Com participação de Marcelo D2, banda congolesa Jupiter & Okwess vai do jazz ao funk em seu novo álbum

Além de D2, Rogê é outro cantor brasileiro que participa do terceiro álbum da banda congolesa que chega acompanhado pela diversidade de ritmos

 

“Voltar para casa” é o significado de Na Kozonga, expressão africana que dá nome ao terceiro disco de estúdio da banda congolesa Jupiter & Okwess. Com participações de Marcelo D2, Rogê e outros artistas ao redor do mundo o grupo tenta “retomar da profundidade infinita da alma” como diz o vocalista Jupiter Bokondji.


A parceria com D2 veio de um encontro em Paris. “Quanto mais a gente consegue unir as nossas  culturas, mais elas se tornarão universais”, avalia o carioca. “Esse encontro vai influenciar tudo o que vem daqui pra frente na minha música”, ele conclui.

O vocalista da banda Jupiter ao lado de Marcelo D2 (Foto: Divulgação)

Cruzar essa rota criativa com o Brasil era algo inevitável para a banda congolesa, já que parte do entendimento de que viemos de uma mesma origem. “Não há como esquecer o passado tão facilmente. As pessoas do outro lado são nossos descendentes distantes”, explica o vocalista do conjunto formado por ele ao lado de Montana Kinunu (vocal e bateria), Yende Balamba (vocal e graves), Eric Malu-Malu-Muginda (vocal e guitarra), Richard Kabanga Kasonga (vocal e guitarra) e Blaise Sewika Boyite (vocal, guitarra e percussão).

Outra presença nacional em Na Kozonga é a do sambista carioca Rogê, na música “Bolingo”. A faixa foi revelada no ano passado, por meio de um EP homônimo que também trouxe mais duas participações que entraram no disco: a de Maiya Sykes (cantora americana que já trabalhou com Macy Gray, The Black Eyed Peas, Michael Bublé e na trilha do filme “La La Land”), em “Bakunda Ulu”; e do Preservation Hall Jazz Band – grupo que mantém vivo o tradicional jazz de New Orleans, nos Estados Unidos – em “Abalegele Gale”. Além das participações, o material também apresentou ao público “Izabela” e a faixa-título do disco, a última acompanhada por videoclipe.

Jazz, funk, rock e salsa são alguns dos gêneros que atravessam a tracklist do álbum composto por doze faixas. Misturados à diversidade musical congolesa– reflexo das mais de 400 etnias listadas pelo país– Jupiter e seus companheiros dão continuidade a seu “bofenia rock”, termo com o qual definem a própria sonoridade. “Tentamos explorar esses gêneros à nossa maneira”, contam sobre as distintas influências que formam Na Kozonga.

Nem mesmo a escolha do local para registrar o terceiro disco do grupo foi aleatória à intenção dos artistas de ressignificar trocas culturais entre diferentes etnias. A cidade de Los Angeles foi o palco para a gravação de Na Kozonga por ser vista como a mais latina no território estadunidense. A latinidade que o trabalho carrega também ganha vida em “You Sold Me A Dream”, parceria com a artista chilena Ana Tijoux que trata diretamente da sobrevivência aos impactos dos processos de colonização. A seleção de parcerias é complementada pelos riffs de guitarra do francês Yarol Poupaud, em “Jim Kata”, fechando a rota traçada entre África, América do Sul, América do Norte e Europa.

Apesar da densidade dos temas abordados, a enérgica construção sonora confere leveza e animação ao sucessor de Kin Sonic (2017)– segundo disco do conjunto que chegou a integrar a playlist do ex-presidente americano Barack Obama e o top 10 de discos daquele ano pelo The New York Times. O equilíbrio entre acontecimentos sombrios da humanidade e a vivacidade dos encontros musicais resumem a essência de Na Kozonga e mostram que a união intercontinental é o caminho para construir outra perspectiva de futuro. “Abordar temas relacionados aos problemas da sociedade, como a colonização, os problemas climáticos e ambientais, as injustiças sociais com ritmos emocionantes, nos permite curar as nossas almas nos libertando de todos estes males”, conclui Jupiter.