns toques.
Qual seria o feat. dos seus sonhos?
Nossa, a lista é imensa, são tantos, pensando no mercado internacional eu tenho o sonho de fazer uma música com a Jennifer Lopez que sou fã, Rihana também. No Brasil, penso em Jorge e Mateus, Gustavo Lima no sertanejo. No funk sempre doi mais fácil, a gente sempre está gravando um com o outro, mas recentemente eu fiz recentemente a música com a Ludmila que a muito tempo eu estava querendo fazer. Na verdade o feat. dos sonhos é a próxima música.
Sua música em parceria com a Ludmilla e Xama tem se destacado cada vez mais nas plataformas. Qual o grande diferencial de “Deixa de onda”?
O diferencial dessa música é a sofrência do sertanejo na letra, é a alegria que vem no bit do funk, e a grande novidade hoje na música brasileira que usamos também, é o trap nacional. Quem é um ritmo que vem bem forte, e que eu acredito que ainda ainda vai se multiplicar muito mais
E qual o seu maior sonho, onde pretende chegar com a música?
Eu já realizei muitos sonhos sabe, um deles é poder trabalhar com a minha maior paixão que é a música. É um sonho que eu realizei há muito tempo graças a Deus, já são quase 24 anos de trabalho, de carreira como DJ. Hoje talvez penso mais em expandir os meus conhecimentos com outras pessoas, ou pessoinhas melhor dizendo, pegar uma nova geração e ajudar eles como não tive muita ajuda lá no passado. Poder ajudar a comunidade hoje, passar meu conhecimento para essas pessoas é um grande sonho que eu tenho, se eu tivesse isso no passado teria me ajudado muito.