No mês da mulher negra, cinco artistas pretas para você conhecer

Falar das alegrias em ser uma artista negra não pode ser a exceção, tem que ser a regra. Para finalizar o mês da Mulher Negra Latino-Americana reunimos cinco depoimentos de cantoras negras sobre seus trabalhos, inspirações, vivencias e como suas obras impactam na cultura preta brasileira.

Na lista, a cantora Indy Naíse comenta sobre a valorização do afeto da mulher preta e sua autoestima, já a artista Bruna Black fala sobre as compositoras negras na música.

Yasmin Olí lembra do prazer de trabalhar com uma equipe só de mulheres,  a MC Taya fala da importância que as tendências de moda feitas por mulheres pretas tem no mundo. Finalizando os depoimentos, a cantora Nina Oliveira lembra de Dandara, uma guerreira no período colonial brasileiro, e como ela acredita que toda mulher preta se sente um pouco representada por ela. Confira a seguir os depoimentos.

A cantora Indy Naíse (Foto: Vitor Manon)

Indy Naíse
Meu último trabalho, o EP visual “Esse é sobre você”, fala sobre afeto entre pessoas pretas, não só na perspectiva do romantismo, faço uma reflexão sobre os relacionamentos afetivos entre duas pessoas. Além disso, celebro a autossuficiência e a autoestima das mulheres negras. Principalmente porque nós crescemos com lacunas que não são preenchidas por conta do racismo. Então, quando trago isso é para nos olharmos enquanto mulheres pretas e nos valorizarmos. Antes de estarmos com outra pessoa, precisamos estar bem com nós mesmas. Quis trazer esse tema, para que as mulheres pretas soubessem que elas precisam estar bem com elas mesmas antes de qualquer outra coisa. Elas precisam ser o seu próprio alicerce, ser sua maior segurança e sua maior fonte de afeto.

 

Bruna Black durante show com o duo ÀVUÀ (Foto: Sergio Fernandes)

Bruna Black
Eu costumo celebrar em alguns trabalhos a existência das mulheres negras, principalmente como compositoras. É nítido o apagamento e a desvalorização das mulheres no meio musical. Basta ver os festivais! Observo que na maioria das vezes, mulheres só entram em evidência em meses temáticos, e como compositoras é ainda mais difícil. 

Antigamente, nosso espaço na música se resumia somente ao microfone –o que não é pouca coisa, já que antigamente que ser cantora não era visto como profissão, muito pelo contrário, ainda era sinônimo de vadiagem.

De uns tempos para cá, viemos nos libertando, alcançando visibilidade, e não só na figura de intérprete. E falando de mulher preta: não somos apenas “a cara do samba”. 

Podemos compor sobre nossas vivências, dores, amores, paqueras, sobre rebolar, ou seja, lá o que for. Gênero não rebaixa a potência de nenhuma obra. Celebro com a minha arte todas as mulheres negras que expressam sua verdade,  sentimento, dom e trabalho através de suas composições.

A cantora Yasmin Olí (Foto: Bruno Fragma)

Yasmin Olí
Recentemente tive o prazer de fazer alguns trabalhos com uma equipe majoritariamente feminina. O que mais me marcou, foi tocar num trio elétrico acompanhando o grupo “As Baías“, com uma banda repleta de mulheres negras –Pensa num time bonito!

É sempre incrível encontrar pretinhas nos meus trabalhos. Faço questão de garantir a presença de mulheres pretas nas minhas obras, pois mesmo com alguns avanços, sei o quanto o mercado nos deixa de escanteio. Penso que celebrar nossa existência, fazemos isso quando homenageamos, reconhecemos e apoiamos mulheres negras. Um simples gesto de ouvir e amplificar vozes de pessoas pretas, ajuda. Temos muito a dizer.

A cantora MC Taya (Foto: Divulgação )

MC Taya
Em tudo o que eu me envolvo é para enaltecer as outras mulheres, dar acesso às informações e empoderar as mulheres negras. Seja música, comunicação ou moda eu intercalo e junto tudo no meu trabalho. Meu single “Preta Patrícia”,  eu considero como a minha maior obra, ela enaltecendo a mulher negra e esse novo movimento de mulheres negras “as pretas patrícias” sendo a nova geração de ascensão das mulheres negras. E quando falo de ascensão, vem também a questão material, financeira e intelectual como o acesso à faculdade, a cargos melhores de trabalho, à informação e à ascensão estética. Isso se refere a estarmos nos cuidando da forma que somos naturalmente: nossos cabelos, pele, o tom da nossa pele, os nossos traços. Precisamos estar cada vez mais confortável com nossos fenótipos negros. 

Procuro em meus trabalhos na internet dar acesso e informar as mulheres negras sobre a origem das coisas que outras mulheres negras popularizam até virarem tendências. Elementos estéticos que mulheres negras popularizaram ou criaram e agora são inspiram o mundo. Mesmo que tenham passado pela marginalização e  criminalização essas tendencias de moda vestem mulheres de todas as raças.

Basicamente esse é meu trabalho, construir um legado na moda, na música e tirar a mulher negra de dentro de caixas e coloca-las aonde elas quiserem e, a partir disso, mostrar para elas que é possível.

A cantora Nina Oliveira em apresentação no Sofar Sounds São Paulo (Foto: Divulgação)

Nina Oliveira
De todos os meus lançamentos, Dandara é a música que mais celebra a existência de mulheres pretas. Lancei essa música em 2017, e fico muito feliz com tudo o que ela carrega: A importância de reavivar a memória da existência de Dandara, mas também o retrato que essa música faz de nossa força e sensibilidade. Penso que toda mulher preta é um pouco Dandara em algum lugar.